2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXVII)
26 Dezembro, 2003 at 5:45 pm 1 comentário
Em 18 e 19 de Setembro, realiza-se em Braga o primeiro encontro nacional de “weblogs”.
O Jornal de Notícias é o primeiro jornal nacional a fazer uma manchete de primeira página a propósito dos “blogues”; por outro lado, no Telejornal da RTP1, é apresentada reportagem, com a criação de um “blogue” em directo.
Conforme disse José Luis Orihuela (Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra): “Nunca tivemos de ler tanto para escrever tão pouco” (ver artigo de Pedro Fonseca, no “Público” de 22 de Setembro, abordando o referido encontro – texto completo em “entrada estendida”). E, também:
“Os blogs são o fenómeno mais importante que ocorreu na Internet desde há 10 anos. Em 1993, houve a revolução dos browsers, permitindo a navegação. Dez anos depois, é a revolução dos blogs, cuja força provém de constituírem uma grande conversação global, gerando uma comunidade pelo intercâmbio de conhecimentos, produzido pelos post, comentários e réplicas – a “blogosfera”. Como consequência, os blogs são potentíssima ferramenta para criação de comunidades espirituais baseadas no conhecimento partilhado“.
Notou-se também que “se os blogues amplificam a cidadania, dando voz ao cidadão, a Internet continua a ser um meio reservado apenas a uma franja minoritária da população”.
Entretanto, os “blogues” em Portugal tinham passado rapidamente dos cerca de 500 em meados de Maio, para cerca de 1 600 no fim de Julho (com a grande “explosão” no final de Junho), ultrapassando-se já, em Setembro, os 2 000 “blogues”.
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“I Encontro Nacional sobre Weblogs junta meia centena de ‘bloggers’
Escrever Sim, Discutir Não
A blogosfera nacional poderá contar com mais de 2 mil blogues, nem todos activos; mas, quando se trata de se encontrarem fisicamente, apenas meia centena resolve marcar presença. Foi o que sucedeu na passada quinta e sexta-feira, no I Encontro Nacional sobre Weblogs, realizado na Universidade do Minho, em Braga. “A blogosfera é relativamente grande mas é mais fácil fazer blogues do que falar sobre eles”, sintetizou Manuel Pinto, principal organizador do Encontro e docente na área de jornalismo daquela universidade.
Entre a contagem inicial de 174 blogues realizada em Janeiro pelo Blogs em .pt e os mais de 2300 contabilizados actualmente pelo Bloco-Notas – e apesar de existirem blogues nacionais desde 1999 -, um facto incontestável para a sua dinamização mediática e motor de crescimento dos blogues em Portugal foi o aparecimento destes diários abordando a actualidade política, desde a já extinta Coluna Infame ao Abrupto, de José Pacheco Pereira, que, em Março, escreveu no PÚBLICO sobre esta temática. O crescimento vai continuar, prevê António Granado, jornalista do PÚBLICO e “blogger” (termo inglês para definir os autores de blogues), porque só neste Verão foram criados mais de mil.
São muito poucos, comparando com os três milhões que se calcula existirem em todo o mundo – tantos quantas as páginas Web indexadas pelo motor de busca Google – mas, mesmo assim, “é muito para ler de manhã”, como referiu José Luis Orihuela, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra. “Nunca tivemos de ler tanto para escrever tão pouco”, explicou, e os “bloggers” “estão a aprender a ler e a escrever de novo; não é metáfora, estão a aprender a escrever com hiperligações e isso é uma nova alfabetização”. Por outro lado, “a blogosfera, não a Web, é a maior fábrica de conhecimento dos nossos dias”, referiu.
Apesar do potencial exagero, a verdade é que os blogues são mais do que uma moda. Usando o trabalho de Everett Rogers, de 1995, A. Granado explicou como a difusão das inovações se processa com alguma lentidão junto de certos grupos bem definidos. Os primeiros a adoptá-las são os “inovadores”, que não passam de 2,5 por cento. Seguem-se os 13,5 por cento de “early adopters”, a “early” e a “late majority” – ambas com 34 por cento cada – e finalmente os “laggards” ou “atrasados”, que representam os restantes 16 por cento.
“Em Portugal, ainda estamos numa fase da inovação e a Internet ainda é uma ferramenta dos info-ricos e dos países mais desenvolvidos”, lembrou Granado.
Nesta fase, as principais características dos blogues nacionais é a de serem muito opinativos e pouco informativos, funcionando a grande maioria em circuito fechado. Há também poucas referências para fora da Internet portuguesa – gerando fenómenos como o desencadear de polémicas com outros blogues nacionais mais conhecidos para assim se obterem ligações de retorno e uma maior visibilidade, pelo menos temporária mas que serve como chamariz para esse blogue. E há uma ausência de práticas jornalísticas neles, referiu ainda. Nesse sentido, entrando numa polémica sobre se os blogues são ou não uma ameaça ao jornalismo, afirmou que nunca os viu como tal, até porque “rarissimamente aparece informação original”.
Em termos mais gerais, no entanto, Orihuela considera que os blogues, sob as diferentes designações de “nano-edição” ou “auto-média” permitem aos “utilizadores serem comunicadores públicos – é a primeira vez na história da imprensa e os blogues são o mais importante nos últimos 17 anos, desde o aparecimento da Web”.
Para o investigador espanhol, “o que mudou foi o conceito de periodicidade” e, “na sua passagem para o tempo real, perde-se o espaço de reflexão mas ganha-se em dinamismo e conversação, num sistema global de comunicação com correcções de textos em tempo real” aquando da descoberta de erros. Mas não só, porque “a agenda de temas relevantes nos blogues ultrapassa largamente o terreno comum dos média tradicionais”, muitas vezes usando fontes alternativas a esses média.
Olhando para o futuro dos blogues nacionais, vai-se assistir ao aparecimento de mais blogues anónimos, seja por alguém que quer dizer mal de outrem como para ver se alguns média pegam nessas histórias, antecipa António Granado. Os “moblogs” – blogues mantidos a partir das capacidades multimédia dos telemóveis – deverão também aparecer por cá, “com invasão pura da privacidade”, exemplificando com casos de figuras públicas registadas em sítios onde não deviam estar a horas menos convenientes ou com companhias menos aconselháveis.
Finalmente, uma tendência também de futuro será o aparecimento de blogues ligados ao ensino e não só no ensino do jornalismo, como sucede hoje. Esta posição foi também defendida por José Luis Orihuela, quando apresentou algumas sugestões para o futuro da blogosfera em Portugal: “O enfoque correcto é estar na origem da mudança, nomeadamente nas universidades”. Defendeu ainda a existência de directórios temáticos e actualizados, sistemas de “blogtracking” para se conhecer o que está a ser mais debatido entre blogues e “rankings”, com prémios para os melhores blogues, a criação de blogues comunitários em português e inglês, a adopção do que já demonstrou ter êxito lá fora e, finalmente, aproveitar as sinergias, nomeadamente em termos linguísticos com o Brasil.
Entre blogues com um bom grafismo e maus conteúdos ou o contrário, Orihuela advoga que “as pérolas com conteúdos fortes e bom grafismo tornar-se-ão os blogues de culto””.
N.E. – Pedro Fonseca foi responsável pelo Blogs em .pt, participou na organização do evento e nas sessões (não relatadas) sobre “Weblogs, jornalismo e comunicação” e “Weblogs e sociedade”
Pedro Fonseca, “Público”, 22 Setembro 2003
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vmar | 26 Dezembro, 2003 às 9:54 pm
Ora cá estou eu!