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O meu cão (2005-2022)
17 anos de lealdade incondicional. Adeus, fiel companheiro.
(Como isto custa, caramba!).
Recupero o texto a que deu mote, publicado em 2011:
Hoje deu-me para aqui.
Para filosofar.
O que pensará o meu cão da vida dos donos, dos humanos em geral?
Porque correm tanto? (Parecem sempre tão apressados… Não deixara de reparar já que, com frequência, carregam num botão de uma engrenagem – da qual saem as pessoas quando vêm visitá-lo, e em que costuma andar, quando vai à rua passear os donos – que, fechando a porta mais depressa, permite ganhar uns preciosos dois segundos nos seus percursos). Para onde? Para quê?
Costumam sair cedo pela manhã (todos os dias ouve a bebé dos vizinhos), só voltam no final da tarde, às vezes já noite. O que andarão a fazer?
Estranha forma de vida a dos humanos. Parece não lhes bastar ter comida e água na gamela, receber festas dos donos, ir passear… de vez em quando receber uns biscoitos.
Para além de ter já escutado por várias vezes – também naquela espécie de caixa fininha que os donos têm na sala, onde por vezes aparecem uns cães, estranhamente sem cheiro –, diversas pessoas falar com bastante entusiasmo do seu trabalho, e da carreira (para dizer a verdade, não percebeu muito bem se, realmente, o que as excitava mais não seria uma coisa a que chamam dinheiro, que os parece fazer salivar como quando recebe um osso novo – para que o quererão tanto? Para fazer uma grande pilha com ele? Aquilo parecia-lhe só papel, sem um interesse por aí além), ultimamente ouvia, cada vez com maior insistência, falar em ser famoso ou em ter poder. O que seria “ter poder”? Para que lhes serviria?
Bastante mais raramente ouvia falar de humanos que, aparentemente, não se preocupando tanto com o tal “dinheiro” ou “poder”, iam atrás dos seus sonhos e deles faziam o seu ideal de vida (vinha-lhe à memória um nome de que tinha ouvido o dono falar, um tal de João Garcia, que parece que andou a subir a todas as grandes montanhas do mundo… oh, como ele gostaria também de subir às montanhas!).
E, ainda menos, de outros humanos que dedicavam uma parte da sua vida a ajudar outros, que precisavam muito. Lembrava-se vagamente de ter ouvido falar de alguns que iam para bastante longe (muito mais do que os passeios a que estava habituado!), para Moçambique, prestar assistência em escolas ou hospitais, ou para o Cambodja, criar uma empresa que dava trabalho e pagava salários justos a mulheres muito pobres.
Provavelmente, tinha andado distraído, ocupado com a sua nova bolinha. Tinha de passar a prestar mais atenção!
(texto escrito para publicação no Delito de Opinião, acedendo ao gentil convite de Pedro Correia, a quem agradeço a oportunidade)
João Noronha Lopes
Completei, este ano, 30 anos de sócio do Benfica. Por um Benfica “que voa mais alto”, para um novo rumo, e pela recuperação da credibilidade e dos princípios, o meu voto amanhã, é, obviamente, na equipa liderada por João Noronha Lopes!
Relevância da imprensa regional, nos 30 anos de “O Templário”
Optimista
Podia fazer aqui uma espécie de “pot-pourri” de temas que mais me interessam: desde a “Memória”, em termos gerais, a Tomar, mais em particular; do presente e futuro do jornalismo às perspectivas sombrias que assolam a Europa; da questão dos refugiados e das migrações às incertezas sobre as saídas profissionais dos nossos filhos (a tal geração mais qualificada de sempre); em termos pessoais, do indelével elo que, desde há cerca de quatro anos, estabeleci com a Bulgária, o país mais pobre da União, onde a extrema-direita racista chegou recentemente ao poder, tendo sob mira as minorias turca e cigana, segregadas e cada vez mais intoleradas.
Enquanto “coleccionador de histórias”, podia também recordar um episódio com contornos caricatos, que, em 1998, vivi em Bissau: o de, durante a semana, ver toda a gente a olhar para a lua, procurando antecipar o início do Ramadão – e consequente dia feriado –, que, tendo chegado precisamente na sexta-feira, me impediu de confirmar o voo de regresso, numa altura em que a ligação aérea Bissau-Lisboa estava completamente lotada e a duração da reserva no hotel tinha entretanto chegado ao fim, tal como o dinheiro de que dispunha para a missão…
Eu, que me vejo, não propriamente pessimista, mas, de forma geral, mais realista, optei, porém, por deixar aqui de lado as magnas preocupações que nos envolvem nestes dias cinzentos – por outros, bastante mais abalizados para versar estes assuntos, amiúde abordadas –, preferindo expressar, por um prisma positivo, uma outra grande paixão, como é a do desporto.
