Posts tagged ‘Van Gogh’
VAN GOGH – "RETRATO DO DR. GACHET"
“Encontrei em Gachet um verdadeiro amigo“, escreveu van Gogh numa carta à irmã, “quase como um irmão“.
Não se trata de um retrato por semelhança “fotográfica”, mas sim de uma imagem impetuosa, recorrendo à cor como meio de expressão e como forma de engrandecer o carácter, procurando penetrar psicologicamente para revelar a alma do retratado.
Dizia o próprio van Gogh: “Estou a trabalhar no seu retrato; usa um boné branco, é muito loiro, muito claro, mesmo a pele das suas mãos é muito rosada; veste um casaco azul; o fundo é azul-cobalto; está apoiado numa mesa vermelha“.
Esta pintura reflecte uma atitude mais tranquila e reflexiva, um desejo de ordem e calma; van Gogh refreia a sua imaginação, desaparecendo os arabescos, redemoinhos e as linhas exaltadas das telas de St.-Rémy. O retrato reflecte o carácter melancólico moderno e intelectual do Dr. Gachet.
A obra, vendida em leilão por 82,5 milhões de dólares, deteve o título de preço mais alto jamais pago por uma pintura!
E aqui termina esta maravilhosa viagem pela vida e obra de Vincent Willem van Gogh. A partir de amanhã, “a música” será outra!…
Resta referir os créditos de todas as imagens apresentadas nestas duas semanas: a The Vincent van Gogh Gallery.
[1695]
VAN GOGH – "NOITE ESTRELADA"
O tema desta pintura, também de 1889, quando van Gogh se encontrava no asilo de St.-Rémy, é o resultado de uma fantástica sobreposição de elementos reais e imaginários, provençais e nórdicos.
A imagem de belo, glorioso e magnífico das árvores da floresta a arder em direcção aos céus como tochas da alma; os ciprestes são as tochas da alma de van Gogh.
No espectáculo da noite estrelada, o pequeno povoado com a sua igreja, adormecido ao centro, tem um papel claramente secundário.
Depois do período de Arles, caracterizado pelo uso de cores primárias, van Gogh regressa ao cinzento, ao ocre e às cores misturadas. As linhas enrolam-se, unem-se em traços dinâmicos, criando redemoinhos, sublinhando os movimentos e os contornos com espirais.
As pinceladas de amarelo e branco sobre o fundo azul-escuro, fazem com que as estrelas se abram como coroas brilhantes.
[1692]
VAN GOGH – "AUTO-RETRATO"
A profusão de auto-retratos – 35 realizados entre 1886 e 1889 – aliados à peculiar relação que manteve com o seu corpo, cujo ponto culminante é o episódio da mutilação da sua própria orelha, posteriormente retratado, coloca van Gogh como o artista que introduz o próprio corpo como matéria-prima da arte.
Para além de reflectir a sua vida psíquica e de actuar como suporte para o exercício de técnicas pictóricas, o exame continuado e sistemático do próprio corpo apresenta o artista como alguém que testa os seus próprios limites, que indaga sobre o enigma da própria existência.
A vivacidade do efeito visual não é de natureza física, mas de base fisiológica. Os pontos justapostos de cor pura provocam uma espécie de “pânico visual”: o olhar compulsivo tenta misturar os diferentes tons. O princípio da mistura óptica funciona, ao mesmo tempo que implica uma constante sensação de agitação.
O quadro de 1889, pintado no Asilo de St.-Rémy, manifesta segurança e agressividade; tem rugas bem vincadas perto do nariz e das maçãs do rosto, as sobrancelhas são grossas e salientes e os cantos da boca estão virados para baixo. O retrato não é, não obstante, o de um rosto hostil, revelando vitalidade. As linhas serpenteantes e em forma de remoinho que surgem como pano de fundo são igualmente utilizadas na figura e nas roupas.
[1687]
VAN GOGH – "O SEMEADOR"
As cores, a atmosfera e a paisagem da Provença congregaram pintores das mais variadas tendências ou estilos, unidos pela ideia de que na pintura a pesquisa em torno da cor era algo fundamental.
Para pintar desta forma, van Gogh tinha de libertar-se dos motivos originais e mergulhar na sua própria imaginação. Estava a criar imagens vindas de dentro de si.
[1680]
VAN GOGH – "OS COMEDORES DE BATATAS"
Tal como os restantes quadros realizados por van Gogh na mesma época, esta tela apresenta tons escuros e pesados, retratando os sentimentos do pintor pelos pobres trabalhadores das minas de carvão.
O quadro mostra cinco pessoas sentadas em torno de uma mesa tosca de madeira. A mulher mais nova tem uma travessa de batatas quentes a fumegar e, com uma expressão interrogativa, está a servir as doses. A mulher mais velha, à sua frente, deita nas canecas café de cevada e malte. O velho camponês bebe.
