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BLOGOSFERA EM 2006 (XXX)

A 18 de Dezembro, no Viridarium (blogue dedicado à História das Ciências, mantido pelo Centro de Estudos de História das Ciências Naturais e da Saúde), Clara Pinto Correia – num exemplo de jornalismo na blogosfera – entrevista o Reitor da Universidade de Lisboa, José António Sampaio da Nóvoa.

time-you.jpgNo mesmo dia, a revista TIME, na sua edição referente a 25 de Dezembro, designava como “Personalidade do ano”, “YOU“; nós, os utilizadores da Internet, que “controlamos a era da informação”!

O ano de 2006 encerra com mais uma polémica, a do “Cartão único do Cidadão”, com Francisco José Viegas a manifestar a sua discordância, em oposição, por exemplo, à opinião advogada por João Miranda, no Blasfémias.

Também a 29 de Dezembro, é apresentado o blogue relativo à eleição dos melhores livros de 2006 (a anunciar em 25 de Janeiro de 2007), com uma primeira emissão especial do programa “Escrita em Dia”, na Antena 1, a 31 de Dezembro.

E, fazendo já a “ponte” para o ano de 2007, ficam em agenda as sessões de “Falar de blogues“.

30 Dezembro, 2006 at 9:34 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXIX)

Também a 13 de Dezembro, o comentador e analista Nuno Rogeiro, em deslocação a Teerão, a convite do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão, participava em conferência sobre o tema “Revisão do Holocausto: uma Visão Global”.

Não faltaram na blogosfera comentários sobre a ocorrência, apontando a Nuno Rogeiro o facto de a sua presença ser apercebida como forma de caucionar este encontro “revisionista / nazi / racista”, cujo mote essencial constava na “negação” da realidade do Holocausto (vidé – a título exemplificativo – Daniel Oliveira, no Arrastão, ou Helena Matos, no Blasfémias).

Nuno Rogeiro, ele próprio colaborador de um blogue, apresentaria a sua versão do sucedido n’O Futuro Presente (publicando inclusivamente o texto da alocução que seria suposto proferir), e ainda, também, em entrevista ao Expresso.

A 15 de Dezembro, a blogosfera “abraçava” uma nova “micro-causa”: a petição “anti-TLEBS” – ver, por exemplo, o filme produzido pelo 31 da Armada, com a participação de Francisco José Viegas  (que já anteriormente se pronunciara) e Pedro Mexia, assim como esta imperdível entrada em “Foram-se os anéis“, ou o Adufe, Aspirina B, Blasfémias, Miniscente, para além de outras entradas anteriores no Quarta República (também aqui), Da Literatura, Portugal dos Pequeninos ou no Tomar Partido.

Em “contra-ciclo” – relativamente à petição, que não no que à questão de fundo respeita – a ler João Morgado Fernandes, no French Kissin’.

Ainda a propósito da “TLEBS” – Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, a visitar a página do Ministério da Educação… e, nos jornais, estes artigos no Diário de Notícias (por Vasco Graça Moura – também aqui – e Vicente Jorge Silva).

29 Dezembro, 2006 at 8:34 am 2 comentários

BLOGOSFERA EM 2006 (XXVIII)

A 10 de Dezembro eram anunciados os vencedores dos “Melhores Blogues 2006”, conforme eleição promovida pelo Geração Rasca, abrangendo as seguintes seis categorias:

Melhor Blog Individual FemininoMiss Pearls
Melhor Blog Individual MasculinoEstado Civil
Melhor Blog ColectivoBlasfémias
Melhor Blog TemáticoForam-se os Anéis
Melhor BlogBlasfémias
Melhor Blogger – Francisco José Viegas (A Origem das Espécies).

Por estes dias, discutiam-se amplamente as implicações do livro de Carolina Salgado, “Eu, Carolina”, em que revela aspectos da sua vida em comum com Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto, alegadamente envolvido em casos de corrupção de árbitros, também implicado em agressão a antigo vereador da Câmara de Gondomar, cuja denúncia terá despoletado o caso “Apito Dourado”.

