Posts filed under ‘Blogosfera’

Memória Virtual – 20 anos

28 Junho, 2023 at 10:21 pm Deixe um comentário

O meu cão (2005-2022)

17 anos de lealdade incondicional. Adeus, fiel companheiro.

(Como isto custa, caramba!).

Recupero o texto a que deu mote, publicado em 2011:

Hoje deu-me para aqui.

Para filosofar.

O que pensará o meu cão da vida dos donos, dos humanos em geral?

Porque correm tanto? (Parecem sempre tão apressados… Não deixara de reparar já que, com frequência, carregam num botão de uma engrenagem – da qual saem as pessoas quando vêm visitá-lo, e em que costuma andar, quando vai à rua passear os donos – que, fechando a porta mais depressa, permite ganhar uns preciosos dois segundos nos seus percursos). Para onde? Para quê?

Costumam sair cedo pela manhã (todos os dias ouve a bebé dos vizinhos), só voltam no final da tarde, às vezes já noite. O que andarão a fazer?

Estranha forma de vida a dos humanos. Parece não lhes bastar ter comida e água na gamela, receber festas dos donos, ir passear… de vez em quando receber uns biscoitos.

Para além de ter já escutado por várias vezes – também naquela espécie de caixa fininha que os donos têm na sala, onde por vezes aparecem uns cães, estranhamente sem cheiro –, diversas pessoas falar com bastante entusiasmo do seu trabalho, e da carreira (para dizer a verdade, não percebeu muito bem se, realmente, o que as excitava mais não seria uma coisa a que chamam dinheiro, que os parece fazer salivar como quando recebe um osso novo – para que o quererão tanto? Para fazer uma grande pilha com ele? Aquilo parecia-lhe só papel, sem um interesse por aí além), ultimamente ouvia, cada vez com maior insistência, falar em ser famoso ou em ter poder. O que seria “ter poder”? Para que lhes serviria?

Bastante mais raramente ouvia falar de humanos que, aparentemente, não se preocupando tanto com o tal “dinheiro” ou “poder”, iam atrás dos seus sonhos e deles faziam o seu ideal de vida (vinha-lhe à memória um nome de que tinha ouvido o dono falar, um tal de João Garcia, que parece que andou a subir a todas as grandes montanhas do mundo… oh, como ele gostaria também de subir às montanhas!).

E, ainda menos, de outros humanos que dedicavam uma parte da sua vida a ajudar outros, que precisavam muito. Lembrava-se vagamente de ter ouvido falar de alguns que iam para bastante longe (muito mais do que os passeios a que estava habituado!), para Moçambique, prestar assistência em escolas ou hospitais, ou para o Cambodja, criar uma empresa que dava trabalho e pagava salários justos a mulheres muito pobres.

Provavelmente, tinha andado distraído, ocupado com a sua nova bolinha. Tinha de passar a prestar mais atenção!

(texto escrito para publicação no Delito de Opinião, acedendo ao gentil convite de Pedro Correia, a quem agradeço a oportunidade)

17 Janeiro, 2022 at 11:00 pm Deixe um comentário

16

16
anos de Memória Virtual

28 Junho, 2019 at 11:23 am Deixe um comentário

Optimista

Podia fazer aqui uma espécie de “pot-pourri” de temas que mais me interessam: desde a “Memória”, em termos gerais, a Tomar, mais em particular; do presente e futuro do jornalismo às perspectivas sombrias que assolam a Europa; da questão dos refugiados e das migrações às incertezas sobre as saídas profissionais dos nossos filhos (a tal geração mais qualificada de sempre); em termos pessoais, do indelével elo que, desde há cerca de quatro anos, estabeleci com a Bulgária, o país mais pobre da União, onde a extrema-direita racista chegou recentemente ao poder, tendo sob mira as minorias turca e cigana, segregadas e cada vez mais intoleradas.

