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BLOGOSFERA EM 2005 (XXX)
A 26 de Novembro, o Diário de Notícias, pela pena de Paula Mourato, tratava da “blogosfera no feminino“.
“A CNN do século XXI?” foi o título do artigo de opinião de José Carlos Abrantes, Provedor do Leitor do Diário de Notícias (também organizador dos encontros “Falar de Blogues”), de que apresento de seguida um extracto:
«”Blogo porque quero existir.” Esta entrada de um blogue traduz o sentir de milhões de criadores de blogues. Outras motivações existirão, pois a diversidade humana também se reflecte, necessariamente, neste domínio. A explosão dos blogues tem levantado algumas interrogações sobre o seu papel. Nos media tem-se discutido, sobretudo, se os blogues são ou não jornalismo. Uma corrente considera que a actividade jornalística está ao alcance de todos, pois existe hoje a possibilidade de seguir os acontecimentos, de recolher informação sobre eles e de a publicar nas páginas dos blogues. Outros consideram que a actividade jornalística é uma actividade institucional onde os controlos são múltiplos um texto, mesmo de um director, é visto por outros profissionais antes de ser editado. Estes controlos múltiplos dariam, ao jornalismo, fiabilidade e credibilidade, que os blogues não poderiam reivindicar, pois são formas de expressão imediatas.»
A UBI – Universidade da Beira Interior tem dedicado especial atenção ao fenómeno da blogosfera, de que será melhor exemplo o II Encontro de Weblogs, organizado em Outubro. A fechar esta “viagem” pelo ano de 2005 na blogosfera portuguesa, referência para o Ubiversidade – Informações, ideias, juízos e raciocínios sobre as universidades em geral e as portuguesas em particular, blogue criado por alguns docentes da Universidade da Beira Interior, reflectindo sobre temas relacionados com o ensino superior, com uma interessante lista de elos para outros blogues que tratam da mesma temática e também para blogues afectos ao ensino secundário.
BLOGOSFERA EM 2005 (XXIX)
A 9 de Novembro, o Clube de Jornalistas levava a debate, no programa televisivo n’A Dois, o tema “Os blogues são jornalismo?”, com a presença de António Granado (jornalista do “Público” e autor do Ponto Media), João Alferes Gonçalves (jornalista free-lance e editor do site Clube de Jornalistas), Rogério Santos (professor da Universidade Católica e autor do Indústrias Culturais).
Algumas questões apresentadas no site do Clube de Jornalistas:
– O que significa ser um “cidadão jornalista”? A blogosfera permite que cada cidadão seja um repórter em potência?
– Os blogues podem ser encarados, pelos jornalistas, como fontes credíveis de informação? Quais os limites a sua utilização por parte dos ditos media “convencionais”?
– Os blogues podem desempenhar um importante papel como vigilantes e fiscalizadores da acção dos jornalistas e dos media?
Na segunda metade do mês de Novembro, mais uma iniciativa de Paulo Querido, com “Amizades Virtuais, Paixões Reais – A Sedução Pela Escrita”, um livro de, sobre a Internet, onde se pretende “abrir portas e dar pistas” para uma navegação por páginas virtuais, abordando temas como “A importância do nickname”, “MSN a comunicação segura”, “Blogues: a nova ordem social”ou “Photoblog.de: socializar com imagens”.
A 25 de Novembro, a blogosfera ficava mais pobre, com o termo do Blogue de Esquerda, um dos “blogues fundadores” da blogosfera portuguesa (assinalado com artigo no Diário de Notícias).
… Ao mesmo tempo que se enriquecia com o nascimento, no mesmo dia, do Aspirina B, com a participação de João Pedro da Costa, José Mário Silva, Júlio Roriz, Luis Rainha, Nuno Ramos de Almeida e Valupi.