E, tendo por mote o debate blogosférico a propósito do tema, Pedro Rolo Duarte escrevia no Diário de Notícias, a 13 de Dezembro, o artigo “Um livro que alterna“, em que “classifica os blogues em dois patamares”:

“Por razões profissionais, tenho sido um atento leitor da blogosfera nacional. Independentemente dos juízos de valor que possa fazer sobre este movimento comunicacional, distingo claramente dois patamares de blogues: os que, por serem assinados por personalidades mais ou menos conhecidas (jornalistas, políticos, intelectuais, escritores), gozam de uma relevância que lhes garante alguma influência na rede, e obedecem até a uma espécie de “livro de estilo” que os inscreve numa normalidade próxima dos media clássicos; e os outros, dos anónimos cidadãos, criados muitas vezes ao sabor de uma paixão ou de um ataque de raiva, e que obedecem somente aos “ventos” dos seus autores. Os primeiros são extensões de pessoas, causas, jornais, grupos de cidadãos. Os segundos são, na realidade, a vox populi que habitualmente se encontra nos cafés, nos barbeiros, nos cabeleireiros – e que agora está ali, também, ao alcance de um clique.

[…]

Observando os dois patamares da blogosfera, o que se verifica é que o livro de Carolina Salgado desestabilizou de tal forma a comunidade que encontro reacções cruzadas: há gente circunspecta e de “referência” a brincar com o tema, e há pura vox populi a descobrir motivos de séria apreensão.”

28 Dezembro, 2006 at 8:25 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXVII)

A 12 de Novembro, o Tugir, numa iniciativa inédita, transmitia imagens em directo do Congresso do PS.

No dia seguinte, o Geração Rasca lançava a ideia da eleição do “Melhor blogue do ano”.

Entretanto, no espaço de cerca de duas semanas, 9 novos blogues vêem a “luz do dia”, merecendo uma referência particular, em mais uma demonstração da capacidade de renovação na blogosfera:

Revitalização da Baixa-Chiado, do Diário de Notícias – “O DN está a promover um debate público sobre o plano de revitalização da Baixa-Chiado. Participe com a sua opinião.” – abrindo com um texto de António Mega Ferreira;

O Carmo e a Trindade – Também para debater a cidade de Lisboa, com a participação, entre outros, de Catarina Portas, Eurico de Barros, Fernanda Câncio, Jacinto Lucas Pires, João Carvalho Fernandes e Jorge Ferreira;

Get a (Second) Life!, de Catarina Campos, relatando o dia a dia da sua “realidade virtual”, numa espécie de “vida paralela”, no “Second Life” (um mundo virtual em 3 dimensões!…);

Coreia do Norte – “Um Segredo de Estado” – de Rita Colaço, relatando as suas vivências no “país mais fechado do mundo”, em reportagem ao serviço da Antena 1;

Lx Repórter, “um blogue de notícias e reportagens, que pretende informar e noticiar factos, respeitando o Código Deontológico dos Jornalistas”, de Miguel Marujo;

O Pulo do Gato, de Fernando Sobral;

Roupa para lavar, do jornalista Jorge Fiel (na “plataforma” do Expresso);

Cibercidadania, de Paulo Querido (igualmente na “plataforma” do Expresso), “O blogue dos poderes, responsabilidades e comportamentos na rede”, visando iniciar a reflexão sobre estes temas e criar as condições para o seu cumprimento;

31 da Armada – “O primeiro blog de terceira geração”, contando com a participação de uma vasta equipa, reunindo alguns bloggers já com grande experiência, como Alexandre Borges, Carlos do Carmo Carapinha, Diogo Belford Henriques, Luciano Amaral, Nuno Costa Santos, Paulo Pinto Mascarenhas, Rita Barata Silvério e Rodrigo Moita de Deus, entre outros.

Entretanto, a 27, José Pacheco Pereira alertava, no Abrupto, para uma tendência emergente na blogosfera:

Será interessante acompanhar o nascimento, evolução (e, se se mantiver a tendência do passado, a morte por inanição) de blogues políticos que, pelos seus meios profissionais, se percebe terem financiamentos próprios cuja origem é desconhecida. É um fenómeno novo que mostra a importância crescente da blogosfera e do qual não vem nenhum mal, se existir um pouco mais de transparência. No fundo, trata-se de política pura e dura e não de qualquer actividade amadora e lúdica pelo que saber quem paga é relevante. Relevante e instrutivo.”

