Archive for Março, 2005
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XVI)
“L’occitan, qu’es aquò?:
L’occitan e leis autrei lengas latinas
L’occitan es la lenga que se desvolopèt en Occitània, deis Aups a l’Ocean, dei Pirenèus au Lemosin, mentre que lo francés se desvolopava dins lei planas dau nòrd de França, de Touraine a la Valonia. Aquesta lenga es caracterisada per fòrça ponchs en comun ambé lei lengas vesinas au sud (especialament lo catalan), e partatja ambé lo francés que la disparicion de la terminason – o dau masculin (encara d’usatge en italian e en espanhòu per exemple).
L’Edat Mejana
L’occitan foguèt una dei promièras lengas literàrias en Euròpa. Ai sègles XIIen e XIIIen, èra la lenga de la poësia fins qu’en Anglatèrra, Alemanha, Itàlia e Portugau. Aquela renomada èra deguda a la riquesa de la poësia dei trobadors (mòt occitan que vòu dire “trobaire” de frasas bèlas e bònas), que suscitèron un molon d’adèptes dins l’Euròpa tota d’aqueu temps. Èra la lenga dei corts de Provença, d’Aquitània, de Lemosin, de Lengadòc e de Barcelona.
Après lo sègle XVIen
Fins qu’au sègle XVIen, l’occitan demorèt lenga d’administracion en parallèl ambé lo latin. Es ambé l’Edit de Villers-Côtterets, en 1539, que sortirà de l’usatge escrich, per lo tornar trobar qu’a la mitat dau sègle XIXen. Dins lo periòde que va dau sègle XVIen au sègle XIXen, l’occitan demorèt la lenga de cada jorn de la populacion. Mai lo ròlle de liame entre lei diferentas regions que la lenga de l’administracion jogava aviá disparegut, de diferéncias regionalas comencèron de se cavar, per arribar uei ai sièis grands dialèctes que son lo Provençau, lo Vivaro-Aupin, lo Lengadocian, lo Gascon, l’Auvernhàs e lo Lemosin.
Renaissença
Au sègle XIXen, quand dins l’Euròpa tota, leis identitats popularas commencèron de se voler exprimir, l’occitan conoguèt una renaisséncia literària. Fau mencionar per aquela epòca lo grand escrivan provençau, Frederic Mistral, Prèmi Nobel de Literatura per son òbra en occitan. De mai participèt a la creacion d’una escòla, lo Felibritge, qu’aguèt lo meriti de provesir un trabalh important sus la lenga d’aquela epòca (diccionnari) e d’inventar una faiçon d’escriure l’occitan, per remplaçar la notacion tradicionala de l’Edat Mejana qu’èra estada perduda despuei lo sègle XVIen. Fau pas oblidar tanpauc Aubanèl, Romanilha, Gelu en Provença, Jansemin a Agen, Mir a Carcassona, Palai a Pau, Besson en Roèrgue, etc…”
Artigo de Cristòu Stecòli et Matiàs Vandembòs
(continua…)
[2156]
KENENISA BEKELE – "O FENÓMENO"
O “Fenómeno” continua imbatível!
Aos 22 anos, o etíope Kenenisa Bekele disputou este fim-de-semana os seus 4º Campeonatos do Mundo de Cross Curto (4 km) e de Cross Longo (12 km).
Absolutamente imparável, Bekele conquistou no Sábado o seu 4º título de Campeão Mundial de Cross Curto e, hoje, o seu 4º título de Campeão Mundial de Cross Longo.
8 provas disputadas, 8 vezes Campeão do Mundo!
Até onde irá Kenenisa?
P. S. A selecção feminina portuguesa conquistou uma meritória medalha de bronze (3º lugar colectivo) na prova de Cross Longo.
[2155]
REVISTA DA SEMANA
Visão (17 Março)
“Mais de metade do País em seca extrema – Cerca de 60% do território de Portugal continental está em situação de seca extrema, devido a um agravamento da situação nos últimos quinze dias. Dados do Instituto da Água indicam que os problemas no abastecimento público já afectam mais de 5 mil pessoas.