BLOGOSFERA EM 2005 (XXVIII)
A blogosfera seria novamente “sacudida” com o anúncio da Lei n.º 53/2005 de 8 de Novembro, criando a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, extinguindo a Alta Autoridade para a Comunicação Social, de que se destacavam os “dúbios artigos”:
“Artigo 6.º
Âmbito de intervenção
Estão sujeitas à supervisão e intervenção do conselho regulador todas as entidades que, sob jurisdição do Estado Português, prossigam actividades de comunicação social, designadamente:
a) As agências noticiosas;
…
e) As pessoas singulares ou colectivas que disponibilizem regularmente ao público, através de redes de comunicações electrónicas, conteúdos submetidos a tratamento editorial e organizados como um todo coerente.”
Visando obter esclarecimento sobre as questões colocadas a propósito da eventual aplicação aos blogues das competências da nova Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Luís Santos (Atrium) dirigiu um e-mail directamente ao Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva.
As perguntas efectuadas e a resposta integral, obtida no início de Dezembro, proveniente do Gabinete do Ministro, podem ser lidas aqui.
A conclusão final é a seguinte:
«Sucede que, visando salvaguardar o direito à liberdade de expressão consagrado no artigo 37º da Constituição da República Portuguesa, a proposta de Lei apresentada pelo Governo pretendeu excluir, de forma notória, as comunicações electrónicas de conteúdo privado e de conteúdo não comercial (como, em regra, serão os “blogs”). Assim, foram incluídas as expressões “submetidos a tratamento editorial” (cfr. Lei da Imprensa) e “organizados como um todo coerente”.
Daqui decorre que, enquanto não assumirem uma linha editorial definida, através da sujeição das opiniões nele vertidas a um tratamento uniformizador, de cunho editorial, os “blogs” não serão enquadráveis na alínea e) do artigo 6º dos Estatutos.
Porém, como já supra demonstrado, a não inclusão directa numa das alíneas do referido artigo 6º não obsta a que as entidades responsáveis pelos conteúdos difundidos pelos “blogs” não possam vir a ser abrangidas por decisões da ERC, desde que o respectivo Conselho Regulador ou, em caso de recurso judicial, os tribunais considerem que os conteúdos em causa se enquadram no conceito de “actividade de comunicação social”.»
BLOGOSFERA EM 2005 (XXVII)
No mesmo dia, surgia o prometedor French Kissin’, de João Morgado Fernandes, sucedendo ao “Terras do Nunca”.
Dia após dia, a blogosfera não deixava de nos “surpreender”, reafirmando a sua vitalidade e a sua capacidade de renovação; nascia também por esses dias de meados de Outubro um novo projecto, o Sociedade Anónima – A Irmandade dos Anéis, um blogue no feminino, inicialmente construído a 22 (!) mãos (actualmente, a 30!)…
A 28 de Outubro, no Diário de Notícias, Miguel Gaspar anunciava que “A campanha também bloga”, interrogando: “Que influência terá na campanha o fórum político que dá pelo nome de blogosfera?“.
“A resposta é, obviamente, que a blogosfera criou novas condições para a expressão pública de opiniões divergentes do mainstream político e mediático. A importância da blogosfera é precisamente a de permitir outro tipo de discursos”.
E, concluindo: “É por compreenderem que, embora atingindo apenas um grupo restrito de cidadãos (apenas aqueles que têm acesso à Net), a blogosfera introduz ideias e discursos alternativos aos dos meios de comunicação. E as ideias, muitas vezes, contam mais do que os números – algo que tendemos a esquecer quando pensamos apenas nos números das sondagens ou das audiências.”
A 2 de Novembro, num inédito movimento na blogosfera nacional, mais de 200 blogues (dos quais cerca de 120 divulgando, logo no primeiro dia, o seu início) anunciavam o nascimento do Proximizade, blogue de causas solidárias.
BLOGOSFERA EM 2005 (XXVI)
Na sequência do II Encontro de Weblogs, em mais uma iniciativa de Paulo Querido, surgia, a 18 de Outubro, a “.Blogopedia”: uma excelente e aliciante ideia, a de, com base na tecnologia “wiki”, recorrendo ao trabalho colaborativo de todos os interessados, criar uma “Enciclopédia dos Weblogs e Bloggers de Língua Portuguesa”.
