Archive for Março, 2005
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XIII)
O Occitano ou “língua de Oc”, também conhecido por Provençal, é falado numa área que cobre cerca de 1/3 da França, em todo o sul do país (principalmente nas regiões da Provença, Languedoc-Roussillon e Midi-Pyrénées), e também no principado do Mónaco, nos vales alpinos das províncias italianas de Torino e Cuneo e no vale de Aran, em Espanha.
É anunciado como a “maior minoria da Europa”, com 2 milhões de falantes em França, Espanha e Itália e 6 dialectos principais, falados de Nice a Bayonne e de Limoges a Foix (em verdade, poderão ascender a cerca de 3 milhões as pessoas que compreendem a língua – de qualquer forma, com uma substancial redução face aos mais de 10 milhões estimados nos anos 40):
“L’occitan es: la minoritat mai granda d’Euròpa. 2 milions de locutors en França, Espanha e Itàlia. 6 dialèctes màgers parlats de Niça a Baiona, de Lemòtges a Fois.”
O Occitano (tradicionalmente referido como “langue d’oc”) é uma língua românica, resultado da evolução do latim, após a queda do Império Romano, como o francês, o espanhol, o italiano, o português, o catalão, o sardo, o romeno e o romanche (Suíça).
Esta evolução foi influenciada pelas línguas faladas antes da chegada dos romanos: o gaulês (língua céltica) no norte da Occitânia, a língua da Aquitânia (língua dos antepassados dos bascos) no sudoeste e o ligurio no sudeste. As evoluções propagaram-se de seguida, tendo as diferenças sido parcialmente atenuadas.
É portanto uma língua intermediária entre as línguas românicas do sul como o italiano ou o castelhano (sendo estes bastante conservadoras), e o francês, que sofreu profundas transformações após as invasões germânicas do IV ao VI séculos. É bastante próxima do catalão; efectivamente, numerosos cientistas consideram-nos mesmo como dois dialectos de uma mesma língua occitano-catalã.
A Occitânia é meramente a zona onde se fala um dos dialectos do occitano: provençal, languedociano, gascão, auvernhês, limousan e provençal alpino. Nunca foi politicamente unificada, mas a intercompreensão entre os vários dialectos, tal como um forte conjunto de similaridades culturais (cozinha, mentalidades, arquitectura, …) criaram uma unidade própria.
Alguns meios académicos pretenderam, contra qualquer rigor científico, que o Occitano não seria mais que um “patois”, um “francês deformado”. O que não corresponderá à verdade; o Occitano e o francês são duas línguas que evoluíram separadamente do latim.
Links a consultar:
http://europa.eu.int/comm/education/policies/lang/languages/langmin/euromosaic/fr7_en.html
http://www.languesdefrance.com/index.php
[2146]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VII)
“A isto acordaram que não era necessário tomar por força homens, porque geral costume era dos que assim levavam por força para alguma parte dizerem que há aí tudo o que lhes perguntam, e que melhor e muito melhor informação da terra dariam dous homens destes degradados que aqui deixassem do que eles dariam, se os levassem, por ser gente que ninguém entende; nem eles tão cedo aprenderiam a falar para o saberem tão bem dizer que muito melhor o estoutros não digam, quando cá Vossa Alteza mandar.
E que, portanto, não curassem aqui de, por força, tomar ninguém nem fazer escândalo, para os de todo mais amansar e apacificar, senão somente deixar aqui os dous degradados, quando daqui partíssemos. E assim, por melhor parecer a todos, ficou determinado.
Acabado isto, disse o capitão que fôssemos nos batéis em terra e ver-se-ia bem o rio quejando era e também para folgarmos. Fomos todos nos batéis em terra, armados, e a bandeira connosco. Eles andavam ali na praia, à boca do rio, onde nós íamos. E, antes que chegássemos, do ensino que dantes tinham, puseram todos os arcos e acenavam que saíssemos.
E, tanto que os batéis puseram as proas em terra, passaram-se logo todos além do rio, o qual não é mais ancho que um jogo de mancal. E, tanto que desembarcamos, alguns dos nossos passaram logo o rio e foram entre eles. E alguns aguardavam e outros se afastavam, mas era a cousa de maneira que todos andavam misturados. Eles davam desses arcos com suas setas por sombreiros e carapuças de linho e por qualquer cousa que lhes davam.