Fátima Felgueiras no banco dos réus – O Tribunal de Guimarães decidiu quinta-feira que a presidente da Câmara de Felgueiras deverá ser julgada por 23 crimes, a maioria de corrupção, no âmbito do processo do «saco azul». Fátima Felgueiras, que se encontra no Brasil, já garantiu que tenciona regressar a Portugal para o julgamento.
Provedora fala em orgias na década de 80 – Na sessão de sexta-feira do julgamento do processo Casa Pia, Catalina Pestana, contou em Tribunal uma conversa com uma ex-aluna que lhe relatou festas de cariz sexual com adultos na década de 80, das quais há fotografias e filmes.
Validação das contas de 2004 pendente – A Comissão Europeia esclarece que não validou o reporte das contas portuguesas relativas a 2004, apesar de Portugal não integrar a lista de países que o Eurostat diz terem «impedimentos à validação» dos dados.”
[2154]
GRANDE PRÉMIO DA MALÁSIA F1
1º Fernando Alonso – Renault – 1:31:33.736 – 10 pt.
2º Jarno Trulli – Toyota – +24.3 – 8 pt.
3º Nick Heidfeld – Williams-BMW – +32.1 – 6 pt.
4º Juan Pablo Montoya – McLaren-Mercedes – +41.6 – 5 pt.
5º Ralf Schumacher – Toyota – +51.8 – 4 pt.
6º David Coulthard – Red Bull Racing – + 1:12.5 – 3 pt.
7º Michael Schumacher – Ferrari – + 1:19.9 – 2 pt.
8º Christian Klien – Red Bull Racing – + 1:20.8 – 1 pt.
9º Kimi Räikkönen – McLaren-Mercedes – + 1:21.5
10º Felipe Massa – Sauber-Petronas – a 1 volta
11º Narain Karthikeyan – Jordan-Toyota – a 2 voltas
12º Tiago Monteiro – Jordan-Toyota – a 3 voltas
13º Christijan Albers – Minardi-Cosworth – a 4 voltas
Rubens Barrichello – Ferrari – Desistência à 49ª volta
Giancarlo Fisichella – Renault – Desistência à 36ª volta
Mark Webber – Williams-BMW – Desistência à 36ª volta
Jacques Villeneuve – Sauber-Petronas – Desistência à 26ª volta
Jenson Button – BAR-Honda – Desistência à 2ª volta
Anthony Davidson – BAR-Honda – Desistência à 2ª volta
Patrick Friesacher – Minardi-Cosworth – Desistência à 2ª volta
Classificação Campeonato Mundo Pilotos
1º Fernando Alonso – Renault – 16
2º Giancarlo Fisichella – Renault – 10
3º Jarno Trulli – Toyota – 8
3º Rubens Barrichello – Ferrari – 8
5º David Coulthard – Red Bull Racing – 8
5º Juan Pablo Montoya – McLaren-Mercedes – 8
7º Nick Heidfeld – Williams-BMW – 6
8º Ralf Schumacher – Toyota – 4
8º Mark Webber – Williams-BMW – 4
10º Christian Klien – Red Bull Racing – 3
11º Michael Schumacher – Ferrari – 2
12º Kimi Räikkönen – McLaren-Mercedes – 1
Classificação Campeonato Mundo Construtores
1º Renault – 26
2º Toyota – 12
3º Red Bull Racing – 11
4º Ferrari – 10
5º Williams-BMW – 10
6º McLaren-Mercedes – 9
[2153]
ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
Portugal não pode viver em constante campanha eleitoral.
Desde Julho do ano passado (já há 9 meses!) que vivemos neste ambiente de permanente campanha, com o desgaste que tal provoca… e, pior que isso, com o país “suspenso”, até praticamente “paralisado”.
Porém, por constrangimentos da agenda eleitoral, vamos ter eleições autárquicas em Outubro e, pouco depois, no início de 2006, eleições presidenciais.
Depois do regresso de Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa, começam a surgir novos indícios, de que aspirará a recandidatar-se.
Também Lisboa precisa de novas políticas e de uma nova gestão.
Já aqui o deixei expresso: a minha preferência para a futura liderança da Câmara de Lisboa; um homem com ideias para o futuro de Lisboa e com obra feita.