Enquanto “coleccionador de histórias”, podia também recordar um episódio com contornos caricatos, que, em 1998, vivi em Bissau: o de, durante a semana, ver toda a gente a olhar para a lua, procurando antecipar o início do Ramadão – e consequente dia feriado –, que, tendo chegado precisamente na sexta-feira, me impediu de confirmar o voo de regresso, numa altura em que a ligação aérea Bissau-Lisboa estava completamente lotada e a duração da reserva no hotel tinha entretanto chegado ao fim, tal como o dinheiro de que dispunha para a missão…

Eu, que me vejo, não propriamente pessimista, mas, de forma geral, mais realista, optei, porém, por deixar aqui de lado as magnas preocupações que nos envolvem nestes dias cinzentos – por outros, bastante mais abalizados para versar estes assuntos, amiúde abordadas –, preferindo expressar, por um prisma positivo, uma outra grande paixão, como é a do desporto.

E, sobretudo, o exemplo que nos é apontado por aquele que será, porventura, o maior desportista mundial de todos os tempos, especialmente na medida em que é praticante de uma modalidade individual, em que um encontro pode chegar a durar até três ou mais horas.

Reunindo características únicas de carisma e virtuosidade, talento e versatilidade, combinando estética e técnica, empenho e profissionalismo, humildade e respeito (pelos adversários e pelo público), numa longeva carreira de mais de vinte anos, praticamente sempre ao mais alto nível – cumprem-se agora precisamente 15 anos sobre a primeira das suas vinte vitórias em torneios do “Grand Slam”, em Wimbledon –, Roger Federer conta quase uma centena de competições ganhas, com mais de 300 semanas como n.º 1 do ranking mundial, somando cinco estatuetas dos “Óscares do desporto”, os prémios Laureus, sendo, paralelamente, o atleta que maiores proventos alcançou em toda a história no decurso da sua actividade desportiva.

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 Roger Federer: a sua primeira grande vitória ocorreu faz hoje 15 anos

Logo em 2003 criou a “Roger Federer Foundation”, visando apoiar crianças carenciadas e promover o seu acesso à instrução e ao desporto, intervindo fundamentalmente na região da África Austral (África do Sul, Botswana, Malawi, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe), propondo-se agora abranger, num horizonte de curto prazo, um milhão de crianças!

Ora – sendo a publicidade a “força motriz” que faz girar o mundo –, depois de mais de vinte anos como rosto da Nike, prestes a completar 37 anos de idade, o suíço aceitou passar a ser o “embaixador”, a âncora maior de divulgação, da marca japonesa de roupa UNIQLO (acrónimo para a denominação inicial de Unique Clothing Warehouse), fundada em 1984 por Tadashi Yanai, no seu trilho para se tornar uma marca global – procurando desde já notabilizar-se, gerando “buzz” ainda antes que a maior montra desportiva do planeta, os Jogos Olímpicos de 2020, chegue ao Japão –, visando suplantar gigantes mundiais como a Inditex e a H&M, tendo como ambicioso objectivo atingir, já nesse ano de 2020, os 50.000 milhões de dólares de facturação!

Percebe-se, assim, como será possível pagar a Federer – o maior “avalista” de imagens de marca do mundo, representante, entre outras, das luxuosas RolexMercedes-Benz ou Moët & Chandon (só Cristiano Ronaldo e LeBron James estarão, actualmente, na sua faixa de honorários) – cerca de 300 milhões de dólares, por um contrato de dez anos (independentemente do previsto termo de carreira a curto/médio prazo) – o qual, em termos comparativos, e para se percepcionar melhor o que está em causa, acumulou, ao longo de todo o seu trajecto profissional de mais de vinte anos, um montante global de cerca de 116 milhões de dólares em prémios.

Nas palavras de Tadashi Yanai, ao anunciar esta extraordinária parceria: «Compartilhamos uma meta de operar mudanças positivas no mundo, e espero que, juntos, possamos proporcionar a mais alta qualidade de vida para o maior número de pessoas».