Passaram além tantos dos nossos e andavam assim misturados com eles, que eles se esquivavam e afastavam-se e iam-se deles para cima, onde outros estavam. E então o capitão fez-se tomar ao colo de dous homens e passou o rio e fez tornar todos. A gente que ali era não seria mais que aquela que soía.
E, tanto que o capitão fez tornar todos, vieram alguns deles a ele, não por o conhecerem por senhor, cá me parece que não entendem nem tomavam disso conhecimento, mas porque a gente nossa passava já para aquém do rio. Ali falavam e traziam muitos arcos e continhas daquelas já ditas e resgatavam por qualquer cousa em tal maneira que trouxeram dali para as naus muitos arcos e setas e contas.
E então tornou-se o capitão aquém do rio e logo acudiram muitos à beira dele. Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho e quartejados assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, pareciam assim bem.
Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres moças, assim nuas que não pareciam mal, entre as quais andava uma com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tinta daquela tintura preta e o resto todo da sua própria cor. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas e também os colos dos pés. E suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência descobertas que não havia aí nenhuma vergonha.
Também andava aí outra mulher moça com um menino ou menina no colo, atado com um pano não sei de quê aos peitos, que lhe não apareciam senão as perninhas, mas as pernas da mãe e o resto não traziam nenhum pano.”
[2145]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XII)
“La llengua catalana és un element fonamental de la formació i la personalitat nacional de Catalunya, un instrument bàsic de comunicació, d’integració i de cohesió social dels ciutadans i ciutadanes, amb independència de llur origen geogràfic, i el lligam privilegiat de Catalunya amb les altres terres de parla catalana, amb les quals forma una comunitat lingüística que ha aportat al llarg dels segles, amb veu original, una valuosa contribució a la cultura universal. A més, ha estat el testimoni de fidelitat del poble català envers la seva terra i la seva cultura específica.
Forjada originàriament en el territori de Catalunya, compartida amb altres terres – en les quals rep també denominacions populars i fins i tot legals diverses -, la llengua catalana ha estat sempre la pròpia del país i, com a tal, s’ha vist afectada negativament per alguns esdeveniments de la història de Catalunya, que l’han portada a una situació precària. Aquesta situació és deguda a diversos factors, com són la persecució política que ha patit i la imposició legal del castellà durant més de dos segles i mig; les condicions polítiques i socioeconòmiques en què es produïren els canvis demogràfics de les darreres dècades, i, encara, el caràcter de llengua d’àmbit restringit que té, similar al d’altres llengues oficials d’Europa, especialment en el món actual, en què la comunicació, la informació i les indústries culturals tendeixen a la mundialització.
Com a resultat, doncs, de totes aquestes circumstàncies, la situació sociolingüística de Catalunya és avui complexa. La realitat d’una llengua pròpia que no ha assolit la plena normalització i que té un nombre de parlants relativament petit en el context internacional conviu amb el fet que molts dels ciutadans i ciutadanes del territori de Catalunya tenen com a llengua materna la castellana, en la qual s’expressen preferentment i a partir de la qual han contribuït, tot sovint, a enriquir de manera significativa la mateixa cultura catalana, contribució feta així mateix per altres ciutadans i ciutadanes en altres llengues. Aquesta realitat, doncs, exigeix una política lingüística que ajudi eficaçment a normalitzar la llengua pròpia de Catalunya i que, alhora, garanteixi un respecte escrupolós als drets linguístics de tots els ciutadans i ciutadanes.”
A lei que regula a aplicação do Catalão pode ser encontrada aqui.
Pode também conhecer: “dades sobre el coneixement de la llengua catalana; dades sobre el coneixement i ús del català; dades sobre l’ús de les llengües a Catalunya; dades sobre la llengua parlada pels joves; dades sobre l’ús de les llengües a la premsa diària editada a Catalunya; dades sobre el repartiment de l’audiència per cadenes de televisió; e persones que entenen i parlen el català a tot el món” aquí.
E, claro, a blogosfera catalã, de que é exemplo Un que passava…
[2144]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (VI)
“Enquanto estivemos à missa e à pregação, seriam na praia outra tanta gente pouco mais ou menos como os d’ontem, com seus arcos e setas, os quais andavam folgando e olhando-nos, e assentaram-se. E, despois d’acabada a missa, assentados nós à pregação, alevantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço.