E, porque as “lutas” só são perdidas se não forem disputadas, sinto-me no dever de apelar mais uma vez a que se escolha as pessoas mais capazes, independentemente da sua maior ou menor militância política.
Nesse sentido, a sondagem que o Expresso publica hoje não deixa de constituir um bom indício: é (surpreendentemente) curta a diferença que separa Mega Ferreira (26 % de preferências), de Ferro Rodrigues (29 %) e Manuel Maria Carrilho (30 %), os outros dois putativos candidatos socialistas.
Ora, se Mega Ferreira, sem qualquer “campanha”, sem facções de seguidores no interior do partido, tem esta projecção, não serão estes “bons sinais”?
(Voltarei ao tema durante a semana).
[2152]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (X)
“Tinham dentro muitos esteios e d’esteio a, esteio uma rede, atada pelo cabos em cada esteio, altas, em que dormiam, e, debaixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma em um cabo e outra no outro. E diziam que, em cada casa, se acolhiam trinta ou quarenta pessoas e que assim os achavam e que lhes davam de comer daquela vianda que eles tinham, a saber: muito inhame e outras sementes, que na terra há, que eles comem.
E, como foi tarde, fizeram-nos logo todos tornar e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo eles diziam, queriam-se vir com eles. Resgataram lá por cascavéis e por outras cousinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos muito grandes e formosos e dous verdes, pequeninos e carapuças de penas verdes e um pano de penas de muitas cores, maneira de tecido assás formoso, segundo Vossa Alteza todas estas cousas verá, porque o capitão mandar, segundo ele disse. E, com isto, vieram. E nós tornámo-nos às naus.
À terça-feira, depois de comer, foi-nos em terra dar guarda de lenha e lavar roupa. Estavam na praia, quando chegámos, obra de sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegámos, vieram-se logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto connosco, que nos ajudavam deles a acarretar lenha e meter nos batéis e lutavam com os nossos e tomavam muito prazer.
E, enquanto nós fazíamos a lenha, faziam dous carpinteiros uma grande cruz dum pau que se ontem para isso cortou. Muitos deles vinham ali estar com. os carpinteiros e creio que o faziam mais por verem a ferramenta de ferro, com que a faziam, que por verem a cruz, porque eles não têm cousa que de ferro seja e cortam sua madeira e paus com cunhas, metidas em um pau, entre duas talas mui bem apertadas e por tal maneira, que andam fortes segundo os homens, que ontem a suas casas foram diziam, porque lhas viram lá.
Era já a conversação deles connosco tanta, que quase nos torvavam ao que havíamos de fazer. E o capitão mandou a dous degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e a outras, se houvessem delas novas, e que, em toda maneira, não se viessem a dormir às naus, ainda que os eles mandassem. E assim se foram.
Enquanto andávamos nesta mata, a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios por essas árvores, deles verdes e outros pardos, grandes e pequenos, de maneira que me parece que haverá nesta terra muitos, mas eu não veria mais que até nove ou dez. Outras aves, então, não vimos; somente algumas pombas seixas e pareceram-me maiores, em boa quantidade, que as de Portugal. Alguns diziam que viram rolas, mas eu não as vi, mas, segundo os arvoredos são mui muitos, e grandes e d’infindas maneiras, não duvido que por esse sertão haja muitas aves. E acerca da noute nos volvemos para as naus com nossa lenha.”
[2151]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XV)
“Situacion legala de l’occitan
La situacion de reconeissença legala de la lenga occitana es pas la meteissa dins los tres païses que s’i parla. Se nòta que dins sa part màger (francesa), l’occitan es essencialament ignorat per las autoritats quand de situacions plan mai interessantas se tròban delà las frontièras.
En Espanha (Val d’Aran), l’occitan es lenga oficiala, a egalitat amb lo catalan e l’espanhòu. Es lo parlar aranés, dau dialècte gascon que fan servir. Los documents oficiaus, la senhalizacion i son en occitan. La lenga es ensenhada dins las escòlas coma lenga d’ensenhament. Las autoritats publicas sostenon la lenga en favorizant la premsa e l’edicion.