27 Dezembro, 2006 at 8:31 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXVI)

A 9 de Novembro, no Público (texto já anteriormente referido), a propósito do anonimato nos blogues, Pacheco Pereira apresenta novas reflexões sobre o fenómeno:

 “A DIFERENÇA ENTRE UM QUIOSQUE E A BLOGOSFERA”
José Pacheco Pereira

“Se eu olhar para um quiosque de jornais como muita gente olha para os blogues, o que eu vejo é isto: Maria, O Jornal do Crime, A Mãe Ideal, Novenas Milagrosas, Lux, VIP, Nova Gente, Maxman, o Borda de Água, Público, Flash!, Única, 24 Horas, Nova Cidadania, TV Guia, TV Mais, Ana, Teleculinária, MM, Saúde, Record, Atlântico, A Bola, Autosport, Correio da Manhã, O Diabo, uns títulos em ucraniano, o Guia Astrológico, Os Meus Livros, Cosmopolitan, Prevenir, Sporting, Blitz, Guia Astral, Mini-Recreio, Activa, GQ, Diário de Notícias, Selecções…

Se abrir as folhas ao acaso, como se consultar blogues ao acaso, coisas sinistras estão sempre a cair de dentro das folhas: notícias falsas, especulações, falsidades anónimas, plágios, voyeurismo, egos à prova de bala, ignorância, erros, invejas, ajustes de contas, presunção, arrogância, esquemas diversos, banha da cobra, cobras. Há gente que fala com Deus e gente que namora o Diabo, há quem coma a namorada, como o Dr. Lecter, há o professor Karamba, e há umas meninas para todos os gostos, há extraterrestres, boatos, insinuações, muita “informação” anónima, pornografia strictu sensu, pornografia intelectual, quartos à hora, hotéis à noite, etc., etc. Uma selvajaria, o Mundo Cão, o Faroeste, os baixos fundos, o jet set, um conde, o tatuador, a tatuada, a esposa, o marido, a amante, o escroque, o bondoso, o franciscano e o tolo…

Ah! Diz-me uma voz, mas estás a misturar tudo! Pois estou, é como fazem os que falam dos blogues misturando tudo, como Miguel Sousa Tavares e Eduardo Prado Coelho fizeram recentemente para se defenderem (o que é legítimo) de acusações e falsificações anónimas. É verdade que os jornais e revistas têm responsáveis e não são como as cartas anónimas, ou os blogues que funcionam como cartas anónimas, mas quando os primeiros transcrevem os segundos ficam iguais. No caso do Miguel Sousa Tavares, o que falhou foi a imprensa tradicional, que aceitou citar fontes anónimas, sem um julgamento de mérito. A notícia não é que um blogue anónimo acuse Miguel Sousa Tavares de plágio, a notícia é que Miguel Sousa Tavares cometeu plágio, se o tivesse cometido, e aí o autor da notícia devia fazer o seu próprio julgamento e só publicar caso esse julgamento fosse que sim. Não sendo, o blogue é como uma carta anónima, incitável e inaceitável. Foi isso que falhou e hoje em dia falha cada vez mais, porque a comunicação social escrita precisa de pretextos para violar as regras de que se gaba como sendo distintivas e, na Internet, encontra-os com facilidade, entrando depois facilmente na selvajaria. Está lá no computador, para milhões verem, por isso está “publicado”, logo posso citar e levar a sério, sem ter responsabilidade.

O mal não está nos blogues em si, está na nossa incapacidade para ler e escrever blogues, como para ler e escrever jornais com uma decência mínima. O problema é mais comum do que se pensa, embora seja verdade que as pessoas se sentem mais impotentes para se defenderem da Internet do que no mundo da comunicação social tradicional, mas o que é crime cá fora é crime lá dentro.