E alguns deles se metiam em almadias, duas ou três, que aí tinham, as quais não são feitas como as que eu já vi; somente são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra senão quanto podiam tomar pé. Acabada a pregação, moveu o capitão e todos para os batéis, com nossa bandeira alta; e embarcámos e fomos assim todos contra terra para passarmos ao longo por onde eles estavam, indo Bartolomeu Dias em seu esquife, por mandado do capitão, diante, com um pau duma almadia, que lhes o mar levara, para lho dar, e nós todos, obra de tiro de pedra trás ele.
Como eles viram o esquife de Bartolomeu Dias, chegaram-se logo todos à água, metendo-se nela até onde mais podiam. Acenaram-lhes que pusessem os arcos e muitos deles os iam logo pôr em terra, e outros os não punham. Andava aí um que falava muito aos outros que se afastassem, mas não já que m’a mim parecesse que lhe tinham acatamento nem medo.
Este, que os assim andava afastando, trazia seu arco e setas e andava tinto de tintura vermelha pelos peitos e espáduas e pelos quadris, coxas e pernas até baixo; e os vazios com a barriga e estômago eram da sua própria cor. E a tintura era assim, vermelha que a água lha não comia nem desfazia, antes, quando saía da água, era mais vermelho. Saiu um homem do esquife de Bartolomeu Dias. E andava entre eles sem eles entenderem nada nele quanto a para lhe fazerem mal, senão quanto lhe davam cabaços d’água.
E acenavam aos do esquife que saíssem em terra. Com isto se volveu Bartolomeu Dias ao capitão e viemo-nos às naus a comer, tangendo trombetas e gaitas, sem lhes dar mais opressão. E eles tornaram-se a assentar na praia e assim por então ficaram. Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e pregação, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Foram alguns, em nós aí estando, buscar marisco e não no acharam.
E acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande camarão e muito grosso, que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de bergões e d’amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E, tanto que comemos, vieram logo todos os capitães a esta nau, por mandado do capitão-mor, com os quais se ele apartou e eu na companhia.
E perguntou assim a todos se nos parecia ser bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos, para a melhor mandar descobrir e saber dela mais do que agora nós podíamos saber, por irmos de nossa viagem.
E, entre muitas falas que no caso se fizeram, foi por todos ou a maior parte dito que seria muito bem. E nisto concluíram. E, tanto que a conclusão foi tomada, perguntou mais se seria bom tomar aqui por força um par destes homens para os mandar a Vossa Alteza e deixar aqui por eles outros dous destes degradados.”
[2143]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (XI)
O Catalão é principalmente falado na Catalunha, região no nordeste da Espanha, que constitui uma Comunidade Autonómica, aí sendo compreendido por cerca de 94 % da população (cerca de 5,5 milhões de pessoas) e falado por cerca de 4 milhões de pessoas (68 % da população). É também falado na Comunidade Valenciana e nas ilhas Baleares, para além do outro lado dos Pirinéus, já em território francês, alargando o número total de conhecedores do idioma a cerca de 7 milhões.
O domínio da língua tem aumentado rapidamente desde 1975 (apenas cerca de 81 % da população compreendia a língua no início dos anos 80), com particular realce para a população mais jovem (entre 10 e 19 anos).
O Catalão será mesmo a língua principal para cerca de 50 % das pessoas; face a 49 % para o Castelhano; de acordo com estudos, cerca de 54 % dos adultos utilizarão o Catalão em casa, 11 % falarão ambas as línguas e apenas 34 % utilizarão preferencialmente o Castelhano.
A língua teve origem cerca de 1130 (primeiro texto conhecido escrito em Catalão); da sua área original dos Pirinéus, o Catalão estendeu-se a sul, até Valência e as ilhas de Maiorca e Ibiza, assim como a cidade de Alghero na Sardenha italiana.