Ao que o grande campeão retorquiu: «Estou profundamente implicado com o ténis e com o triunfo em competições. Mas, tal como a UNIQLO, também tenho grande amor pela vida, cultura e humanidade. Partilhamos uma forte paixão por ter um impacto positivo no mundo em nosso redor, ansiando por conjugar os nossos esforços criativos».

Sem ignorar que, para a empresa, antes de preocupações a nível da sua responsabilidade social, importará, em primeira instância, o lucro – aliás, como condição determinante para a sua própria perenidade –, quero crer que não terão sido em vão as palavras de Yanai, assim como, da parte de Federer – que nem sequer teria a possibilidade física de usar em “proveito próprio” o imenso pecúlio já antes angariado (estimado em mais de 500 milhões de dólares) –, os seus actos no passado constituirão um bom garante do compromisso agora novamente expresso.

Continuo optimista que, à nossa ínfima escala individual, procurando replicar o seu exemplo, seremos capazes, cada um, de dar também pequenos contributos para uma sociedade menos desequilibrada, e, principalmente, mais solidária.

(texto escrito para publicação no Delito de Opinião, acedendo ao gentil convite de Pedro Correia, a quem agradeço a oportunidade)

6 Julho, 2018 at 4:00 pm Deixe um comentário

Memória Virtual – 15 anos

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Há quinze anos nascia este blogue…

28 Junho, 2018 at 10:00 am Deixe um comentário

Já passaram 14 anos?

28 Junho, 2017 at 9:55 am Deixe um comentário

Ponto Media – “Ponto final”

Ao fim de 15 anos de labor e actividade praticamente ininterrupta, chegou ao seu termo a publicação do blogue “Ponto Media“.

Obrigado ao António Granado por este magnífico contributo, verdadeiro serviço público!

Teremos a possibilidade de continuar a aprender com ele, via Twitter, em @agranado.

5 Janeiro, 2016 at 11:36 pm Deixe um comentário

2009 – Reunião com Martin Kamp (Secretário-geral do PPE)

MVR-10

Falando em português, Martin Kamp, de nacionalidade alemã, actual Secretário-Geral do Partido Popular Europeu, começaria precisamente por abordar a questão da eleição da futura Comissão Europeia, referindo que é geralmente mais difícil convencer os nossos amigos que os inimigos…

Mas, no PPE, esta questão não se coloca; o PPE já tomou uma decisão sobre o assunto: a de apoiar Durão Barroso, que, aliás, se pretende que seja eleito no dia 15 de Julho, no dia imediato ao da eleição do Presidente do Parlamento Europeu.

Entrando-se de imediato numa fase de debate, Nuno Gouveia começaria por questionar como é perspectivada a saída dos Conservadores britânicos do Grupo do PPE. Kamp responderia que a saída é vista de uma forma pacífica, e que acontece até, precisamente, no momento em que estarão mais próximos do que nunca, por exemplo a nível de política de saúde pública ou questões relacionadas com o meio ambiente. Referiu aliás que, na carta dirigida ao PPE, os Conservadores britânicos explicitaram pretender manter “Good fraternal relations”.

João Villalobos perguntaria como será encarada, por outro lado, a possível admissão do CDS no PPE, ao que Kamp ripostou que os deputados do CDS estão perfeitamente integrados no Grupo Parlamentar do PPE; já o estado da admissão formal desta força política no PPE continuará “pending” (questão a analisar mais tarde).

Pedro Morgado questionou de seguida como entende a compatibilização das políticas de apoio regional com a preservação da livre concorrência.

Martin Kamp começaria por recordar que “estar dentro” [do Euro] é mil vezes melhor que estar fora (como se depreende das actuais situações na Islândia, Grécia ou Irlanda), reforçando: “A política de coesão é fundamental! Ganhamos todos” (regiões favorecidas e desfavorecidas).

Daria aliás como exemplo: a Alemanha é ganhadora com o alargamento do “mercado interno”; concluindo que qualquer contribuição é sempre inferior aos ganhos futuros que se obtêm.