Mas a reacção aos blogues, selvagens, inúteis, desviadores da atenção, perdulários do nosso tempo, oculta-nos muita coisa de interessante que está a passar-se diante dos nossos olhos e que não percebemos porque os vemos tão misturados como o Jornal do Crime está com o Público no quiosque de jornais, ou como se o Público para falar de ciência citasse o Guia Astrológico como fonte. Os blogues são apenas uma das pontas do mundo novo em que já estamos, uma pequena ponta, mas tão reveladora que mesmo estes episódios lesivos de Miguel Sousa Tavares (acusado de plágio) e de Eduardo Prado Coelho (que tem um texto falso a circular na Rede) são dele sinal. Ora nunca ninguém disse que era o Admirável Mundo Novo, a não ser os utopistas que pensam que as tecnologias mudam o mundo sem o pano de fundo das sociedades onde elas existem.

Vamos admitir, o que não me custa nada, porque até acho que é verdade, que mais de 90 por cento do que está na blogosfera é lixo. Temos em seguida que convir que também 90 por cento do que está nos quiosques é lixo, a julgar pelo nosso quiosque. Não é por aí que se faz a diferença. Para isso é preciso olhar com um pouco mais de atenção quer para os 90 por cento de lixo, quer para os 10 por cento sobrantes, porque, tendo muita coisa em comum, têm também diferenças importantes. Para se perceber o que está a mudar no conjunto do sistema comunicacional temos que analisar o lixo e o luxo na Rede.

O lixo nos blogues, como antes (e agora) o lixo na Rede têm muito de comum com o lixo nos diários pessoais, nos jornais locais, nos boletins de paróquia, nas rádios locais, nos panfletos partidários, nas cartas anónimas, na pequena, grande e média comunicação social, nessa imensa voz entre sussurrada e gritada que nos acompanha sempre, na maioria dos casos como pura estática, lixo escrito, lixo dito, lixo visto. Mas tem diferenças interessantes como esta que não é meramente quantitativa: mais indivíduos falam na Rede do que alguma vez falaram em jornais, revistas, diários, cartas anónimas ou assinadas.

O número espantoso dos milhões de blogues, com o seu crescimento exponencial, é um fenómeno radicalmente novo. Estes milhões de pessoas que escrevem na Rede, em nome próprio, com pseudónimos ou anonimamente, são uma manifestação da principal característica das sociedades pós-industriais, as que nasceram em espaços urbanos dominados por serviços, pela produção, distribuição e consumo de informação – são sociedades de massas, onde impera o que antigamente se chamava “psicologia de massas”. São ainda poucos, mas são o primeiro destacamento, o destacamento loquaz, o que anuncia o que aí vem, os que ocupam o espaço público com as suas vozes no mesmo movimento com que um centro comercial se enche quando abre as portas às 10 da manhã, ou o prime time das novelas fica habitado das suas audiências, ou as praias do Algarve e os estádios de futebol se enchem.

Essas pessoas falam porque têm alguma coisa a dizer? Acrescentam alguma coisa ou são elas mesmo um sinal de cacofonia? Depende como se vê a questão: elas têm alguma coisa a dizer porque querem dizer alguma coisa – essencialmente que existem e que são elas que vão mandar, que são elas que já mandam. O que têm a dizer não é novo, é ruído, é pobre, é insignificante em termos culturais, estéticos, criadores, mas é a voz que fala cada vez mais alto, a voz que se ouve, a estática gerada pelas multidões e que exige ser ouvida nas sondagens, nas pseudo-sondagens dos telefonemas para dizer sim ou não, nas audiências da televisão, a que não quer esperar, não quer delegar, não quer aprender, não quer sofrer. Quer tudo e já, e só não o tem porque os “políticos” a enganam e desviam.

