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2003 – ANO DOS "BLOGUES" – AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, são devidos agradecimentos aos “colegas bloguistas” em cujos textos mais me apoiei na preparação da compilação que tive o prazer de apresentar ao longo do mês de Dezembro: António Granado (Ponto Media), Pedro Fonseca (Contra Factos e Argumentos), Elisabete Barbosa (Blog Clipping) e Joaquim Paulo Nogueira e João L. Nogueira (Metablogue); sendo também devido ao “blogue responsável por esta avalanche em que se tornou a blogosfera portuguesa em 2003″: A Coluna Infame.
De seguida, um obrigado a todos aqueles (32!) de que apresentei os respectivos “1º post”, os quais se constituiram indubitavelmente num importante factor enriquecedor do levantamento complementar apresentado; permito-me um agradecimento especial ao João Pereira Coutinho (pela prontidão com que me “disponibilizou” o seu primeiro texto).
Um agradecimento muito especial ao Vitor Marques (A Verdade da Mentira), o “comentador” mais assíduo, que teve um importante papel de incentivo, contribuindo para um maior e mais aprofundado desenvolvimento da pesquisa.
Obrigado também ao Pedro Lomba (Flor de Obsessão), Manuel (Grande Loja do Queijo Limiano), Bruno Martins (Avatares de Desejo) e Nelson (Desblogueador de Conversa), pela atenção dispensada.
Finalmente – esperando não me ter esquecido de ninguém … -, agradecimentos especiais a quem de forma tão elogiosa se referiu a esta despretensiosa compilação de textos: Catarina Campos (100nada), Carla Hilário de Almeida (Bomba Inteligente), “Waldorf” (Blogue dos Marretas), Nuno Mota Pinto (Mar Salgado), Rui Branco (Adufe), J. (Cruzes Canhoto), Luís Ene (Ene Coisas), Martin Pawley (Dias Estranhos – Galiza), César Valente (Carta Aberta – Brasil), Edgar (4ª Ferida Narcísica), Evaristo Ferreira (Abrangente), Nuno (Janela para o Rio) e (em tempo) Paulo (Dias que Voam).
“Bem hajam”!
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXXII)
A 6 de Novembro, Rui Branco (Adufe) e Cláudia e Alecrim (Flores do Campo) criam a BLOGA! – Blogólicos Anónimos: «Junte-se a outros blogólicos, fale com eles, discuta conteúdos, decifre-lhes a fisionomia, reforce as amizades, desça à terra partilhando os seus sonhos e ânsias blogosféricas! Faça do seu vício algo virtuoso, desdramatize-o, ponha-o a “jogar” a seu favor!»
Ainda em Novembro, a 17, Paulo Querido lança a ideia: “Vamos eleger os blogs portugueses do ano?”, ainda em fase de “maturação”.
Depois de uma “falsa partida” no mês de Julho, tem finalmente início, a 22 de Novembro, o Causa Nossa, que reúne um “extraordinário grupo de famosos”: Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Jorge Wemans, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira.
A finalizar, parece-me que não poderia encontrar melhor referência para concluir esta viagem por este “admirável mundo novo”, que o texto de Manuel António Pina, na revista Visão de 18 de Dezembro:
«Entretanto tenho ultimamente frequentado a blogosfera. … A blogosfera é o lugar onde hoje melhor se escreve e se pensa em português. … E o facto de a maior parte dos blogues ser, julgo, escrita por gente com menos de 30 anos justifica uma réstia de esperança no futuro”.
Desta forma se conclui, ao fim de um mês – em que fui apresentando alguns textos sobre a evolução deste fenómeno dos “blogues” – um modesto contributo para que um dia se possa fazer uma “história da blogosfera em Portugal”.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXXI)
Também a 30 de Outubro, João Pereira Coutinho inicia uma nova página na Internet, chamada “JPCoutinho.com – Diários“, com um conceito algo diferente da “típica” página de “blogues” (consumando-se assim o regresso da totalidade dos membros fundadores de “A Coluna Infame“): «À vossa esquerda, os pecados. À vossa direita, as virtudes. Faz sentido: pecados para a esquerda, virtudes para a direita… E de hoje em diante, pecados e virtudes, devidamente alternados. De que tratam estes Diários? Como o nome indica, dos dias do plumitivo. Os meus. Os vossos. Não existem diários privados.» E, mais adiante: «De modos que: cinco dias por semana. Dias úteis. Dias inúteis. De segunda a sexta. Prometo abrir a alma – a alma – e comentar o mundo. Que será, no essencial, o meu…»
A 4 de Novembro começa a funcionar uma nova plataforma portuguesa de edição de “blogues”: Blogs.sapo.pt, juntando-se nomeadamente ao Weblog.com.pt (impulsionado por Paulo Querido). Nesta nova plataforma, viriam a destacar-se nomeadamente os seguintes blogues: Espigas ao vento (entretanto suspenso) e Icosaedro (vidé textos apresentados a 22 de Dezembro sobre os “blogues” instalados nesta plataforma).