E, sobretudo, o exemplo que nos é apontado por aquele que será, porventura, o maior desportista mundial de todos os tempos, especialmente na medida em que é praticante de uma modalidade individual, em que um encontro pode chegar a durar até três ou mais horas.
Reunindo características únicas de carisma e virtuosidade, talento e versatilidade, combinando estética e técnica, empenho e profissionalismo, humildade e respeito (pelos adversários e pelo público), numa longeva carreira de mais de vinte anos, praticamente sempre ao mais alto nível – cumprem-se agora precisamente 15 anos sobre a primeira das suas vinte vitórias em torneios do “Grand Slam”, em Wimbledon –, Roger Federer conta quase uma centena de competições ganhas, com mais de 300 semanas como n.º 1 do ranking mundial, somando cinco estatuetas dos “Óscares do desporto”, os prémios Laureus, sendo, paralelamente, o atleta que maiores proventos alcançou em toda a história no decurso da sua actividade desportiva.
Roger Federer: a sua primeira grande vitória ocorreu faz hoje 15 anos
Logo em 2003 criou a “Roger Federer Foundation”, visando apoiar crianças carenciadas e promover o seu acesso à instrução e ao desporto, intervindo fundamentalmente na região da África Austral (África do Sul, Botswana, Malawi, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe), propondo-se agora abranger, num horizonte de curto prazo, um milhão de crianças!
Ora – sendo a publicidade a “força motriz” que faz girar o mundo –, depois de mais de vinte anos como rosto da Nike, prestes a completar 37 anos de idade, o suíço aceitou passar a ser o “embaixador”, a âncora maior de divulgação, da marca japonesa de roupa UNIQLO (acrónimo para a denominação inicial de Unique Clothing Warehouse), fundada em 1984 por Tadashi Yanai, no seu trilho para se tornar uma marca global – procurando desde já notabilizar-se, gerando “buzz” ainda antes que a maior montra desportiva do planeta, os Jogos Olímpicos de 2020, chegue ao Japão –, visando suplantar gigantes mundiais como a Inditex e a H&M, tendo como ambicioso objectivo atingir, já nesse ano de 2020, os 50.000 milhões de dólares de facturação!
Percebe-se, assim, como será possível pagar a Federer – o maior “avalista” de imagens de marca do mundo, representante, entre outras, das luxuosas Rolex, Mercedes-Benz ou Moët & Chandon (só Cristiano Ronaldo e LeBron James estarão, actualmente, na sua faixa de honorários) – cerca de 300 milhões de dólares, por um contrato de dez anos (independentemente do previsto termo de carreira a curto/médio prazo) – o qual, em termos comparativos, e para se percepcionar melhor o que está em causa, acumulou, ao longo de todo o seu trajecto profissional de mais de vinte anos, um montante global de cerca de 116 milhões de dólares em prémios.
Nas palavras de Tadashi Yanai, ao anunciar esta extraordinária parceria: «Compartilhamos uma meta de operar mudanças positivas no mundo, e espero que, juntos, possamos proporcionar a mais alta qualidade de vida para o maior número de pessoas».
Ao que o grande campeão retorquiu: «Estou profundamente implicado com o ténis e com o triunfo em competições. Mas, tal como a UNIQLO, também tenho grande amor pela vida, cultura e humanidade. Partilhamos uma forte paixão por ter um impacto positivo no mundo em nosso redor, ansiando por conjugar os nossos esforços criativos».
Sem ignorar que, para a empresa, antes de preocupações a nível da sua responsabilidade social, importará, em primeira instância, o lucro – aliás, como condição determinante para a sua própria perenidade –, quero crer que não terão sido em vão as palavras de Yanai, assim como, da parte de Federer – que nem sequer teria a possibilidade física de usar em “proveito próprio” o imenso pecúlio já antes angariado (estimado em mais de 500 milhões de dólares) –, os seus actos no passado constituirão um bom garante do compromisso agora novamente expresso.
Continuo optimista que, à nossa ínfima escala individual, procurando replicar o seu exemplo, seremos capazes, cada um, de dar também pequenos contributos para uma sociedade menos desequilibrada, e, principalmente, mais solidária.
(texto escrito para publicação no Delito de Opinião, acedendo ao gentil convite de Pedro Correia, a quem agradeço a oportunidade)
Memória Virtual – 15 anos
Há quinze anos nascia este blogue…