O número dos blogues significa que também, pouco a pouco, as massas das sociedades de massas chegam à Rede como nunca antes chegaram aos jornais ou chegam hoje à televisão. Trazem com elas aquilo que antes, nos primeiros parágrafos deste texto, chamei “selvajaria”: não querem mediações, que são o poder do passado, o poder dos intelectuais, o poder dos antigos poderosos. Querem democracia “participativa”, não querem democracia representativa, não querem saber de nada que possa significar privilégio dos sábios, ricos e poderosos. Não prezam a intimidade e a privacidade, porque no seu mundo não existem e não são valores, não prezam a propriedade porque a têm pouco, são anti-intelectuais, combatem todos os que parecem atentar ao seu igualitarismo funcional e punem-nos na Rede como gostariam de os punir cá fora: “é bem feito” é a expressão que mais se ouve por todo o lado. Miguel Sousa Tavares é “arrogante”, o “povo” acusa-te de plágio; Eduardo Prado Coelho mandaste na intelectualidade durante muito tempo, leva lá com um texto falso para aprenderes que aqui somos todos iguais! Por bizarro que pareça, tudo isto foi escrito em linha, quer em caixas de comentários, as furnas da Internet, quer nos blogues anónimos e ignorados, os degraus superiores do Inferno.

É por isto que os blogues são interessantes, porque se move ali um monstro, que existe bem fora dos electrões. Esse monstro fala – nos blogues e nos jornais – e nós não o queremos ouvir porque ele nos coloca em causa, coloca em causa o lugar que ocupamos. Ele luta ali pelas suas regras próprias e não pelas que tomamos por adquiridas e, desse ponto de vista, convém conhecê-lo muito bem. É por isso que se aprende mesmo com os 90 por cento de lixo na blogosfera. E aprende-se ainda melhor se olharmos para o 10 por cento que não é lixo, porque para essa parte da Rede irá migrar uma parte mais dinâmica do espaço público, que conhece melhor o monstro e que já fez a prova do monstro.

Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado é deitar fora o menino com a água do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, número optimista, eu sei.”

26 Dezembro, 2006 at 8:24 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXV)

O artigo de Miguel Sousa Tavares seria, inevitavelmente, objecto de reacção na blogosfera, nomeadamente por Luís Santos (no Atrium) e Rogério Santos (no Indústrias Culturais), que frisava não se poder “[…] generalizar e desprezar o mundo dos escritores. Ou dos jornalistas. Ou dos blogues“. Seria aliás criado um “grupo de discussão” a propósito deste caso, com referências a outros blogues que comentaram o assunto.

A 2 de Novembro, Francisco Sena Santos, uma singular voz da rádio, passava a disponibilizar crónicas “radiofónicas” diárias, em podcast.

Ainda a propósito da blogosfera e do anonimato nos blogues, no mesmo dia (9), dois artigos, que se juntam a um outro, publicado na revista Visão da semana anterior (de Manuel António Pina – “Anónimos, dizem eles”).

No Público, José Pacheco Pereira (“A diferença entre um quiosque e a blogosfera”), tal como Ferreira Fernandes, na revista Sábado (”A blogosfera”), colocavam a tónica na indispensável segregação entre a “boa” e a “má” blogosfera.

Escreveu Pacheco Pereira: “Vamos admitir, o que não me custa nada, porque até acho que é verdade, que mais de 90 por cento do que está na blogosfera é lixo. Temos em seguida que convir que também 90 por cento do que está nos quiosques é lixo, a julgar pelo nosso quiosque.”; mas, a finalizar, frisa “Tratar os blogues como um quiosque dos jornais indiferenciado é deitar fora o menino com a água do banho. Vamos em seguida falar dos 10 por cento, número optimista eu sei”.

Ferreira Fernandes acrescenta: “Os blogues portugueses, como qualquer lugar, são frequentáveis ou não, depende do que escolhemos”. E indica, de seguida, algumas escolhas, do “melhor” que a blogosfera tem: os textos sobre futebol de “maradona” (A Causa Foi Modificada); a bibliofilia do Almocreve das Petas; o “Assim Mesmo“, que “ensina” português; as “notícias” de Paulo Gorjão no Bloguitica; os textos de João Miranda no Blasfémias, de Rui Tavares no 5 Dias, de Pacheco Pereira no Abrupto, ou do “José”, na Grande Loja do Queijo Limiano.