“O projecto Blogopedia visa criar, e manter actualizada, uma enciclopédia dos weblogs e bloggers que editam em língua portuguesa.
A enciclopédia contém ainda artigos e estudos sobre os blogues e outros espaços de de comunicação na emergente cultura da partilha em que vivemos na rede.
Depois da sistematização da informação e numa segunda linha de objectivos, esta enciclopédia contribuirá para ajudar a comunidade a auto-referenciar-se positivamente através das apresentações dos autores.
Esta enciclopédia é mantida pelo trabalho voluntário de todos quantos queiram participar no projecto. Está aberto a todos. A edição de conteúdos requer uma conta (login) para dignificar o projecto e ainda para minimizar os danos com spam de natureza informática ou humana.
Todos os conteúdos ficam sujeitos à licença GNU FDL, ou seja, são de livre distribuição desde que mantida esta forma de licenciamento e não poderão ser propriedade de ninguém.
A Enciclopédia será sempre de acesso gratuito e livre de publicidade; pretende-se torná-la independente e colocá-la rapidamente ao abrigo de eventuais vicissitudes com o servidor de origem. Isto implica o financiamento por donativos da comunidade; as respectivas contas serão tornadas públicas em permanência (ainda que protegidas as identidades de origem dos donativos).”
BLOGOSFERA EM 2005 (XXV)
A intervenção final do II Encontro de Weblogs foi assegurada por José Luis Orihuela (e-Cuaderno), que encerraria com “chave-de-ouro” esta reunião de bloggers e estudantes universitários.
Iniciou a sua comunicação apontando 10 chaves para a compreensão do impacto dos blogues:
1. Do “iceberg” ao “geiser” – estima-se que haja hoje já 100 milhões de blogues em todo o mundo; já (quase) toda a gente tem um blogue.
2. “Killer applications” – o surgimento de diversos serviços online (tendencialmente grátis) que potenciaram a expansão dos blogues (Bloglines, Skype, Flickr, Technorati, del.icio.us, WordPress, Mozilla Firefox, …).
3. “Social Media” – emergência de “meios sociais” (exemplo: wikipedia, “we the media” e “we media” – estudos online).
4. “Corporate blogging” – tendência crescente dos blogues como ferramenta de comunicação empresarial (para comunicação internamente e gestão de projectos).
5. “Commercial blogging” – proliferação de anúncios nos blogues (“ad-words”).
6. “Media blogs” – os próprios meios de comunicação tradicionais acabaram por criar os seus próprios blogues.
7. RSS + Tagging – a sindicância de conteúdos e a “etiquetagem” (palavras-chave associadas a cada texto) facilitou decisivamente a leitura / consulta dos blogues que mais nos interessam.
8. “Podcasting” – inclusão de som nos blogues (rádios “personalizadas”, “navegáveis”).
9. “Googleization” – afirmação do “império Google” no mundo da blogosfera, com uma série de aplicações: Google Talk, Google Blog Search, Google Mail, … Será a Google a próxima “Microsoft”?
10. “Infopollution” – A “boa notícia” é que todos podemos publicar os nossos textos / fotos; a “má notícia” é que… todos podemos publicar!… O valor de qualquer infromação é condicionado pela probabilidade de que possa ser encontrada. A equação proposta foi: – ruído + valor = blogues temáticos
Concluiria a sessão com a apresentação de 5 pistas de evolução futura deste fenómeno:
1 – Convergência – social networking + RSS + wikis + e-mail + …
2 – Novos formatos multimedia – videoblogues, audioblogues e a “portalização” dos blogues (com um interface mais “amigável” e com um índice global disponível no corpo da página).
3 – “Blogonomics” – empresas, instituições e mesmo meios de comunicação acabarão por contratar bloggers para manter os seus blogues “institucionais”.
4 – “Web 2.0” – a Internet “das pessoas”; já não um “mero repositório” de informação dispersa, mas um lugar de encontro, de intercâmbio, construído de forma colaborativa por todos os intervenientes.
