Archive for 16 Março, 2005
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VIII)
“E despois moveu o capitão para cima, ao longo do rio, que anda sempre a carão da praia, e ali esperou um velho que trazia na mão uma pá d’almadia. Falou, estando o capitão com ele perante todos nós, sem o nunca ninguém entender nem ele a nós, quanto a cousas que lhe homem perguntava d’ouro, que nós desejávamos saber se o havia na terra. Trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia pelo furado um grande dedo polegar.
E trazia metido no furado uma pedra verde, ruim, que çarrava por fora aquele buraco. E o capitão lha fez tirar e ele não sei que diabo falava e ia com ela para a boca do capitão para lha meter. Estivemos sobre isso um pouco rindo então enfadou-se o capitão e deixou-o. E um dos nossos deu-lhe pela pedra um sombreiro velho, não, por ela valer alguma cousa, mas por mostra.
E despois, a houve o capitão creio para com as outras cousas a mandar a Vossa Alteza. Andámos por aí vendo a ribeira, a qual é de muita água e muito boa. Ao longo dela há muitas palmas, não muito altas, em que há muito bons palmitos. Colhemos e comemos deles muitos. Então tornou-se o capitão para baixo, para a boca do rio, onde desembarcámos.
E além do rio andavam muitos deles, dançando e folgando uns ante outros, sem se tomarem pelas mãos, e faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém que é homem gracioso e de prazer, e levou consigo um gaiteiro nosso, com sua gaita, e meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos. E eles folgavam e riam e andavam com ele mui bem, ao som da gaita. Despois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras e salto real, de que se eles espantavam e riam e folgavam muito.
E, conquanto os com aquilo muito segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como monteses. E foram-se para cima. E então o capitão passou o rio com todos nós outros e fomos pela praia, de longo, indo os batéis assim a carão de terra. E fomos até uma lagoa grande d’água doce, que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por cima e sai água por muitos lugares.
E depois de passarmos o rio, foram uns sete ou oito deles andar entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E levaram dali um tubarão que Bartolomeu Dias matou e levava-lho e lançou-o na praia. Abasta (que até aqui, como quer que se eles em alguma parte amansassem, logo duma mão para a outra se esquivavam, como pardais de cevadoiro, e homem não lhes ousa falar de rijo por se mais não esquivarem.
E tudo se passa como eles querem por os bem amansar. Ao velho, com que o capitão falou, deu uma carapuça vermelha e com toda a fala, que com ele passou, e com a carapuça, que lhe deu, tanto que se espediu, que começou de passar o rio, foi-se logo recatando e não quis mais tornar do rio para aquém.
Os outros dous, que o capitão teve nas naus, a que deu o que já dito é, nunca aqui mais apareceram, de que tiro ser gente bestial e de pouco saber e por isso são assim esquivos. Eles, porém, com tudo, andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser.”
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LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XIII)
O Occitano ou “língua de Oc”, também conhecido por Provençal, é falado numa área que cobre cerca de 1/3 da França, em todo o sul do país (principalmente nas regiões da Provença, Languedoc-Roussillon e Midi-Pyrénées), e também no principado do Mónaco, nos vales alpinos das províncias italianas de Torino e Cuneo e no vale de Aran, em Espanha.
É anunciado como a “maior minoria da Europa”, com 2 milhões de falantes em França, Espanha e Itália e 6 dialectos principais, falados de Nice a Bayonne e de Limoges a Foix (em verdade, poderão ascender a cerca de 3 milhões as pessoas que compreendem a língua – de qualquer forma, com uma substancial redução face aos mais de 10 milhões estimados nos anos 40):
“L’occitan es: la minoritat mai granda d’Euròpa. 2 milions de locutors en França, Espanha e Itàlia. 6 dialèctes màgers parlats de Niça a Baiona, de Lemòtges a Fois.”
O Occitano (tradicionalmente referido como “langue d’oc”) é uma língua românica, resultado da evolução do latim, após a queda do Império Romano, como o francês, o espanhol, o italiano, o português, o catalão, o sardo, o romeno e o romanche (Suíça).
Esta evolução foi influenciada pelas línguas faladas antes da chegada dos romanos: o gaulês (língua céltica) no norte da Occitânia, a língua da Aquitânia (língua dos antepassados dos bascos) no sudoeste e o ligurio no sudeste. As evoluções propagaram-se de seguida, tendo as diferenças sido parcialmente atenuadas.
É portanto uma língua intermediária entre as línguas românicas do sul como o italiano ou o castelhano (sendo estes bastante conservadoras), e o francês, que sofreu profundas transformações após as invasões germânicas do IV ao VI séculos. É bastante próxima do catalão; efectivamente, numerosos cientistas consideram-nos mesmo como dois dialectos de uma mesma língua occitano-catalã.
A Occitânia é meramente a zona onde se fala um dos dialectos do occitano: provençal, languedociano, gascão, auvernhês, limousan e provençal alpino. Nunca foi politicamente unificada, mas a intercompreensão entre os vários dialectos, tal como um forte conjunto de similaridades culturais (cozinha, mentalidades, arquitectura, …) criaram uma unidade própria.
Alguns meios académicos pretenderam, contra qualquer rigor científico, que o Occitano não seria mais que um “patois”, um “francês deformado”. O que não corresponderá à verdade; o Occitano e o francês são duas línguas que evoluíram separadamente do latim.
Links a consultar:
http://europa.eu.int/comm/education/policies/lang/languages/langmin/euromosaic/fr7_en.html
http://www.languesdefrance.com/index.php
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