22 Dezembro, 2006 at 8:50 am 1 comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXIV)

A 28 de Outubro, Miguel Sousa Tavares apresentava a sua “defesa”, em crónica publicada no Expresso:

“Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de «sites» informativos, a Internet interessa-me zero. Todo esse universo dos «chats» e dos blogues não apenas me é absolutamente estranho como ainda o acho, paradoxalmente, uma preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar. Saber que nesses ‘sítios’ imateriais é possível fazer praticamente tudo, desde arranjar parceiros amorosos até recrutar terroristas para a Al-Qaeda, não é, a meu ver, um progresso ou facilidade, mas uma espécie de impotência, de desistência de viver a vida como ela é.

Tenho lido muitas opiniões contrárias, de gente que acredita que os blogues e toda essa conversa «in absencia» são uma forma moderna de democracia de massas, directa e instantânea, como nunca houve: uma espécie de «speaker’s corner» planetário. Mas discordo: não penso que a qualidade da democracia se meça pela quantidade de envolvidos e, menos ainda, pela irresponsabilidade. Não há liberdade de expressão onde existe impunidade do discurso. E se no «speaker’s corner» fala quem quer, também é verdade que quem fala tem o rosto a descoberto, pode ser convidado pelos circunstantes a identificar-se e pode, sobretudo, ser confrontado e contraditado por estes – enquanto na maioria dos blogues o anonimato é regra, santo e senha.

Mas não há nada melhor para confirmar ou desmentir uma teoria do que experimentar-lhe os efeitos. No meu caso pessoal, as experiências que conheço têm sido eloquentes: por duas vezes me foram atribuídos na Net e postos a circular textos que não tinha escrito e cujo conteúdo repudiava veementemente; o mais longe que consegui desfazer a falsificação foi o círculo de amigos que me falaram no assunto. De outra vez, deram-me a conhecer a existência de um blogue onde um autor anónimo se dedicara a fazer a minha biografia, acrescentada posteriormente por toda uma série de contribuições igualmente anónimas: eram 27 páginas de conteúdo (!), mas bastou-me ler as duas primeiras para desligar, enojado com a capacidade de invenção, difamação grave e cobardia que aquilo revelava. Esta semana, enfim, estava-me reservada mais uma experiência do género.

Um qualquer tipo dera-se ao trabalho de pegar num romance meu, manipulá-lo devidamente (por exemplo, pegando num início de frase e acrescentando-lhe outro situado 12 páginas adiante), para afirmar, sem estremecer, que todo o meu livro era um plágio do outro, “uma fraude sem pudor”. Uma hora depois de este blogue ter nascido, exclusivamente dedicado a acusar-me de plágio, um jornal telefonava-me para casa a pedir um comentário à “acusação”. Primeiro, pensei que estavam a brincar, depois percebi que levavam a coisa a sério e tentei mostrar o absurdo daquilo: o meu livro era um romance histórico, em que os personagens principais eram todos ficcionados, assim como a história, o outro era um livro de história, um relato jornalístico do mandato do último vice-rei inglês da Índia, em que os personagens eram o Mountbatten, o Nehru, o Ghandi, o Jidah; o meu livro situava-se em 1905, em São Tomé, o outro em 1949, na Índia; o meu tratava da escravatura nas roças de cacau de São Tomé, a par de uma trama amorosa, o outro tratava da independência da Índia; enfim, como se perceberia, simplesmente, lendo-os, tanto a construção narrativa como a escrita eram obviamente diferentes, tratando-se de géneros literários totalmente diferentes. Mas o autor do blogue revelava-se um profissional da manipulação: ele pegava em excertos afastados entre si da versão inglesa do outro livro, colava-os como se fossem uma só frase, comparando-os então com outras frases minhas a que chamava “tradução” e que um jornal dizia serem “frases inteiras iguais”. Mas iguais eram apenas os factos nelas contidos: os dados biográficos de quatro marajás da Índia. Ora, como tentei explicar, qualquer pessoa percebe que um romance histórico ou um livro de história, quando chega aos factos reais, tem de recorrer a fontes, que são outros livros ou documentos preexistentes.