5 – “Blogosfera 3.0” – depois da “blogosfera 1.0” (de 1992 a 1999, desde o What’s New até ao surgimento da plataforma blogger) e da “blogosfera 2.0” (de 1999 a 2004 – até à palavra blogue como “word of the year”), é altura de entrar em acção a “blogosfera 3.0” (desde a AOL – Weblogs Inc. até EPIC).
Pode saber mais sobre o II Encontro de Weblogs, aqui.
BLOGOSFERA EM 2005 (XXIV)
Na ausência do coordenador do grupo de trabalho “Weblogs e Imagem” (José Carlos Abrantes – As Imagens e Nós), coube a Ricardo Bernardo (Zone 41) apresentar as principais conclusões.
Começou por referir não haver um estudo ou levantamento que permita dispor de uma ideia clara sobre o panorama nacional dos blogues nesta área da imagem.
A principal questão que se coloca relaciona-se com os direitos de autor sobre as imagens que publicamos nos blogues e a necessidade de colocar referências à origem dessas imagens.
Outra matéria abordada pelo grupo de trabalho foi a do design dos blogues e outros sinais de identidade, antevendo-se que os criadores podem ter no design de novos lay-outs ou templates um novo campo de acção.
Concluiria a sua intervenção, dando exemplos de dois blogues orientados para esta área da blogosfera: A Cidade surpreendente (imagens do Porto) e o Sound + Vision (de João Lopes e Nuno Galopim).
A penúltima intervenção do II Encontro de Weblogs ficou a cargo de Paulo Querido (Mas certamente que sim! ), também responsável pela plataforma weblog.com.pt e jornalista do Expresso, com vários artigos publicados sobre a blogosfera.
A sua comunicação subordinou-se ao tema “Para onde vai a liberdade?”, tendo iniciado referindo que os portugueses parecem “desconfiar” dos poderes político e mediático (curiosamente, o mesmo não se aplica relativamente ao poder económico).
Os blogues parecem querer, não apenas notificar os jornalistas do que deverá ser notícia, não apenas estabelecer a agenda, mas, mais que isso, ainda ameaçam os governantes de fiscalizar o poder político, tornando-se um tipo de “watchdogs”.
Um dos aspectos que referiu com maior entusiasmo foi a importância do RSS (Really Simple Syndication), que proporciona grande liberdade aos leitores da blogosfera, permitindo-lhes acompanhar, praticamente em “tempo real”, as actualizações dos seus blogues preferidos.
Levantaria a questão da notoriedade / identidade / relevância, aspectos que raramente serão coincidentes; daria a propósito, entre outros, um exemplos na área da literatura, demonstrando que o facto de ser o mais lido não significa necessariamente uma capacidade proporcional de influenciar os leitores. Estas questões não poderão ser descuradas pelos grupos de pressão (lobies) que vão surgindo pela blogosfera.
Sobre a importância da blogosfera, referiu o papel de intermediação que tradicionalmente competia aos jornais, agora em processo de transferência para a Internet, levantando-se uma questão essencial; para que esse papel seja útil, tem de ser assumido por pessoas com a capacidade de filtrar o essencial face ao acessório (separar “a voz” do “ruído”).
Concluiria alertando que a blogosfera pode ter duas faces: por um lado, tem a virtualidade de permitir dar voz, proporcionando uma liberdade de expressão; por outro, pode ser propícia à potencial instrumentalização de uma tecnologia da qual nos tornámos dependentes.
BLOGOSFERA EM 2005 (XXIII)
Luís Santos (Atrium) faria referência aos principais aspectos analisados pelo grupo de trabalho “Weblogs e jornalismo“.
Começaria por referir que os blogues contribuem para ampliar / acrescentar informação à que está já normalmente disponível nos meios de comunicação tradicionais, mesmo que respeitante apenas a “micro-áreas” da sociedade.
Outro papel que os blogues vêm assumindo é o de acompanhar os meios tradicionais, como “watchdog” ou uma espécie de “provedor”.
Notaria a existência de blogues mantidos por jornalistas, sobre a sua actividade profissional, a par de outros blogues, mais orientados para a vertente de formação em jornalismo.