En Itàlia, l’occitan a obtengut dins l’annada 1999 un estatut que programa una normalizacion similària a çò desvolopat dins la Val d’Aran espanhòla. Mas cau encara esperar las leis que se metan en plaça.
En França, l’occitan es considerat coma “lenga regionala”. Amb aqueste estatut, pòt (mas deu pas) èsser ensenhat dins los establiments escolaris. Mas cau saber que l’administracion es sovent ostila, e que de mai las lei son ambigüas e contradictòrias – notadament l’article 2 de la constitucion modificat en 1992 per i apondre que sol lo francés es la lenga de la republica francesa. Tot çò mai es desvolopat sus de basis associativas o privadas (rare).”
Transcrição em provençal (grafia clássica ou occitana) dos artigos 1, 3, 4 e 5 da Declaração Universal dos Direitos do Homem:
“1. Totei leis umans nàisson libres. Son egaus per la dignitat e lei drechs. An totei una reson e una consciència. Se dèvon tenir freirenaus leis uns ‘mé leis autres.
3. Cada persona a drech a la vida, a la libertat, e a la seguretat.
4. Degun sarà sotmés a l’esclavituda ò a la servituda. Es enebit en plen de tenir d’esclaus ò de n’en faire comèrci.
5. Degun sarà sotmés a la tortura ni mai a de penas ò de tractaments crudèus, inumans ò desgradants.”
(Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 3°
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão e o tráfico de escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a pena de morte ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.)
[2150]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (IX)
“E isto me faz presumir que não têm casas nem moradas em que se acolham. E o ar, a que se criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora não vimos nenhumas casas nem maneira delas. Mandou o capitão àquele degradado, Afonso Ribeiro, que se fosse outra vez com eles, o qual se foi e andou lá um bom pedaço.
E à tarde tornou-se, que o fizeram eles vir e não o quiseram lá consentir. E deram-lhe arcos e setas e não lho tomaram nenhuma cousa do seu. Antes disse ele que lhe tomara um deles umas continhas amarelas que ele levava e fugia com elas e ele se queixou e os outros foram logo após ele e lhas tomaram e tornaram-lhas a dar. E então mandaram-no vir.
Disse ele que não vira lá entre eles senão umas choupaninhas de rama verde e de fetos muito grandes, como d’Entre Doiro e Minho. E assim nos tornámos às naus, já quase noite, a dormir.
À segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos, mas não tantos como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos e estiveram assim um pouco afastados de nós. E despois, poucos e poucos, misturavam-se connosco e abraçavam-nos e folgavam e alguns deles se esquivavam logo.
Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha velha e por qualquer cousa. E em tal maneira se passou a cousa, que bem vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles, onde muitos deles estavam com moças e mulheres e trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas d’aves, deles verdes e deles amarelos, de que creio que o capitão há-de mandar amostra a Vossa Alteza.
E, segundo diziam esses que lá foram, folgavam com eles. Neste dia os vimos de mais perto e mais à nossa vontade, por andarmos todos quase misturados, e ali deles andavam daquelas tinturas quartejados, outros de metades, outros de tanta feição, como em panos d’armar, e todos com os beiços furados e muitos com os ossos neles e deles sem ossos. Traziam alguns deles uns ouriços verdes d’árvores que, na cor, queriam parecer de castanheiros, senão quanto eram mais e mais pequenos.
E aqueles eram cheios, d’uns grãos vermelhos pequenos, que, esmagando-os entre os dedos, faziam tintura multo vermelha de que eles andavam tintos. E quanto mais se molhavam tanto mais vermelhos ficavam. Todos andam rapados até cima das orelhas e assim as sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas da tintura preta que parece uma fita preta, ancha de dous dedos.
E o capitão mandou àquele degradado Afonso Ribeiro e a outros dous degradados, que fossem andar lá entre eles, e assim a Diogo Dias, por ser homem ledo, com que eles folgavam. E aos degradados, mandou que ficassem lá esta noute. Foram-se lá todos e andaram entre eles e, segundo eles diziam, foram, bem uma légua e meia a uma povoação de casas, em que haveria nove ou dez casas, as quais, diziam que eram tão compridas cada uma como esta nau capitania. E eram de madeira, e das ilhargas, de tábuas, e cobertas de palha; de razoada altura e todas em uma só casa, sem nenhum repartimento.”