De outro modo, não os tendo vivido, ao autor só restaria inventá-los ou distorcê-los, para não ser considerado plagiador: eu deveria então ter trocado os nomes ou os dados biográficos dos marajás que convoquei, assim como os do senhor D. Carlos ou de outros personagens históricos que entram no meu romance. Em vez disso, limitei-me a fazer uma coisa que nem sequer é habitual neste género literário: identifiquei as fontes a que recorri, entre as quais o tal livro que o anónimo da Net me acusava de ter copiado – ou seja, deixei as pistas todas para ser ‘apanhado’. Porém, o meu Torquemada concluiu ao contrário: se eu citava 29 livros como elementos “de consulta do autor” e se ele, recorrendo apenas a um deles, encontrara semelhanças com duas páginas das 518 do meu livro, era caso para “esfregar as mãos de contentamento, partindo à descoberta de mais algumas pérolas da exploração do trabalho alheio”.

Infelizmente, ninguém se deu a esse trabalho ou menos até. Debalde, tentei explicar ao enxame de jornalistas que imediatamente me caiu em cima que o simples facto de darem eco àquele blogue anónimo, sem verificarem previamente o fundamento da acusação gravíssima que me era feita, equivalia a transformar uma mentira privada, ditada pelo despeito e inveja, numa calúnia produzida à vista de milhares. Com esta agravante decisiva: o único meio de que disponho para defender eficazmente a minha honra e o meu trabalho, que é o tribunal, está-me vedado, pois não sei de quem me queixar e quem fazer condenar como caluniador. Não sendo esta a regra, como poderá alguém, por exemplo, defender-se convincentemente de um blogue anónimo que o acuse de pedofilia, tráfico de drogas ou qualquer outra coisa abominável? Tentei explicar que, perante isto, não bastava reproduzirem a acusação e ouvirem a minha defesa. Era pelo menos necessário que lessem os dois livros e percebessem que tudo aquilo era absurdo e que a aposta deste manipulador anónimo era justamente a de que os jornalistas não se dessem a incómodos.

Foi tudo em vão, claro. Responderam-me que o outro livro não estava disponível em Portugal e que, “face à gravidade da acusação” (justamente…), não se podia ignorar o assunto, pois, como me explicou sabiamente um jornalista eufórico, “a bola de neve está a correr e é imparável”. E correu. E foi. Dos tablóides ao respeitável ‘Público’ – onde, confessando-me não ter conseguido obter o livro supostamente plagiado (e, se calhar, sem sequer ter lido o meu…), uma jornalista escreveu, preto no branco: “Há muitas ideias parecidas e frases praticamente iguais”. E, assim, com esta ligeireza, se suja a honra de uma pessoa e se enxovalham anos e anos a fio de trabalho, esforço e imaginação.

O que já sabia dos blogues confirmei: em grande parte, este é o paraíso do discurso impune, da cobardia mais desenvergonhada, da desforra dos medíocres e dessa tão velha e tão trágica doença portuguesa que é a inveja. Mas fiquei a saber, e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.”

Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 28/10/2006

21 Dezembro, 2006 at 8:53 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXIII)

A 13 de Outubro, a blogosfera associa-se à polémica a propósito da eleição dos “Grandes Portugueses”, proposta por programa televisivo da RTP – ver, por exemplo, entradas no Abrupto (nomeadamente a propósito da “omissão” inicial do nome de António de Oliveira Salazar) e Mas certamente que sim!.

Desde 16, a “Rivolução” do Teatro Rivoli (no Porto) – “Barricados no Rivoli” – também passou pela blogosfera, em blogue do jornal Público.

No mesmo dia, Fátima Rolo Duarte dava início ao f, world.

A partir de 19, Luís Carmelo lança mais uma iniciativa no Miniscente: “Blogues no “Retrovisor” – Extractos de posts que dão conta do olhar (prevenido ou desprevenido) do blogger sempre que contempla pelo retrovisor a paisagem da blogosfera.

No dia seguinte, dá-se o regresso do “Quase em Português”, de Lutz Brückelmann.