Como principais aspectos de evolução desta área da blogosfera, entre 2003 e 2005, apontou nomeadamente:
– o impacto do RSS, que se acentuará no futuro próximo
– a consolidação de “audiências” (apesar de preferencialmente frequentados por leitores de alguma forma relacionados com o jornalismo ou a aprendizagem do jornalismo)
– os comentários identificados (existindo até uma regra, de apenas responder a comentários não anónimos).
Seguiu-se Mónica André (B2OB), coordenadora do grupo de trabalho “Weblogs no contexto organizacional“, que começaria por notar que os blogues são uma ferramenta, à qual podem ser dadas distintas utilizações.
Destacou a possibilidade que proporcionam de estreitamento das distâncias, promovendo conversas a nível global.
Sobre a situação portuguesa, referiu que parece não ter ainda despertado o interesse pelos blogues no contexto organizacional, sendo a dimensão desta vertente dos blogues ainda muita diminuta em Portugal.
Apontou os blogues como instrumento para dar visibilidade às competências / projectos de cada colaborador de uma entidade ou organização.
Citaria dois casos conhecidos: a plataforma de blogues da Assembleia da República que, até à data, não vingou; e, por outro lado, o caso da TBWA, em que os trabalhos desta agência de publicidade são divulgados via blogue. Referiu, a nível internacional, os casos da IBM e da HP, como exemplos de entidades que adoptaram os blogues no contexto organizacional.
Concluiria afirmando que o tipo de utilização depende da missão de cada entidade ou instituição; que público se visa atingir (interno ou externo), lançando uma questão de relevo: “Quem, dentro da organização, deverá (man)ter blogues?”
BLOGOSFERA EM 2005 (XXII)
O coordenador do grupo de trabalho “Weblogs e Política“, Pedro Mexia (Estado Civil), apresentaria, conjuntamente com Nuno Jerónimo (o “Statler”, do Blogue dos Marretas) as principais conclusões sobre esta área da blogosfera.
Pedro Mexia começou por referir não considerar que exista qualquer unidade global ou continuidade entre os blogues, para além da plataforma técnica, pelo que não será adequado proceder a generalizações.
Falando sobre as origens da blogosfera em Portugal, referiu que a Coluna Infame foi o primeiro blogue predominantemente político, cuja suspensão seria inclusivamente objecto de referência no Editorial do Público. Com o surgimento do Blogue de Esquerda, gerar-se-ia um intenso debate sobre a guerra do Iraque e as tendências pró ou anti-americanas. Em termos gerais, considera-se que a entrada de Pacheco Pereira (Abrupto) veio contribuir para credibilizar a blogosfera, o que Pedro Mexia questiona.
Parecendo que, com a queda do muro de Berlim, se esbatera a tradicional clivagem entre direita e esquerda, de repente, voltava a falar-se insistentemente nessa dicotomia, sobretudo no segmento de “Direita” (relativamente ao qual continuava a notar-se um certo receio de assumir a definição).
Pedro Mexia aponta o papel da blogosfera na desmultiplicação de pontos de vista, dado que, basicamente, os jornais exprimem as opiniões do “Bloco Central”; na realidade, não se limitando o espaço político ao PS e PPD/PSD, nos blogues, naturalmente, surgiram representantes de todo o espectro político, de todas as sensibilidades (inclusivamente com uma “sobre-representação” dos extremos, quer do Bloco de Esquerda, quer do CDS-PP), o que é algo muito enriquecedor em relação à comunicação social tradicional.
Um dos grandes interesses dos blogues é a criação de comunidades; “redescobrir” pessoas com os mesmos interesses, as mesmas ideias, que lêem os mesmos livros.
Em relação aos blogues políticos como instrumentos de polémica – a chamada “parada e resposta” – considerou que teve uma fase interessante (entusiasmante e mesmo lúdica, em termos de retórica) no início; hoje, já se torna tudo demasiado previsível (o factor surpresa esgota-se ao fim de um determinado número de “posts”).
