Archive for 24 Março, 2005

CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (XIV)

“E, segundo o que a mim e a todos pareceu esta gente não lhes falece outra cousa para ser toda cristã que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer, como nós mesmos, por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem mais entre eles devagar ande, que todos serão tornados ao desejo de Vossa Alteza.

E para isso se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os baptizar, porque já então terão mais conhecimento de nossa fé pelos dous degradados que aqui entre eles ficam, os quais ambos hoje também comungaram. Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse e puseram-lho darredor de si. Mas ao assentar não fazia memória de o muito estender para se cobrir. Assim, Senhor, que a inocência desta gente é tal, que a d’Adão não seria mais quanta em vergonha.

Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive, ensinando-lhes o que para a sua salvação pertence, se se converterão ou não. Acabado isto, fomos assim perante eles beijar a cruz e despedimo-nos e viemos comer. Creio, senhor, que com estes dous degradados que aqui ficam, ficam mais dous grumetes, que esta noute se sairam desta nau, no esquife, em terra fugidos os quais não vieram mais. E cremos que ficarão aqui porque de manhã, prazendo a Deus, fazemos daqui nossa partida.

Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha, que haverá nela bem vinte ou vinte cinco léguas por costa. Traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas e a terra, por cima, toda chã e cheia de grandes arvoredos.

De ponta a ponta é toda praia parma, muito chã e muito formosa; pelo sertão nos parecia muito grande, porque, a estender olhos, não podiamos ver senão a terra e arvoredos, que nos parecia mui longa terra. Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem nenhuma cousa de metal, nem de ferro; nem lho vimos. A terra, porém, em si, é de muito bons ares, assim frios e temperados como os d’Entre Doiro e Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá.

Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem. Mas o melhor fruito que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta navegação de Calecute bastaria, quanto mais disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento de nossa santa fé.

E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta vossa terra vi. E, se a algum pouco alonguei, Ela me perdoe, que o desejo que tinha de vos tudo dizer mo fez assim pôr pelo miúdo.

E, pois que, Senhor, é certo que assim neste cargo que levo, como em outra qualquer cousa que de vosso serviço for, Vossa Alteza há-de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de S. Tomé Jorge d’Osório meu genro, o que d’Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza.

Deste Porto Seguro, da vossa ilha da Vera Cruz hoje, sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500.”

Pêro Vaz de Caminha

[2164]

24 Março, 2005 at 6:06 pm

LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XIX)

O Bretão (em bretão Brezhoneg) é a única língua céltica presente no Continente Europeu. É considerada uma língua céltica insular ou “neo-céltica”, diferente do gaulês, apesar de algumas influências desta língua.

A população bretã descende principalmente de um misto de armoricanos e celtas de língua bretã provenientes da Grã-Bretanha no final do período Romano.

É falado na região da Bretanha, no noroeste de França, numa linha que vai de Paimpol a Vannes, sendo constituído por dois grupos principais de dialectos: o KLT (Cornualha, Léon, Trégor) e o vanetês (no Morbihan). O ensino e os media utilizam cada vez mais uma língua unificada.

Serão cerca de 240 000 os falantes de Bretão (20 % da população da região), principalmente entre os mais idosos. A maior parte dos residentes nas cidades de menos de 10 000 habitantes são pelo menos capazes de compreender a língua.

Não existe uma política específica relacionada com esta língua, falando-se de uma situação de tolerância de alguma forma hostil, que virá contribuindo para que se instale uma crise no uso do Bretão, língua pouco prestigiada. É permitido o ensino opcional, por vezes extra-curricularmente.

O Bretão tem o mesmo estatuto que outras línguas não oficiais em França (nos termos da Constituição de 1992, o Francês é a (única) língua da República Francesa). A França recusa-se a assinar tratados internacionais sobre os direitos das minorias autóctones e o uso de línguas maternas.

Artigos 1, 3, 4 e 5 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em Bretão:

“Mellad unan (1)
Dieub ha par en o dellezegezh hag o gwirioù eo ganet an holl dud. Poell ha skiant zo dezho ha dleout a reont bevañ an eil gant egile en ur spered a genvreudeuriezh.

Mellad tri (3)
Gwir a zo gant pep hini d’ar vuhez, d’ar frankiz, ha d’an diogelroez evitañ.

Mellad peuar (4)
Ne vo dalc’het den er sklaverezh nag er sujidigezh; berzet e vo kement stumm a sklaverezh hag a werzhañ-sklaved.

Mellad pemp (5)
Ne vo lakaet den da c’houzañv ar jahinerezh, na doareoù pe kastizoù kriz ha didruez.”

[2163]

24 Março, 2005 at 12:32 pm

JULES VERNE

Partiu há 100 anos, mas deixou-nos as suas obras e as suas ideias visionárias.

Jules Verne nasceu em Nantes a 8 de Fevereiro de 1828, sendo o criador de um género novo, o do romance científico de antecipação, tendo publicado, ao longo de uma vida de “extravagantes” viagens pela imaginação e pela fantasia, mais de 80 livros, traduzidos em mais de 112 idiomas, sendo o segundo autor com mais livros vendidos (depois de Karl Marx).

Anteviu diversos fenómenos e invenções que apenas muitos anos mais tarde se concretizariam, como a televisão, o cinema, a cibernética, o submarino.

De entre os seus livros, destacam-se: Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Os Filhos do Capitão Grant (1868), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870), A Volta ao Mundo em 80 Dias (1872), A Ilha Misteriosa (1875), Miguel Strogoff (1876), Dois Anos de Férias (1888) e O Castelo dos Cárpatos (1892).

P. S. Evocando este centenário, o Público lança, a partir desta semana, uma excelente iniciativa: uma colecção das obras de Jules Verne.

[2162]

24 Março, 2005 at 8:16 am


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