Esta “viagem pela blogosfera” ficaria incompleta se não referisse uma outra plataforma, com características particulares: o Livejournal (cuja apresentação me foi feita pelo Mário Pires – Retorta), com o seu “espírito” de comunidade, organizado em “círculos”, por afinidade ou centros de interesse; para se aceder à plataforma, é necessário um código, o qual era geralmente fornecido por alguém amigo ou conhecido, já integrado na “comunidade”, o que determinou muito da sua “sociologia”.
Existindo um pouco “à margem do circuito regular das citações do sistema blogger ou weblog”, não deixa, obviamente, de compreender muitas páginas de grande interesse (numa das próximas semanas, apresentarei referência mais detalhada aos “blogues” residentes neste sistema).
Como me foi apresentado pelo Mário Pires, «uma das características do Livejournal (LJ) é a possibilidade de criação de uma página com todos os blogues de que gostamos, onde as entradas estão dispostas cronologicamente; quando definimos um outro utilizador do LJ como “friend” estamos a adicionar os seus posts a essa página; o sistema de friends também permite níveis de privacidade varados no LJ, podemos colocar entradas visíveis apenas para nós, outras para todos os utilizadores definidos como friends, apenas visíveis por alguns ou apenas um friend e as entradas públicas visíveis por todos», sendo «a popularidade definida pelo número de pessoas que nos definiram como friends» e, finalmente, «tendo sido pensado por adolescente e criado para adolescentes, é um sistema que favorece os post “ligeiros” e a diarística mais comum, um post popular é um mini-forum / chat».
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXX)
A 30 de Outubro, realiza-se na Sociedade de Geografia, em Lisboa, o Encontro Informal de Blogues, sob o lema “Blogues, moda efémera ou meio de comunicação de futuro?”.
No suplemento “Computadores” do “Público” de 3 de Novembro, Pedro Fonseca relata o ocorrido no Encontro Informal de Blogues de 30 de Outubro, artigo no qual se baseia – para além de outros relatos, nomeadamente os apresentados na página antes referida – o resumo apresentado de seguida.
Foi anunciado o lançamento de uma nova plataforma portuguesa de “blogues”: Blogs.sapo.pt.
Paulo Querido “explicou o que são os “blogues””, falando também da sua experiência com a plataforma Weblog.com.pt.
Pedro Lomba (Flor de Obsessão) afirmou serem os “blogues” um excelente exercício de escrita, uma “disciplina que nos obriga a ir lá todos os dias”, defendendo ainda que, mesmo procurando só escrever o que lhe apetece nos jornais, “a imprensa tem um público mais institucional e, num jornal, a liberdade não é total”, além de que certos textos apenas fazem sentido nos blogues.
José Mário Silva (Blog de Esquerda) salientou a necessidade de se guardar alguns destes “retratos do país”. Eles são complemento dos médias tradicionais, “antecipam temas dois ou três meses” antes de a comunicação social atentar neles e dão resposta a uma carência nos espaços de opinião. Por outro lado, há também uma “experimentação da língua” na blogosfera, com “algumas dezenas ou mais de blogues muito bem escritos”.
Pedro Mexia, do Dicionário do Diabo, referiu que: “Um blogue ou uma coluna de opinião é de alguém que tem a presunção – pateta, com certeza – de que tem algo a dizer”, quer ser citado e ter algum retorno comunicacional dos leitores. Por isso, “é necessário descriminalizar essa ideia do sucesso, da audiência.” Lembrando que “um blogue é um ‘hobby’ não remunerado”, Pedro Mexia salientou ainda como conseguiu mais inimigos num único ano a escrever em blogues do que em toda a sua vida.
Mário Pires (Retorta) falou sobre as comunhões que é possível estabelecer na “blogosfera”, manifestando o seu desejo que, por exemplo, a fotografia, possa beneficiar de maior interesse e atenção.