O reino da Catalunha e Aragão foi o embrião de uma monarquia constitucional desde o século XII. A “Generalitat de Catalunya” foi criada no século XIV. Desde a Idade Média, o Catalão era a língua de uso normal entre os reis de Aragão e Príncipes da Catalunha e os Reis de Maiorca e Valência. Com o casamento, em 1469, de Fernando de Aragão e de Isabel de Castela, os seus dois reinos uniram-se, passando a Catalunha a integrar a Espanha, altura em que o Catalão sofreu um declínio na vertente escrita, embora continuasse a gozar do estatuto de língua oficial.
Após a guerra da sucessão (1705-1715), a dinastia de Filipe V ocupou Barcelona, aboliu todas as instituições catalãs e impôs o Castelhano como única língua oficial, confinando o Catalão essencialmente ao uso oral.
Já no século XX, a proclamação da II República (em 1931) permitiria ao Catalão recuperar o seu estatuto de língua oficial, ao mesmo tempo que era restabelecida a Generalitat de Catalunya. Com Franco (entre 1939 e 1975), o processo de normalização do Catalão sofreu novo e longo compasso de espera.
Apenas com a introdução da democracia, a Catalunha foi constitucionalmente reconhecida como nação, reiniciando-se a normalização do uso do Catalão na administração pública.
A Constituição espanhola de 1978 tornou o Castelhano como língua oficial do Estado, enquanto que outras línguas têm também estatuto de língua oficial nas várias Comunidades Autonómicas, de acordo com os seus Estatutos Autonómicos; a saúde das várias línguas é considerada uma rica herança cultural que merece particular protecção e respeito.
O Catalão é hoje reconhecido pela União Europeia como língua oficial, tendo sido proposto que todos os textos da União deveriam ser também editados em Catalão.
Na Catalunha, a língua beneficia mesmo de uma discriminação positiva, uma vez que se impõe o seu conhecimento para acesso a determinados cargos de cariz público.
Links a consultar:
http://europa.eu.int/comm/education/policies/lang/languages/langmin/euromosaic/es51_en.html
[2142]
MEIA-MARATONA DE LISBOA
Não será vulgar, mas é concerteza saudável: o Presidente da República, Jorge Sampaio (ladeado por dois grandes Campeões, como Rosa Mota e Paulo Guerra), o Primeiro-Ministro, José Sócrates e o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, participando (como “atletas”!) na Mini-Maratona de Lisboa.
A nível competitivo, na Meia-Maratona, a vitória para os “quenianos do costume”:
1º Paul Tergat – Quénia – 59.10
2º Robert Cheruyot – Quénia – 59.20
3º Lawrance Kiprotich – Quénia – 59.27
4º Martin Lel – Quénia – 59.40
5º Rogers Rop – Quénia – 60.45
No sector feminino, vitória igualmente para o Quénia, por intermédio de Susan Chepkemei, com a marca de 68.49 minutos (melhor marca mundial do ano).
[2141]
REVISTA DA SEMANA
Visão (10 Março)
“O horror tão presente – As explosões de há um ano nos comboios de Madrid deixaram muito mais do que a negra contabilidade dos 191 mortos e do que as mazelas físicas ainda visíveis: as consequências psicológicas do 11-M também estão bem à vista, feitas de sobressaltos e lágrimas.
Miguel Matos Chaves candidata-se à liderança – Quase três semanas depois da demissão de Paulo Portas, o CDS-PP tem finalmente um candidato à liderança. O gestor defende um novo modelo de organização interna do partido e promete realizar uma convenção que reúna a direita portuguesa.
Começou a nova Legislatura – Mota Amaral, presidente cessante da Assembleia da República, deu início à X Legislatura. Com o primeiro-ministro indigitado a prometer um Governo «firme no processo de decisão», mas, ao mesmo tempo, dialogante, o novo Parlamento começou a trabalhar com algumas mudanças, a nível das lideranças das bancadas parlamentares.
Abusos podem manter-se – Ouvida pela primeira vez no Tribunal de Santa Clara, a provedora da Casa Pia admitiu que os abusos sexuais de menores podem continuar a acontecer actualmente na instituição e defendeu que a culpa é de todos, incluindo do Estado.”
[2140]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (V)
“Ali por então não houve mais fala nem entendimento com eles por a barberia deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém. Acenámos-lhes que se fossem e assim o fizeram e passaram-se além do rio. E saíram três ou quatro homens nossos dos batéis e encheram não sei quantos barris d’água, que nós levávamos. E tornámo-nos às naus. E, em nós assim vindo, acenaram-nos que tornássemos e tornámos.
