Archive for 30 Março, 2005
BRASIL (III)
No início de Março de 1500, Pedro Álvares Cabral iniciava uma expedição à Índia, mandatado pelo Rei D. Manuel, que ambicionava o estabelecimento de tratados comerciais com o Samorim de Calecut, que garantisse a Portugal exclusividade no acesso às especiarias orientais, a par da propagação da fé cristã, ao mesmo tempo que esperava consolidar o monopólio da “Rota do Cabo”.
Por circunstâncias do acaso, ou por iniciativa deliberada, a expedição de Pedro Álvares Cabral faria um desvio para Sudoeste; a 22 de Abril, a sua frota chegava ao Brasil. A 1 de Maio, com a celebração de uma missa, os portugueses “tomavam posse do território”, a qual contudo viria a ser constantemente ameaçada pelas sucessivas incursões de corsários e traficantes de outros reinos europeus (nomeadamente espanhóis e franceses). Uma segunda expedição, comandada por Gaspar de Lemos, já com a missão de explorar o território, seria realizada a partir de 1501, com a participação de Américo Vespucio, navegador italiano, então ao serviço de Portugal.
Estima-se que o território seria então povoado por cerca de 3 milhões de indígenas – actualmente reduzidos a apenas cerca de 280 000 –, integrados em quatro principais grupos linguístico-culturais: Tupi-Guarani (grupo dominante, que ocupava o litoral), Jê ou Tapuia, Aruaque ou Naipure e Caraíba.
Viviam principalmente da caça e pesca, assim como da colheita de frutos e raízes, havendo alguns grupos que praticavam já uma agricultura de subsistência.
Na época, os interesses portugueses centravam-se no Oriente; quando, entre 1519 e 1522, Fernão de Magalhães e Sebastião El Cano, ao serviço da Espanha, realizavam a primeira viagem de circum-navegação, passando pelo arquipélago das Molucas (conhecidas como “Ilhas das Especiarias”), Portugal, sentindo-se ameaçado no controlo da rota das especiarias, proporia à Espanha a compra desse arquipélago, o que se concretizaria em 1529, com o Tratado de Saragoça.
[2173]
"ANTES DO FIM"
“As Edições ArcosOnline.com acabam de lançar um novo livro em formato digital. Desta vez, a editora apresenta-nos uma narrativa de um novo escritor português, chamado Nuno Gomes. A obra intitula-se “Antes do Fim” e marca o início daquilo que pode vir a tornar-se uma verdadeira carreira literária.
“Antes do Fim”, diz-nos Nuno Gomes (que não é futebolista, mas sim arquitecto), é uma breve narrativa que foi pensada, inicialmente, como um argumento para uma curta-metragem. De acordo com o autor, a obra “não tem falsas ambições”, e as palavras que a compõem são como “pancadas no vazio, desligadas de sentidos metafóricos falaciosos, tentando estabelecer ritmos de leitura, batidas de tensão”. Porque “a angústia destas personagens é real, e as palavras não o escondem”. O fim revela-se a cada parágrafo, a cada letra, numa convergência implacável. Todas as diferentes histórias, todos os flashbacks e personagens se entrecruzam, e todos os tempos se tornam um, o presente, o fim. E o fim revela-se tão inevitável quanto todos os elementos que o originam.”
[2172]
BILINGUISMO – O CASO DO CANADÁ (III)
Em 1960, sob iniciativa de uma elite francófona (liderada por J. Lesage), começava a chamada “Revolução Tranquila”, com o Québec – não obstante continuar politicamente submetido ao pacto federal – retomando a causa do reconhecimento da província como nação francófona, apoiada na população maioritariamente francófona (mais de 85 % dos seus mais de 8 milhões de habitantes, os quais correspondem a cerca de 80 % de todos os canadianos de origem francesa).
O Québec (segunda província em importância socioeconómica, a seguir à província de Ontário) forma assim um “microcosmos” original, cuja história sempre foi marcada pela questão linguística, erigida nas décadas mais recentes como factor decisivo para a emergência de um Québec moderno, dinâmico, determinado e confiante no seu futuro – culminando em 1977 com a adopção da “Carta da Língua Francesa”, como forma de reapropriação do espaço público, que havia sido “invadido” pelo inglês.
Esta “Carta” tem como postulado fundamental de animação da política linguística que, se o francês deve sobreviver e expandir-se no continente norte-americano, tal apenas será possível por via da máxima protecção e promoção no Québec, único território em que é maioritário.
Daí também a importância do francês ser adoptado como língua de integração dos imigrantes, essencialmente a nível da sua utilização em espaços públicos, ou seja, a língua normal e habitual de trabalho, ensino, comunicação, comércio e negócios – em prejuízo do bilinguismo institucional, que poderia originar um risco de fragilização do estatuto do francês, visto a força de atracção do inglês – e, respeitando os direitos de uma sociedade plural, independentemente da língua utilizada em casa.
Não obstante, o peso global dos francófonos no Canadá é de apenas cerca de 23,5 %, o que é ainda penalizado com a desfavorável dinâmica demográfica do grupo francófono, com taxas de natalidade mais baixas, a par do continuado fluxo migratório internacional, povoando o território com falantes de outras línguas (que, ao instalar-se, acabam ainda por optar, prioritariamente, pelo inglês, em detrimento do francês, numa proporção de 60 % / 40 %).
[2171]