As três gerações de uma família camponesa vivendo em conjunto sob o mesmo tecto estão reunidas para esta frugal refeição. Um candeeiro a petróleo irradia uma luz fraca, mostrando a grande pobreza; ao irradiar a sua luz trémula sobre todos de forma igual, estabelece a unidade na aparência destas figuras preocupadas.
A labuta diária é visível nos rostos; mas os seus olhos indicam confiança, harmonia e satisfação pela sua vida em conjunto. É como se não houvesse um mundo lá fora para perturbar a sua tranquila reunião.
[1676]
A ARTE DE VAN GOGH (II)
Natureza Morta, flores e campos: Novamente, como nos Retratos (e especialmente Auto-retratos), Vincent, em parte devido às suas dificuldades financeiras, preferiu pintar uma tigela de fruta, um vaso de flores ou um par de sapatos, ao invés de pintar modelos vivos.
Girassóis: A série de Girassóis é característica da obra de van Gogh, sendo imediatamente reconhecida em qualquer parte do mundo. A maioria da série foi pintada em 1888 em Arles, enquanto aguardava a chegada de Paul Gauguin, na famosa “Casa Amarela”. Nessas obras, ao contrário de tantas outras, o artista revela uma sensação de felicidade, explorando a sua cor favorita, o amarelo.
Período da Provença: Vincent passou quase dois anos na Provença, tendo realizado alguns dos seus melhores trabalhos: “O Terraço de Café no Fórum”, “O Café Nocturno em Lamartine” e a clássica “Noite Estrelada”. Neste período, ao mesmo tempo que o brilho artístico de Vincent deslumbra, o seu estado físico e mental degradam-se de forma significativa.
Asilo em St.-Rémy: Durante a convalescença no asilo em St.-Rémy, van Gogh dedicou algum do tempo ao estudo de pintores que admirava. Alguns dos seus melhores trabalhos podem ser vistos depois dos estudos sobre o pintor Millet: “Meio-dia”, “Descanso do Trabalho” ou “Primeiros Passos”.
O Fim: Os trabalhos finais de van Gogh são um paradoxo o que, provavelmente, nenhum outro trabalho mostrará melhor do que “Campo de Trigo com Corvos” . Muitos sentem que os céus dramáticos e tempestuosos, como também o campo de trigo, agitando-se, com os corvos que fogem, poderão constituir uma reflexão clara do próprio estado mental de Vincent nos seus últimos dias.
[1671]
A ARTE DE VAN GOGH (I)
O estilo de van Gogh: nem impressionista, nem expressionista… o artista definiu a sua própria forma de pintar; as suas pinceladas praticamente “falavam” sobre o que estava a sentir e pensar. Desta forma, pode ser considerado um pintor pós-impressionista ou pré-expressionista!
Efectivamente, apenas contactou com os pintores impressionistas em 1886, quando já era um artista consumado; apesar da aproximação a Toulouse-Lautrec, Paul Signac e Georges Pierre Seurat, o seu caminho foi sempre muito singular.
Para facilitar o entendimento das obras de van Gogh, elas são geralmente classificadas de acordo com diferentes formas de as interpretar, sendo a classificação a seguir apresentada apenas uma das categorizações possíveis.
Os primeiros trabalhos: Os desenhos e pinturas tendem a centrar-se nas vidas de camponeses e trabalhadores pobres, além das paisagens desertas nas quais viviam. Vincent teve uma grande admiração pelos trabalhadores do campo, o que retratou nas suas telas. O uso das cores mais escuras pode sugerir uma atmosfera melancólica (“Os Comedores de Batatas”).
Período em Paris: A ida de Vincent para Paris em 1886 provocou uma profunda mudança, aproximando-o de outros artistas: Monet, Renoir, Degas, entre outros.
Os “japoneses”: O período durante o qual Vincent pintou no estilo japonês tradicional foi bastante breve.
Os Retratos e Auto-Retratos: Vincent pintou muitos retratos ao longo da carreira, nomeadamente, os Auto-retratos, quando não podia dispor de modelos. Entre os retratos, encontra-se o famoso “Retrato de Doutor Gachet” (a tela mais cara do mundo). Dos Auto-Retratos, destaca-se o “Auto-retrato Sem Barba”, de 1889, que, em Novembro de 1989, entrou para a galeria dos cinco quadros mais caros do mundo.
Há 1 ano no Memória Virtual – Blogues africanos
[1667]
VAN GOGH (VII)
Em 27 de Julho de 1890, Vincent sai para um passeio e dispara sobre si mesmo no tórax com uma pistola. Consegue cambalear até casa durante a noite, nada dizendo sobre o seu estado. Acaba por ser encontrado ferido no seu alojamento, sendo chamado um médico, que, contudo, não consegue remover a bala.