João Nogueira, do Socioblogue, colocou em causa a meritocracia que Pedro Lomba afirmava entrever na blogosfera, assinalando a existência de “blogues muito bons que ninguém lê”.
P. S. Pode também ver excelentes fotos do “Encontro”, pelo Mário Pires, no Retorta: aqui, aqui e aqui.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXIX)
Também em Outubro, começa a assistir-se a uma transferência de alguns “blogues” anteriormente alojados no “blogger” para o “weblog.com.pt” (sistema de alojamento de “blogues” em Portugal, impulsionado por Paulo Querido, onde se encontravam já, por exemplo, o Enecoisas e o Barnabé) – de que são exemplo, nomeadamente o Adufe, Janela Para o Rio, Fumaças, 100nada, Estudos sobre o comunismo (“o outro blogue” de Pacheco Pereira), Socioblogue e Metablogue, o próprio Memória Virtual e, finalmente, o Blog de Esquerda.
A 15 de Outubro, Paulo Querido e Luís Ene apresentam o primeiro livro sobre “blogues” em Portugal (“Blogs“), no Mercado da Ribeira, em Lisboa.
E, uma semana depois, a 22 de Outubro, era lançada a primeira edição em livro de textos de um “blogue”: “O Meu Pipi” compilava em livro os seus escritos erótico-pornográficos.
Na sessão de lançamento – em que Rui Unas leu fragmentos do livro – a cada um dos participantes, era distribuído, à entrada, um crachá dizendo: “Eu é que sou o Pipi”!
Os conteúdos anteriores do “blogue” haveriam de ser então “apagados”.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXVIII)
A 4 de Outubro, no suplemento “Actual”, do “Expresso”, António Guerreiro apresenta uma crítica ao “universo dos blogues”, nomeadamente pela reprodução na blogosfera de um regime que diz ser o «responsável pela hipertrofia da “opinião” que caracteriza a imprensa, em Portugal», o do “mandarinato”, caracterizado pela “corrida ao espaço público mediático” (ver texto completo em “entrada estendida”).
Surgira entretanto o primeiro grande caso de controvérsia generalizada: de forma anónima, o “blogue” “Muito Mentiroso” editou, durante semanas, listas de perguntas, com uma técnica de desinformação, insinuando que o caso de pedofilia da “Casa Pia” teria por trás vários e poderosos grupos de interesses, associado a gravíssimos casos de corrupção.
Após dias de polémica na “blogosfera”, já em Outubro, Pacheco Pereira denunciou, na sua intervenção de Domingo no “Jornal da Noite” da SIC, o caso deste “blogue”, o qual estaria já, entretanto, a ser alvo de investigação.
No dia seguinte, todo o conteúdo do “blogue” seria apagado.
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(mais…)
2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXVII)
Em 18 e 19 de Setembro, realiza-se em Braga o primeiro encontro nacional de “weblogs”.
O Jornal de Notícias é o primeiro jornal nacional a fazer uma manchete de primeira página a propósito dos “blogues”; por outro lado, no Telejornal da RTP1, é apresentada reportagem, com a criação de um “blogue” em directo.
Conforme disse José Luis Orihuela (Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra): “Nunca tivemos de ler tanto para escrever tão pouco” (ver artigo de Pedro Fonseca, no “Público” de 22 de Setembro, abordando o referido encontro – texto completo em “entrada estendida”). E, também:
“Os blogs são o fenómeno mais importante que ocorreu na Internet desde há 10 anos. Em 1993, houve a revolução dos browsers, permitindo a navegação. Dez anos depois, é a revolução dos blogs, cuja força provém de constituírem uma grande conversação global, gerando uma comunidade pelo intercâmbio de conhecimentos, produzido pelos post, comentários e réplicas – a “blogosfera”. Como consequência, os blogs são potentíssima ferramenta para criação de comunidades espirituais baseadas no conhecimento partilhado“.
Notou-se também que “se os blogues amplificam a cidadania, dando voz ao cidadão, a Internet continua a ser um meio reservado apenas a uma franja minoritária da população”.
Entretanto, os “blogues” em Portugal tinham passado rapidamente dos cerca de 500 em meados de Maio, para cerca de 1 600 no fim de Julho (com a grande “explosão” no final de Junho), ultrapassando-se já, em Setembro, os 2 000 “blogues”.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXVI)
Em Setembro, o Gato Fedorento “autonomiza-se” também num programa de televisão, na SIC Radical. Conforme artigo no “Público”, de 9 de Setembro, a “SIC Radical Reforça Humor”: “Gato Fedorento estreia-se no dia 15 e reúne a dupla de humoristas Ricardo Araújo e Diogo Quintela num programa de meia hora, às segundas-feiras (14h30), quartas (20h30), quintas (09h30) e sábados (19h30)”.