Sobre a vertente humorística, irónica e de sarcasmo, Pedro Mexia considera que os blogues que inicialmente adoptaram esse registo, “contaminaram” o resto da blogosfera; em consequência, a tendência é para que, num debate entre uma pessoa tecnicamente muito preparada e um blogger irónico, a primeiro “perca esse debate”.
Concluindo a sua intervenção, referindo o papel dos blogues como espaço de intervenção pública, sublinhou que isso implica a necessidade de respeitar princípios ou regras deontológicas. Finalizaria, referindo que, para além de as pessoas “comuns” terem adquirido um espaço de intervenção, assiste-se paralelamente a uma multiplicação do espaço de intervenção de jornalistas e outros actores políticos, que dispunham já de outras tribunas.
Nuno Jerónimo retomaria a vertente das comunidades de interesses, organizadas em blogues colectivos, facilitando assim o acompanhamento da actividade política, o que, curiosamente, acabaria por, nas questões mais polémicas, levar inclusivamente a discussões internas entre os membros de um mesmo blogue.
Para além dos blogues colectivos, referiu ainda o caso de “A Mão Invisível“, que opera como uma “plataforma conjunta” de pessoas que escrevem em vários outros blogues, referindo-se-lhe mesmo como uma “espécie de revista online ou coluna de opinião”.
Concluiria fazendo referência às questões clássicas no debate político blogosférico: “O que é o liberalismo? O que é ser conservador? O que é ser de direita e/ou de esquerda? A que direita / esquerda é que pertencem?”
BLOGOSFERA EM 2005 (XXI)
Rogério Santos (Indústrias Culturais) assumiu a coordenação do grupo de trabalho “Weblogs no ensino“, tendo apresentado as principais conclusões, com referência a exemplos de blogues ligados a esta área, desde logo referindo o blogue de António Granado (Ponto Media), nomeadamente como forma de contacto com os seus alunos de “ciberjornalismo”, passando também pelo Jornalismo Digital, Jornalismo e Comunicação, Aula de Jornalismo e Jornalismo Porto Net.
Referiria ainda o Irreal TV (de Francisco Rui Cádima) e o Net FM (de Paula Cordeiro), fechando com o Geografismos (“cadernos diários electrónicos”, administrados directamente pelos alunos).
Destacou o papel de suporte de apoio não presencial no ensino, assim como as suas potencialidades de interactividade / trabalho colaborativo, em ambos os sentidos (professor – aluno), contribuindo também, de alguma forma, para reduzir as “barreiras hierárquicas”.
Apontaria como conclusão final do grupo de trabalho que os blogues no ensino constituem uma alternativa válida, a nível da gestão de conhecimento em comunidade, consubstanciando-se numa ferramenta para a alfabetização digital.
Jorge Bacelar (Blogue dos Marretas), coordenador do grupo de trabalho “Weblogs e cultura” destacaria também alguns exemplos de blogues da área cultural, começando pelo incontornável Janela Indiscreta, referindo também o Escrever para o boneco, na área da ilustração.
Algumas das questões suscitadas no debate entre o painel de bloguistas integrante do grupo de trabalho prendem-se com a autoria e os “direitos de autor”, realçando a questão ética da citação / referência (nomeadamente por via de links) das fontes.
Foi também referido o aspecto da “censura” / auto-regulação, com o exemplo do caso chinês, com o Estado a monitorizar os conteúdos, mas também com os casos Muito Mentiroso e Do Portugal Profundo, em que, em Portugal, de alguma forma se pretendeu controlar os conteúdos.
Uma das conclusões referidas foi a de que os blogues culturais são pontos de encontro de micro-comunidades que partilham interesses, chegando mesmo a aspectos muito específicos (como, por exemplo, ser fã de uma banda de garagem que mais ninguém conhece!…).
Encerraria a sua intervenção recuperando a questão da necessidade de criação de um arquivo / “memória” – os blogues como um acervo documental que permitisse aos estudiosos do futuro dispor de documentação que permitisse caracterizar os tempos de hoje (criar uma espécie de “Torre do Tombo virtual”).