As últimas horas de Vincent são muito semelhantes aos dois últimos anos da sua vida, variando desde a completa angústia mental até uma aparente satisfação. Depois de tentar o suicídio, Vincent passa o pouco tempo que lhe resta sentado na cama, fumando cachimbo, sempre com Theo a seu lado. Próximo da sua morte, Theo deita-se na cama ao seu lado, amparando-lhe a cabeça nos seus braços. Vincent diz-lhe: “Eu gostaria de morrer assim.”
Génio, autodidacta, marginalizado, sujeito a acessos de loucura, com uma carreira fulgurante, concentrada apenas nos seus últimos 5 anos de vida, Vincent morreria na manhã de 29 Julho, sendo a sua urna coberta com dúzias de girassóis, que ele tanto amara. Nunca se recuperando da morte do irmão, Theo morreria em Janeiro de 1891; repousam lado a lado em Auvers.
Em 1960, foi criada a Fundação Vincent van Gogh, com o objectivo de preservar os trabalhos que pertenciam à família; em 1973, foi inaugurado o Museu de van Gogh, contendo centenas de trabalhos de Vincent, assim como um enorme arquivo contendo cartas e documentos.
Em 1990, no centenário da sua morte, o Museu van Gogh apresenta uma exposição retrospectiva com mais de 120 pinturas. Vincent van Gogh, que apenas vendera uma pintura em vida (“O Vinhedo Vermelho”), acabaria por ter a sua obra “O Retrato do Dr. Gachet” vendido em leilão por 82,5 milhões de dólares, o preço mais alto até então jamais pago por uma pintura.
[1649]
VAN GOGH (VI)
No ano de 1889, o estado mental de Vincent flutua intensamente; por vezes parece tranquilo e coerente, outras vezes sofre de alucinações e ilusões.
Vincent regressa à “Casa Amarela”, onde continua a trabalhar esporadicamente, mas a frequência crescente dos ataques levam-no a ser internado no asilo de doentes mentais de Saint-Paul-de-Mausole em Saint-Rémy-de-Provence.
Quando é capaz, Vincent continua com as suas pinturas de paisagens (da famosa série de oliveiras e ciprestes), mas é frequentemente forçado a parar quando os ataques retornam (uma vez tentou envenenar-se ingerindo as suas próprias tintas). Ironicamente, à medida que o estado mental de Vincent se deteriora continuamente ao longo do ano, o seu trabalho começa finalmente a ser reconhecido na comunidade artística.
Depois de um ataque sério em Fevereiro de 1890, que dura dois meses, decide-se que Vincent se deve mudar para mais perto de Theo e ser colocado aos cuidados do Dr. Paul Gachet. Em Maio, Vincent muda-se para Auvers-sur-Oise, a noroeste de Paris e, sob os cuidados do Dr. Gachet, começa a pintar com incrível energia, produzindo mais de 80 pinturas nos dois últimos meses da sua vida, que assinou sempre com o nome próprio Vincent.
Apesar dessa intensa actividade, o seu estado mental vai-se agravando, talvez por se considerar como um fardo para Theo e para a família.
[1645]
VAN GOGH (V)
Em 1888, deixa Paris e muda-se para Arles, possivelmente por sugestão de Toulouse-Lautrec, fascinando-se com o brilho da luz do Sul e com suas cores quentes.
Começa a pintar as paisagens da Provença, com as suas flores, passando algum tempo na “Casa Amarela”. É extremamente produtivo neste período, quando pinta o litoral (em Saintes-Maries-de-la-Mer), tal como muitos dos seus auto-retratos mais famosos, assim como a série do carteiro, Joseph Roulin. Aguarda a chegada do amigo, Paul Gauguin, com o qual sonha poder montar uma comunidade de artistas.
Gauguin chega finalmente em Outubro, passando a viver e trabalhar juntos. Entretanto há momentos turbulentos, nos quais discutiam fervorosamente sobre arte; essas discussões são descritas por Vincent como “tensão excessiva”; em apenas dois meses, estes desentendimentos levam a uma séria deterioração do relacionamento entre ambos.
A relação de amizade acaba por ser destruída; em 23 de Dezembro, Vincent teria atacado Gauguin com uma navalha de barbear; imediatamente depois do ataque, Vincent perde toda a razão e corta o lóbulo da orelha esquerda, que embrulha num jornal e com que presenteia uma prostituta. Epilepsia, alcoolismo e esquizofrenia são as causas apontadas para este ataque de Vincent, que levam à sua hospitalização. De seguida, Theo chega de Paris para cuidar do irmão.
[1642]