Archive for 18 Março, 2005
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (X)
“Tinham dentro muitos esteios e d’esteio a, esteio uma rede, atada pelo cabos em cada esteio, altas, em que dormiam, e, debaixo, para se aquentarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, uma em um cabo e outra no outro. E diziam que, em cada casa, se acolhiam trinta ou quarenta pessoas e que assim os achavam e que lhes davam de comer daquela vianda que eles tinham, a saber: muito inhame e outras sementes, que na terra há, que eles comem.
E, como foi tarde, fizeram-nos logo todos tornar e não quiseram que lá ficasse nenhum. E ainda, segundo eles diziam, queriam-se vir com eles. Resgataram lá por cascavéis e por outras cousinhas de pouco valor, que levavam, papagaios vermelhos muito grandes e formosos e dous verdes, pequeninos e carapuças de penas verdes e um pano de penas de muitas cores, maneira de tecido assás formoso, segundo Vossa Alteza todas estas cousas verá, porque o capitão mandar, segundo ele disse. E, com isto, vieram. E nós tornámo-nos às naus.
À terça-feira, depois de comer, foi-nos em terra dar guarda de lenha e lavar roupa. Estavam na praia, quando chegámos, obra de sessenta ou setenta, sem arcos e sem nada. Tanto que chegámos, vieram-se logo para nós, sem se esquivarem. E depois acudiram muitos, que seriam bem duzentos, todos sem arcos. E misturaram-se todos tanto connosco, que nos ajudavam deles a acarretar lenha e meter nos batéis e lutavam com os nossos e tomavam muito prazer.
E, enquanto nós fazíamos a lenha, faziam dous carpinteiros uma grande cruz dum pau que se ontem para isso cortou. Muitos deles vinham ali estar com. os carpinteiros e creio que o faziam mais por verem a ferramenta de ferro, com que a faziam, que por verem a cruz, porque eles não têm cousa que de ferro seja e cortam sua madeira e paus com cunhas, metidas em um pau, entre duas talas mui bem apertadas e por tal maneira, que andam fortes segundo os homens, que ontem a suas casas foram diziam, porque lhas viram lá.
Era já a conversação deles connosco tanta, que quase nos torvavam ao que havíamos de fazer. E o capitão mandou a dous degredados e a Diogo Dias que fossem lá à aldeia e a outras, se houvessem delas novas, e que, em toda maneira, não se viessem a dormir às naus, ainda que os eles mandassem. E assim se foram.
Enquanto andávamos nesta mata, a cortar lenha, atravessavam alguns papagaios por essas árvores, deles verdes e outros pardos, grandes e pequenos, de maneira que me parece que haverá nesta terra muitos, mas eu não veria mais que até nove ou dez. Outras aves, então, não vimos; somente algumas pombas seixas e pareceram-me maiores, em boa quantidade, que as de Portugal. Alguns diziam que viram rolas, mas eu não as vi, mas, segundo os arvoredos são mui muitos, e grandes e d’infindas maneiras, não duvido que por esse sertão haja muitas aves. E acerca da noute nos volvemos para as naus com nossa lenha.”
[2151]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XV)
“Situacion legala de l’occitan
La situacion de reconeissença legala de la lenga occitana es pas la meteissa dins los tres païses que s’i parla. Se nòta que dins sa part màger (francesa), l’occitan es essencialament ignorat per las autoritats quand de situacions plan mai interessantas se tròban delà las frontièras.
En Espanha (Val d’Aran), l’occitan es lenga oficiala, a egalitat amb lo catalan e l’espanhòu. Es lo parlar aranés, dau dialècte gascon que fan servir. Los documents oficiaus, la senhalizacion i son en occitan. La lenga es ensenhada dins las escòlas coma lenga d’ensenhament. Las autoritats publicas sostenon la lenga en favorizant la premsa e l’edicion.
En Itàlia, l’occitan a obtengut dins l’annada 1999 un estatut que programa una normalizacion similària a çò desvolopat dins la Val d’Aran espanhòla. Mas cau encara esperar las leis que se metan en plaça.
En França, l’occitan es considerat coma “lenga regionala”. Amb aqueste estatut, pòt (mas deu pas) èsser ensenhat dins los establiments escolaris. Mas cau saber que l’administracion es sovent ostila, e que de mai las lei son ambigüas e contradictòrias – notadament l’article 2 de la constitucion modificat en 1992 per i apondre que sol lo francés es la lenga de la republica francesa. Tot çò mai es desvolopat sus de basis associativas o privadas (rare).”
Transcrição em provençal (grafia clássica ou occitana) dos artigos 1, 3, 4 e 5 da Declaração Universal dos Direitos do Homem:
“1. Totei leis umans nàisson libres. Son egaus per la dignitat e lei drechs. An totei una reson e una consciència. Se dèvon tenir freirenaus leis uns ‘mé leis autres.
3. Cada persona a drech a la vida, a la libertat, e a la seguretat.
4. Degun sarà sotmés a l’esclavituda ò a la servituda. Es enebit en plen de tenir d’esclaus ò de n’en faire comèrci.
5. Degun sarà sotmés a la tortura ni mai a de penas ò de tractaments crudèus, inumans ò desgradants.”
(Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 3°
Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão e o tráfico de escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a pena de morte ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.)
[2150]