Paulo Marcelo, considerando que o PPE agrega realidades muito distintas, o que implicará alguma falta de consistência política, perguntou sobre quais os traços ideológicos fundamentais e como imagina a sua evolução no futuro a longo prazo, por exemplo no horizonte do ano 2020.

Kamp lembrou então que o PPE é o único Grupo que tem membros (deputados eleitos ao Parlamento Europeu) de todos os 27 países da União, provenientes de mais de 50 forças partidárias nacionais, com princípios diversos e variados.

Para se alcançarem maiorias, é necessário estabelecer compromissos (inclusivamente com o Partido Socialista Europeu), de forma a poder exercer de forma efectiva o papel do Parlamento Europeu enquanto “contra-poder” da Comissão e do Conselho Europeu.

Não obstante, o PPE tem um programa claro e que será provavelmente mais denso em termos políticos e ideológicos que outros (apesar de não ser fácil conseguir comunicar a terceiros qual a sua identidade política).

Em 2020, antecipa que a União Europeia terá de falar apenas a uma só voz nas grandes cimeiras a nível mundial, com um representante único. Para tal, considera fundamental que seja aprovado o Tratado de Lisboa (que incorpora cerca de 95 % do conteúdo da tentada Constituição Europeia); sem isso, teremos muitas dificuldades no futuro.

Bárbara Baldaia questionou de seguida sobre como será possível inverter a tendência de crescente distanciamento dos cidadãos em relação à União Europeia.

Kamp reconheceu que a abstenção nas eleições europeias é um problema sério; a cada eleição, o Parlamento Europeu tem vindo a ver acrescidas as suas competências e responsabilidades, e, paradoxalmente, a cada eleição, a abstenção não cessa de aumentar.

Entende que deveria ser realizada uma campanha comum, a partir de Bruxelas (em lugar das campanhas nacionais, “partidárias”, em cada país, o que leva a que mais facilmente sejam assimiladas a uma oportunidade para um voto de protesto face aos Governos de cada Estado-membro).

Defendeu também que seria mais transparente para os cidadãos se, à partida, cada Grupo político tivesse o seu candidato próprio, devidamente identificado, a Presidente da Comissão.

Gabriel Silva questionaria sobre a existência de um “plano alternativo”, na eventualidade de não aprovação do Tratado de Lisboa: reformular, reduzindo o conteúdo, ou minimizar a um Mercado Comum?

Kamp diria não poder imaginar / conceber que se retorne a uma ideia de mera comunidade económica… isso já somos há muito tempo! Referiu que não há um plano “B” ou “C”.

O eurodeputado Carlos Coelho interviria então, para esclarecer o seu entendimento relativamente à forma como pderá ser desbloqueado o impasse na aprovação do Tratado de Lisboa, nomeadamente questionando a Irlanda sobre quais os reais motivos que levam a que não tenha apoio popular, incluindo cláusulas de salvaguarda e sujeitando-o a novo referendo. Caso tal não venha a ser exequível, possivelmente teria de se avançar para um modelo alternativo, conhecido geralmente por “Europa a duas velocidades”, deixando sempre em aberto a possibilidade de qualquer Estado-membro poder integrar o “pelotão da frente”.

Rui Castro, pegando na possibilidade de o Tratado de Lisboa não avançar, interrogou sobre quem se sentaria (em “2020”) na “cadeira” como representante da União Europeia nas reuniões com outros parceiros mundiais, pergunta para a qual não existe uma resposta. Kamp apenas referiu, ainda a propósito dos referendos, que, se se pretendesse referendar tudo, a União ainda manteria apenas os 6 membros fundadores… e nunca se teria chegado aos actuais 27.

Pedro Lomba inquiriu sobre quais as matérias em que se nota maior dificuldade em atingir consensos a nível do PPE, ao que Kamp responderia que certas delegações nacionais (nomeadamente a inglesa..) revelam tendencialmente mais dificuldades em estar em “sintonia” com o Grupo do PPE, e não tanto em função das questões.