[2149]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XIV)
Situação legal do Occitano
A situação de reconhecimento legal da língua occitana não é igual nos três países em que é falada. Pode notar-se que na sua parte mais importante (francesa), o Occitano é essencialmente ignorado pelas autoridades, encontrando-se situações bem mais abertas e interessantes fora das suas fronteiras.
Em Espanha (Val d’Aran), o Occitano é língua oficial, com estatuto de paridade com o Catalão e o Castelhano, sendo o arenês o dialecto gascão utilizado. Os documentos oficiais e a sinalização são em Occitano. A língua está presente nas escolas como língua de ensino. As autoridades públicas apoiam a língua, favorecendo a imprensa e a edição.
Em Itália, o Occitano obteve em 1999 um estatuto que programa uma normalização similar à que se encontra no Val d’Aran espanhol. Mas será ainda necessário esperar que a aplicação das leis venha a ter efeitos em termos práticos.
Em França, o Occitano é considerado como uma “língua regional”. Com este estatuto, pode (sem ser obrigatório) ser ensinado nos estabelecimentos escolares. Mas deve notar-se que a administração é muitas vezes hostil, e que as leis são aliás ambíguas e contraditórias – nomeadamente o artigo 2 da Constituição modificada em 1992 para acrescentar que apenas o francês é a língua da República Francesa. Para além das aulas opcionais na educação nacional, tudo o resto em França é desenvolvido por bases associativas ou privadas (mais raramente).
(pode ler amanhã este texto em Occitano!)
[2148]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VIII)
“E despois moveu o capitão para cima, ao longo do rio, que anda sempre a carão da praia, e ali esperou um velho que trazia na mão uma pá d’almadia. Falou, estando o capitão com ele perante todos nós, sem o nunca ninguém entender nem ele a nós, quanto a cousas que lhe homem perguntava d’ouro, que nós desejávamos saber se o havia na terra. Trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia pelo furado um grande dedo polegar.
E trazia metido no furado uma pedra verde, ruim, que çarrava por fora aquele buraco. E o capitão lha fez tirar e ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do capitão para lha meter. Estivemos sobre isso um pouco rindo então enfadou-se o capitão e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho, não, por ela valer alguma cousa, mas por mostra.
E despois, a houve o capitão creio para com as outras cousas a mandar a Vossa Alteza. Andámos por aí vendo a ribeira, a qual é de muita água e muito boa. Ao longo dela há muitas palmas, não muito altas, em que há muito bons palmitos. Colhemos e comemos deles muitos. Então tornou-se o capitão para baixo, para a boca do rio, onde desembarcámos.
E além do rio andavam muitos deles, dançando e folgando uns ante outros, sem se tomarem pelas mãos, e faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém que é homem gracioso e de prazer, e levou consigo um gaiteiro nosso, com sua gaita, e meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos. E eles folgavam e riam e andavam com ele mui bem, ao som da gaita. Despois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito.
E, conquanto os com aquilo muito segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como monteses. E foram-se para cima. E então o capitão passou o rio com todos nós outros e fomos pela praia, de longo, indo os batéis assim a carão de terra. E fomos até uma lagoa grande d’água doce, que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai água por muitos lugares.
E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles andar entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou e levava-lho e lançou-o na praia. Abasta (que até aqui, como quer que se eles em alguma parte amansassem, logo duma mão para a outra se esquivavam, como pardais de cevadoiro, e homem não lhes ousa falar de rijo por se mais não esquivarem.
E tudo se passa como eles querem por os bem amansar. Ao velho, com que o capitão falou, deu uma carapuça vermelha e com toda a fala, que com ele passou, e com a carapuça, que lhe deu, tanto que se espediu, que começou de passar o rio, foi-se logo recatando e não quis mais tornar do rio para aquém.
Os outros dous, que o capitão teve nas naus, a que deu o que já dito é, nunca aqui mais apareceram, de que tiro ser gente bestial e de pouco saber e por isso são assim esquivos. Eles, porém, com tudo, andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser.”
[2147]