Carlos Vaz Marques dá também início, em Setembro, ao “blogue” sobre o seu programa de rádio na TSF, “Pessoal… e Transmissível“. Entretanto, João Paulo Meneses iniciara também (já em 27 de Junho), o Blogouve-se.
A 10 de Setembro, nasce o Barnabé, “blogue” colectivo sobre política e cultura, de esquerda, agrupando o político Daniel Oliveira, os historiadores André Belo, Rui Tavares e Pedro Oliveira, o jornalista Celso Martins e a ilustradora Rosa Pomar – “O que é que tem o Barnabé? O Barnabé é um blogue sobre política e cultura. O Barnabé não é um blogue intimista. O Barnabé é tão Narciso como os outros, mas tem vergonha na cara. O Barnabé é um blogue pós-narcisista. O Barnabé é um blogue de esquerda e heterodoxo”.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXV)
A 10 de Agosto, nasce o Glória Fácil, inicialmente com os jornalistas do “Público”: João Pedro Henriques, Maria José Oliveira; a que se juntaram entretanto Ana Sá Lopes (também do “Público”) e Nuno Simas (jornalista do Diário de Notícias).
A 11 de Agosto, novo artigo (de Pedro Correia) sobre os “blogues”, no “Diário de Notícias” (ver também texto em “entrada estendida”).
A 2 de Setembro, Medeiros Ferreira publica também um artigo no “Diário de Notícias”, uma abordagem “diferente” sobre o “fenómeno dos blogues”:
«A bloguemania está a difundir-se rapidamente. É, por enquanto, um exercício particular de quem gosta de ter opiniões abundantes e imediatas e revela uma acentuada necessidade de comunicar. A maior parte dos blogues que conheço aparenta-se ao género diarístico da antiga literatura. Um parente dissemelhante e de outra geração. Em todo o caso é um descendente. À primeira vista é um descendente, em língua portuguesa, de um Miguel Torga menos esculpido em granito lexical, de um Vergílio Ferreira mais mundano na sua conta-corrente, de um Fernando Aires angustiado de metafísica, de um Cristóvão de Aguiar bloguista avant la lettre com a sua relação de bordo existencial. Até me lembrei de Teixeira de Pascoaes e de Raul Brandão, mas os blogues dos nossos cibernautas pouco tratam de sentimentos. Estão mais virados para a descoberta da luta política por conta própria. Porque será? É claro que os blogues não são mais nem menos do que os sites precocemente envelhecidos pela necessidade de criar modas internéticas. Ainda há 50 anos se viravam os fatos do avesso, dando-lhes um retomado colorido, caso o tecido valesse a pena. O site é mais institucional, o blogue é mais individual – ambos unidos por uma orgia de endereços electrónicos. Deste modo, e antes que seja tarde, aproveito esta minha curiosidade de férias, para apresentar um modelo de blogue-notas:
Quinta-feira, dia 28: João Cravinho propõe António Guterres como cabeça-de-lista para as europeias. Não é a primeira vez que o faz, mas em Agosto o caso foi mais falado do que nos blogues que reservam uma entrada para Comentários(o). Acho uma boa ideia, embora não faltem excelentes candidatos a cabeças-de-lista para o Parlamento Europeu em quase todos os partidos do sistema, e até fora dele. Depois dos jogadores de futebol deve ser mesmo a melhor especialidade portuguesa. Por isso não me preocupo muito com o assunto. Alguém há-de aparecer. Prevejo um bom resultado do PS e a eleição de pelo menos um deputado do Bloco de Esquerda. Mesmo que o PSD perca essas eleições, com certeza que Durão Barroso não se demitirá. Vou guardar este blogue até Junho do próximo ano para o citar. Posted by José.
Sexta-feira, dia 29: Chuva. Como disse Teixeira de Pascoaes, o Outono em Portugal começa em Agosto. Esta chuva acaba com os incêndios, dirão os patriotas do clima.