Ao mesmo tempo que é criado blogue (entretanto desactivado) que acusa Miguel Sousa Tavares de plágio, na sua obra “Equador”, que rapidamente seria “notícia” (também no “Correio da Manhã“, entre outros jornais, vindo mesmo – na sequência de carta de Miguel Sousa Tavares – a originar apreciação do Provedor dos Leitores do Público – também aqui e aqui):

“Miguel Sousa Tavares está a ser acusado por um blogger de plágio, alegando que o jornalista copiou parágrafos inteiros do livro «Cette Nuit la Liberté» de Dominique Lapierre e Larry Collins, na obra «Equador», um dos maiores sucessos de vendas em Portugal.

O blogue freedomtocopy.blogspot.com apresenta quatro exemplos de «pérolas de exploração de trabalho alheio».

Contactado pelo Diário de Notícias, António Lobato Faria, da Oficina do Livro (editora de Sousa Tavares), disse que esta «difamação cobarde e encapuzada» não resiste ao escrutínio das «supostas provas».

Se vier a dar a cara, o autor da «manipulação» será «imediatamente processado», garante.”

A 22 de Outubro, é criado o “Blogue do Não” – a propósito do referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.

20 Dezembro, 2006 at 8:55 am Deixe um comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXII)

A 13 e 14 de Outubro decorre no Porto o 3º Encontro Nacional de Weblogs.

Destaco aqui a intervenção de José Luis Orihuela, “Porque é que os weblogs (não) vão acabar em 2006?” – concluída com 10 “dicas” para novos bloggers:

1. Começa a ler blogs
2. Experimenta várias ferramentas
3. Escolhe um tema, um blog disperso fracassa. Domina o tema e fornece muita informação sobre ele.
4. Toma em atenção a qualidade da escrita, não escrevas como uma “SMS”, um blog é comunicação pública.
5. Faz links para as fontes
6. Esquece as estatísticas e comentários
7. Espera o tempo suficiente para o promover. Só quando tiveres mais conteúdos interessantes é que merecerás um link.
8. Participa na Blogosfera, comenta o trabalho dos outros.
9. Lembra-te que o blog é público, por isso deves ter cuidado com a qualidade.
10. Diverte-te!

As comunicações desta reunião encontram-se disponíveis aqui.

Para saber mais sobre este evento, consultar os comentários de Rogério Santos no Indústrias Culturais e a entrada de Manuel Pinto no Jornalismo e Comunicação.

19 Dezembro, 2006 at 8:45 am 1 comentário

BLOGOSFERA EM 2006 (XXI)

A 3 de Outubro nasce o “Passado/Presente – A construção da memória no mundo contemporâneo” (entretanto também transferido para a plataforma WordPress), classificado pelos autores (Rui Bebiano, Miguel Cardina e Tiago Barbosa Ribeiro) como um “quase-blogue”, dedicado à reflexão em torno das relações entre história, memória e actualidade.

É então lançado o livro “Blogs e a Fragmentação do Espaço Público”, um estudo fundamental para compreender o papel e relevância da blogosfera em Portugal, da autoria de Catarina Rodrigues, co-organizadora do 2º Encontro de Weblogs (em Outubro de 2005, na Universidade da Beira Interior, na Covilhã). Numa edição de “Livros Labcom” (Laboratório de Comunicação On-line (http://www.labcom.ubi.pt), um espaço física e virtualmente afecto ao Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior), este trabalho encontra-se disponível gratuitamente em versão digital (PDF):

As possibilidades permitidas pelos blogs colocam-nos perante um alargamento do espaço público, no âmbito da apresentação de diferentes pontos de vista sobre determinados assuntos. Simultaneamente, a comunicação é feita de forma cada vez mais segmentada e consequentemente fragmentada. A fragmentação referida neste livro manifesta-se sobretudo através da publicação individual permitida pelas potencialidades destas ferramentas comunicacionais e é justificada em cinco capítulos. A fragmentação do espaço público, o regresso de uma subjectividade opinativa, a relação entre blogues e jornalismo, a presença destas ferramentas nas mais diversas áreas e a emergência de novas identidades são as principais temáticas abordadas.”

A 10 de Outubro, numa iniciativa de Rui Cerdeira Branco, nasce um novo blogue temático, o Economia & Finanças… sobre economia e finanças.

18 Dezembro, 2006 at 8:31 am Deixe um comentário

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