A encerrar o debate, João Távora solicitou então a indicação de três diferenças principais entre o PPE e o PSE, tendo Kamp respondido:

  • O PPE está a favor de um capitalismo com rosto social
  • O PPE é o Grupo que revela maior interesse em aprofundar uma política internacional relativamente à região dos Balcãs (em aspectos de índole política em militar)
  • Em termos de política a nível mundial, o PPE entende que a União Europeia deverá caminhar para – além de uma união económica – atingir uma união a nível militar, em particular no que respeita à política de defesa comum.

(publicado originalmente em 16.04.2009 – a súmula integral da visita pode ser consultada aqui

1 Julho, 2013 at 9:00 pm Deixe um comentário

2009 – Reunião com Stavros Lambrinidis (Partido Socialista Europeu)

MVR-10

O interlocutor seguinte foi o deputado grego do Partido Socialista Europeu Stavros Lambrinidis (vice-presidente da Comissão de Liberdades Públicas), que começou por salientar que, quando se está longe de disputas partidárias nacionais, é possível debater mais proficuamente entre diferentes famílias políticas na União Europeia e chegar a entendimentos que permitem apresentar propostas comuns.

Porém, revelaria que, em termos genéricos, o Grupo do Partido Socialista Europeu não está satisfeito com o desempenho de Durão Barroso enquanto Presidente da Comissão Europeia – salvaguardando que esta apreciação não tem, naturalmente, qualquer relação com a sua nacionalidade. O PSE entende que a Comissão poderia e deveria ter feito muito mais para promover as questões sociais, o que entende que teria sido útil no actual cenário de crise.

Entende que a selecção do próximo Presidente da Comissão proporcionará um debate bastante interessante, dizendo que essa eleição não terá de ocorrer em Julho, podendo a actual Comissão prorrogar o seu mandato até à data da nova votação no Parlamento Europeu.

Passando aos temas que mais directamente lhe respeitam, relacionados com as questões de liberdades públicas, começaria por recordar que, há 40 anos, não era do conhecimento público que jornais lia (isto, enquadrado num contexto de regime ditatorial na Grécia, que mantinha arquivos confidenciais com informações sobre os “opositores” ao regime).

Em contraponto, hoje em dia é possível dispor de um “rasto” de todos os sites que uma pessoa visita na Internet; não há uma vigilância ditatorial, mas outro tipo de vigilância, à qual, contudo, não demos necessário consentimento explícito.

Questionaria então: “Quais os limites do consentimento que os Governos ou as Companhias podem presumir que os utilizadores lhes conferem?

Reforçando de seguida que se trata de uma situação em que as partes envolvidas não se encontram a par em termos de “força negocial”.

Na Europa de hoje, o risco não é do que nos seja imposto um “Big Brother” do género ditatorial, mas sim um que acabe por decorrer do nosso consentimento (explícito ou implícito).

Poderá alegar-se que, se não temos nada a ocultar, não haverá qualquer problema em ser controlado. Mas o eurodeputado diria antes: “Se não tenho nada para ocultar, é porque não tenho vida… Get a life!”

O ponto fulcral decorre do facto de a tecnologia possibilitar meios desproporcionados de controlo sobre todos… para “apanhar” uma ínfima parte de pessoas que cometem efectivamente crimes. Concluiria, afirmando entender haver portanto uma inversão de uma questão de princípio.

Manuel Pinheiro questionaria então o deputado grego sobre a forma como lida com estas questões enquanto socialista, dando o exemplo concreto do caso de dados clínicos disponíves no sistema de cuidados médicos públicos, interrogando se o que está em causa depende de ser uma entidade privada ou pública a ter acesso à informação.

Lambrinidis referiria que existirá sempre a necessidade inevitável de agregar/partilhar informação/dados. Mas as questões essenciais que selevantam são: “Até que ponto há necessidade de ir na recolha de dados? Quem tem acesso a esses dados? Quantas bases de dados existem (uma centralizada, ou várias descentralizadas)? Durante quanto tempo é mantida a informação? Para que efeitos / por quem pode ser usada?”

São estas algumas das questões-chave que têm de ser ponderadas no âmbito da aprovação de colecta de dados.