E eles mandaram o degradado e não quiseram que ficasse lá com eles, o qual levava uma bacia pequena e duas ou três carapuças vermelhas para dar lá ao senhor, se o aí houvesse. Não curaram de lhe tomar nada e assim o mandararam com tudo. E então Bartolomeu Dias o fez outra vez tornar, que lhes desse aquilo. E ele tornou e deu aquilo em vista de nós àquele que da primeira o agasalhou; e então veio e trouxemo-lo.
Este que o agasalhou era já de dias e andava todo, por louçainha, cheio de penas, pegada pelo corpo, que parecia assetado como S. Sebastião. Outros traziam carapuças de penas amarelas e outros de vermelhas e outros de verdes.
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela.
Nenhum deles não era fanado, mas todos assim como nós. E com isto nos tornámos e eles foram-se. À tarde saiu o capitão-mor em seu batel com todos nós outros e com os outros capitães das naus em seus batéis a folgar pela baía, a carão da praia, mas ninguém sai em terra por o capitão não querer, sem embargo de ninguém nela estar. Somente sai ele com todos em um ilhéu grande, que na baía está, que de baixa-mar fica mui vazio mas é de todas partes cercado d’água, que não pode ninguém ir a ele sem barco ou a nado.
Ali folgou ele e todos nós outros bem uma hora e meia. E pescaram, aí andando marinheiros com um cinchorro, e mataram pescado miúdo não muito. E, então volvemo-nos às naus já bem noute.
Ao domingo de Pascoela, pela manhã, determinou o capitão d’ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se corregessem nos batéis e fossem com ele; e assim foi feito. Mandou naquele ilhéu armar um esperável e dentro nele alevantar altar mui bem corregido e ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique em voz entoada e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que ali todos eram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida da por todos com muito prazer e devoção.
Ali era com o capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre alta, à parte do Evangelho. Acabada a missa, desvestiu-se o padre e pôs-se em uma cadeira alta e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação da história Evangelho. E, em fim dela, tratou de nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da cruz, sob cuja obediência vimos, a qual veio muito a propósito e fez muita devoção.”
[2139]
LÍNGUAS MINORITÁRIAS NA EUROPA (X)
“Mención á parte merece a figura polifacética de Castelao, un clásico da cultura galega en tódalas áreas en que manifesta a súa arte e que ten unha grande significación política plasmada tanto na súa obra ensaística – Sempre en Galiza – coma no seu labor no seo do Partido Galeguista, xogando un papel moi importante na aprobación do Estatuto de Autonomía de Galicia de 1936.
No Estatuto aprobado no 36 a lingua galega adquire por vez primeira o recoñecemento de “idioma oficial de Galicia”, mais non chegou a ter aplicación práctica por mor do estoupido da Guerra Civil.
A chama da cultura, do idioma e da identidade de Galicia mantívose viva no exilio, mentres no noso país se producían tímidos intentos de recuperación (colección Benito Soto de poesía, suplemento semanal bilingüe do xornal La Noche), ata que no 50 se constitúe a Editorial Galaxia.
A partir dos 60 vanse producir cambios no eido económico e social e unha leve atenuación da censura. Exemplos deste aperturismo foron a publicación de Grial, a instauración do Día das Letras Galegas, a ampliación do mundo editorial con Ediciós do Castro, as asociacións culturais en defensa do galego…
A Universidade galega non queda á marxe destas inquedanzas e toma parte activa no proceso de recuperación coa creación no 65 da Cátedra de Lingua e Literatura Galegas e, seis anos despois, do Instituto da Lingua Galega.
A instauración do réxime democrático en España senta as condicións para a normalización do galego. Ó abeiro do disposto na Constitución Española de 1978, o Estatuto de Autonomía de Galicia (1981) establece que o galego é, xunto co castelán, lingua oficial de Galicia.
O 15 de xuño de 1983 o Parlamento de Galicia aprobaba, co consenso de tódolos grupos parlamentarios, a Lei de Normalización Lingüística de Galicia que pasa a se constituír na ferramenta legal imprescindible para o exercicio dos nosos dereitos lingüísticos.