Leio uns documentos da Casa Pia n’O Independente. Mas se todos os portugueses fossem avaliados, na indevida altura, por pedo-psiquiatras, quem garantiria o estado da nação no futuro?! E quantos blogues não seriam precisos para revelar as pulsões, as tendências, e até os actos de tanta gente feliz com lágrimas? Freud elaborou uma teoria geral. Em Portugal, pelo menos desde Pina Manique, elaboram-se fichas pessoais. Posted by Heterónimo Ferreira.
Sábado, dia 30: José Sócrates, no Expresso, afirma que António Guterres é o melhor candidato às eleições presidenciais. Pasmo com este afã de candidatar o presidente da Internacional Socialista a todos os cargos imagináveis. Tanto mais que agora ele vai em missão social da ONU junto de Lula da Silva, conforme também me ensina o mesmo semanário. Prevejo que António Guterres aproveitará a primeira ocasião para repetir estar retirado da política doméstica activa. Ainda é muito cedo para «o natural», como notou o E. P. C. A propósito será que o E. P. C. tem um blogue? Posted by Medeiros.
É isso. Um dia que deixe de ter a coluna no DN vou criar um blogue-notas!
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXIV)
No “Público”, de 31 de Julho, escreveu Eduardo Prado Coelho, sobre os “blogues”:
“Duas realidades têm emblematizado este Verão. Não me refiro aos habituais incêndios, que permitem sempre a qualquer oposição dizer que faria melhor do que qualquer Governo, nem ao segredo de justiça, nem ao caso da Universidade Moderna, nem à demissão do chefe do Estado-Maior do Exército, que, ao que parece, “perdeu a confiança” no ministro, nem à questão da duração da prisão preventiva ou da extensão das escutas telefónicas. Também não estou a pensar na incapacidade em se encontrar armas de destruição maciça no Iraque, no sofrimento aparentemente sem saída do exército americano ou nas dificuldades de Blair envolvido numa história sinistra. Falo, sim, de duas realidades mais modestas e contudo extremamente importantes: os blogues e o chá verde.
Qualquer delas aparece como um bom “tema” para reportagem nos jornais e revistas. Fiquemos hoje pelo blogue. Ele corresponde à criação de espaços na Internet onde uma pessoa ou um grupo de pessoas se sente autorizado a escrever sobre todos os assuntos que lhe interessarem. O formato dos textos é extremamente variável, podendo ir da simples frase assassina à longa deambulação evocativa, da citação oportuna à polémica mais militante. Alguns dos autores gostam de ser identificados, outros escolhem os enredos imaginários dos pseudónimos ou heterónimos, suscitando mesmo inquéritos quase policiais. É neste âmbito que de vez em quando um jornal ou um amigo suspeita de que eu seja autor de um blogue. Devem pensar que vivo numa dimensão temporal inacessível aos humanos… Diga-se de passagem que nem mesmo leio com regularidade os blogues dos outros. Não tenho tempo.
Toda a questão está no autor do blogue “sentir-se autorizado a”. Outrora era complexa a malha das legitimações que nos permitiam ter acesso ao concorrido espaço mediático. Tínhamos de começar por tarefas modestas, agora uma recensão a um livrinho sem importância, agora um acontecimento musical, agora a reportagem de uma viagem às Maldivas. Pouco a pouco ia-se pondo à prova a capacidade de escrita, mas sobretudo mostrava-se que a nossa escrita podia ter leitores. Passávamos a uma colaboração regular e daí a uma presença assídua e responsável. O autor ia aos poucos estabelecendo um pacto de confiança com os leitores. Tinha reacções por carta ou mesmo na rua, recebia correspondência, influenciava as vendas dos livros ou discos, contribuía para encher as salas de cinema. O momento mais compensador tem a ver com o facto de nos atribuírem um glorioso papel justiceiro: o senhor, que escreve nos jornais, tem de escrever sobre esta escandaleira!
Os blogues passam por cima de tudo isto e entra-se de imediato nas matérias. Não é preciso articular muito bem os textos. Pode ser uma observação verrinosa, um comentário sardónico. Pode usar toda a agressividade que quiser, porque isso faz parte das regras do jogo. É possível que se esteja a formar uma nova forma de intervenção ou novos processos de produção e exposição do pensamento. É possível que seja um mero fenómeno de moda e que mais tarde possamos dizer: houve um verão em que só se falava em blogues, lembram-se? Mas é um facto que surgiu um novo dispositivo, uma nova maneira de participar na cena pública, um novo tom, uma outra energia. Para quem acredita que o lugar onde se escreve condiciona o que se pensa e escreve isto pode ser um verdadeiro acontecimento”.
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