Esclareceria então o seu ponto de vista: todas as medidas para restringir as liberdades individuais, terão de ser (condições cumulativas e não alternativas…):

  1. Necessárias
  2. Proporcionadas face aos “abusos/violações” que pretendem prevevir ou evitar

Carla Quevedo recordou então o papel decisivo do controlo para identificar os terroristas em Londres, tendo o deputado colocado novamente ênfase no seguinte aspecto: a vigilância/controlo deve ser limitado ao mínimo indispensável para atingir os fins a que se destina.

A finalizar este encontro, Bárbara Baldaia retomaria a matéria da eleição da Comissão Europeia, questionando se, em caso de eventual alteração de maioria no Parlamento Europeu, iriam insistir no ponto de o Presidente provir da maioria parlamentar.

Stavros Lambrinidis revelaria então que, em sua opinião, Durão Barroso teria problemas e não apenas da parte do Grupo Socialista; nessas circunstâncias, pensa que seria inclusivamente o próprio PPE a optar pela sua substituição, suscitando “a very serious debate on that point”.

(publicado originalmente em 16.04.2009)

1 Julho, 2013 at 7:00 pm Deixe um comentário

2009 – Reunião com Silva Peneda

MVR-10

Prosseguindo uma tarde de reuniões praticamente contínuas, seguiu-se o encontro com o eurodeputado português Silva Peneda, um dos responsáveis nomeadamente por questões de índole social, como o modelo social europeu, que começaria por abordar a questão do orçamento da União Europeia.

Esclareceu que o grande debate se centra a nível das opções a nível plurianual, num horizonte de 7 anos (actualmente em curso as “Perspectivas financeiras 2007-2013), carecendo de aprovação pelo Parlamento Europeu, pela Comissão e pelo Conselho Europeu.

A este propósito, sublinharia que, fruto da convergência dos deputados portugueses e do Governo, foi possível alcançar para Portugal melhores resultados que os inicialmente perspectivados.

Reconheceu que a forma como é negociado o orçamento pode ser apercebida como “pouco transparente” para os cidadãos em geral, justificando a sua opacidade pelo facto de se tratar de uma discussão que é feita “linha a linha”, e em que, inevitavelmente, acaba por suscitar-se a questão de quais os países que são “contribuintes líquidos”, com os Estados membros a sofrerem de alguma forma a pressão das opiniões públicas nacionais perspectivarem as contribuições para o orçamento europeu como um “custo”.

Defendendo que o acréscimo do papel do Parlamento Europeu nestas negociações constitui já uma evolução positiva, indicaria ainda que, a partir de 2009, será iniciada uma reforma das modalidades de negociação do orçamento, com um debate sobre o método de financiamento da União Europeia, num enquadramento em que se perfilam novas prioridades, nomeadamente com a política de coesão decorrente do alargamento da Europa a leste.

Passado de seguida às questões relacionadas com o modelo social europeu, começaria por, numa breve resenha histórica, recordar que o objectivo inicial que presidiu à criação da Comunidade Europeia – o de assegurar uma paz estável e consolidada – foi atingido num enquadramento de prosperidade, e com preocupações com os valores democráticos e sociais.

O actual modelo social denota dificuldades em lidar com problemas suscitados nomeadamente pela globalização, assim como pela evolução demográfica (devido ao envelhecimento da pirâmide), provocando dificuldades acrescidas em termos da sustentabilidade financeira dos regimes de segurança social.

O fenómeno da globalização – que se manifesta de formas diversas consoante as regiões – veio causar uma situação de regiões mais “perdedoras”, em relação ou a favor das quais será necessário proceder a transferências oçamentais, a assegurar por parte das regiões mais “favorecidas”.

A propósito do actual momento de crise global, reflectiria que, comemorando-se os 10 anos de introdução do Euro – que constituiu um caso de sucesso -, não existe contudo, ainda, uma política macro-económica  coordenada a nível europeu, assim como não existe uma política financeira, mas sim 27 políticas nacionais. A União Europeia não dispunha ainda de políticas anti-cíclicas definidas de forma articulada.