Nos anos transcorridos desde a aprobación da Lei de Normalización Lingüística experimentáronse avances substantivos no proceso de dignificación lingüística ó tempo que se ían aprobando diferentes disposicións lexislativas.
Doutra banda, ó abeiro da actitude do conxunto da poboación (manifestamente favorable á extensión do uso social do galego), desenvolvéronse numerosas campañas de sensibilización colectiva orientadas a prestixia-lo uso da lingua e a incidir no cambio de actitudes lingüísticas individuais.
E ata aquí chegou o noso percorrido histórico.”
Também na blogosfera, podemos encontrar inúmeros blogues em galego (ver “directório”), de que aqui destaco o Días Estranhos, de Martin Pawley (adoptando uma norma não integralmente coincidente com a norma oficial do galego) ou o Esbardalladas de Akin.
Links a consultar:
http://galego.org/historia12.html
http://galego.org/historia13.html
http://galego.org/historia14.html
http://galego.org/historia15.html
http://galego.org/historia16.html
http://galego.org/historia17.html
http://galego.org/hoxe/hoxe.html
P. S. “NO OLVIDAMOS“ – Para que nunca mais volte a haver um “11-M” como o de Madrid, faz hoje um ano.
[2138]
CARTA DE PÊRO VAZ DE CAMINHA (IV)
“Ao sábado, pela manhã, mandou o capitão fazer vela e fomos demadar a entrada, a qual era mui larga e alta de seis, sete braças. E entraram todas as naus dentro e ancoraram-se em cinco, seis braças, a qual ancoragem dentro é tão grande e tão segura que podem jazer dento nela mais de 200 navios e naus. E tanto que as naus foram pousadas e ancoradas, vieram os capitães todos a esta nau do capitão-mor.
E da daqui mandou o capitão Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias que fossem em terra e levassem aqueles dous homens e os deixassem ir com seu arco e setas, a cada um dos quais mandou dar uma camisa nova e uma carapuça vermelha e um rosairo de contas brancas d’osso, que eles levavam nos braços, e um cascavél e uma campainha.
E mandou com eles para ficar lá um mancebo degradado, criado de João Telo, a que chamam Afonso Ribeiro, para andar lá com eles e saber de seu viver e maneira e a mim mandou que fosse com Nicolau Coelho. Fomos assim de frecha direitos à praia.
Ali acudiram logo obra de 200 homens, todos nus, e com arcos e setas nas mãos. Aqueles que nós levávamos acenaram-lhes que se afastassem e pusessem os arcos e eles os puseram e não se afastavam muito. E, mal tinham posto os arcos, então saíram os que nós levávamos e o mancebo degradado com eles, os quais, assim como saíram, não pararam mais, nem esperava um por outro senão a quem mais correria.
E passaram um rio, que por aí corre, d’água doce, de muita água, que lhes, dava pela braga e outros muitos com eles. E foram assim correndo além do rio entre umas moitas de palmas, onde estavam outros, e ali pararam. E, naquilo, foi o degradado com um homem que logo ao sair do batel, o agasalhou e levou-o até lá. E logo o tornaram a nós. E com ele vieram ou outros que nós levámos, os quais vinham já nus e sem carapuças. E então se começaram de chegar muitos. E entravam pela beira do mar para os batéis até que mais não podiam.
E traziam cabaços d’água e tomavam alguns barris que nós levávamos e enchiam-nos d’água e traziam-nos aos batéis. Não que eles de todo chegassem a bordo do batel, mas, junto com ele, lançavam-nos da mão e nós tomávamo-los. E pediam que lhes dessem alguma cousa. Levava, Nicolau Coelho cascavéis e manilhas e a uns dava um cascavél e a outros uma manilha, de maneira que, com aquela encarna, quase nos queriam dar a mão.
Davam-nos daqueles arcos e setas por sombreiros e carapuças de linho e por qualquer cousa que lhes homem queriam dar. Dali se partiram os outros dois mancebos que não os vimos mais. Andavam ali muitos deles ou quase a maior parte que todos traziam aqueles bicos d’osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles traziam beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos a saber: um na metade e os dous nos cabos.
E andavam aí outros quartejados de cores, isto é: deles a metade da sua própria cor e a metade de tintura negra, maneira d’azulada, e outros quartejados d’escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha.”
[2137]