O principal problema que se coloca no futuro próximo é a escassez do crédito e o seu preço. O ideal seria que pudesse haver uma espécie de rating europeu ao nível do endividamento, “nivelando” o encargo actualmente associado ao risco-país específico a cada um dos Estados-membros, o que poderia ser conseguido por via de uma única entidade emitente de dívida pública a nível europeu, que canalizaria depois o financiamento obtido para os países que dele necessitassem… o que implicaria necessária e previamente uma haronização de políticas fiscais, ainda distante no horizonte.

A ideia da possibilidade de criação de um imposto europeu não está ainda “madura”, não existindo ainda as condições necessárias para a sua introdução.

Passando à parte dedicada às perguntas e respostas, Rui Castro começaria por questionar qual o valor dos Fundos do QREN não utilizados por Portugal; e, por outro lado, se o acréscimo de peso relativo do Parlamento Europeu pode implicar uma perda de relevância das posições portuguesas (passando de 1/27 Comissários, para 22/736 eurodeputados).

Silva Peneda referiria que se verificam atrasos “inexplicáveis” na aplicação dos Fundos do QREN em Portugal, que atribui a uma incapacidade a nível da máquina montada pelo Governo para a gestão deste quadro de apoio, reforçando que os dois anos de incentivos já perdidos não serão recuperáveis. 

No que respeita ao processo negocial, defende que não será a melhor abordagem a de procurar impor determinado tema como importante para Portugal, mas sim pela via da sua relevância para a Europa no seu conjunto, procurando, na medida do possível, articular posições com outros Estados-membros afectados por cada questão específica.

Daria, a propósito, o exemplo da duração do horário semanal de trabalho, em que, em articulação entre alguns deputados do PPE e o PSE, foi possível derrotar a proposta do Conselho de Directiva, que previa a possibilidade de um horário alargado até um máximo de 65h / semana.

De seguida, Paulo Marcelo, retomando a questão do distanciamento entre os cidadãos e as instituições europeias, com o forte risco de novo acréscimo do nível de abstenção, questionaria se o nosso voto terá consequências / reflexo a nível da escolha dos Comissários e do próprio Presidente da Comissão.

Silva Peneda esclareceu que, podendo não existir uma relação directa entre o voto e as opções orçamentais, tal se deverá verificar a nível da atribuição dos cargos na Comissão Europeia.

João Villalobos perguntaria então quanto “vale” o Dr. Durão Barroso para Portugal, ao que Silva Peneda respondeu que não é possível fazer essa quantificação, mas que “vale muito”; o facto de Portugal ter acesso directo ao Presidente da Comissão é importante.

Maria João Marques questionou depois se a transferência de fundos entre regiões não será penalizador para as que registam melhor desempenho. Silva Peneda concorda que uma política fiscal comum – ainda inexistente – poderia ser mais eficaz. Sendo muito dispendiosa a reconversão intgral de tecidos produtivos de determinadas indústrias, torna-se imperioso o apoio do orçamento europeu, por via da canalização de fundos para essas regiões mais desfavorecidas.

Por fim, Pedro Lomba abordou o que considera ser um grande paradoxo: quando se pergunta aos cidadãos europeus quais as áreas que a Europa deve privilegiar, a primeira resposta é o emprego; contudo, não parecem estar disponíveis para aceitar que a União assuma mais competências a nível de política social (transferência de poderes / “europeização”). Como se resolve este paradoxo?

Silva Peneda concluiria que a Europa é um conjunto de Estados-nação, resultando a identidade europeia do sentimento de pertença / partilha, o qual existe já em matérias em que se entende que há uma necessidade “europeia” colectiva / comum, o que se revela ainda difícil noutras áreas, em que há aspectos que estarão mais especificamente relacionados apenas com algum ou alguns dos Estados-membros.

(publicado originalmente em 15.04.2009)

1 Julho, 2013 at 5:00 pm Deixe um comentário

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