BILINGUISMO – O CASO DO CANADÁ (III)
Em 1960, sob iniciativa de uma elite francófona (liderada por J. Lesage), começava a chamada “Revolução Tranquila”, com o Québec – não obstante continuar politicamente submetido ao pacto federal – retomando a causa do reconhecimento da província como nação francófona, apoiada na população maioritariamente francófona (mais de 85 % dos seus mais de 8 milhões de habitantes, os quais correspondem a cerca de 80 % de todos os canadianos de origem francesa).
O Québec (segunda província em importância socioeconómica, a seguir à província de Ontário) forma assim um “microcosmos” original, cuja história sempre foi marcada pela questão linguística, erigida nas décadas mais recentes como factor decisivo para a emergência de um Québec moderno, dinâmico, determinado e confiante no seu futuro – culminando em 1977 com a adopção da “Carta da Língua Francesa”, como forma de reapropriação do espaço público, que havia sido “invadido” pelo inglês.
Esta “Carta” tem como postulado fundamental de animação da política linguística que, se o francês deve sobreviver e expandir-se no continente norte-americano, tal apenas será possível por via da máxima protecção e promoção no Québec, único território em que é maioritário.
Daí também a importância do francês ser adoptado como língua de integração dos imigrantes, essencialmente a nível da sua utilização em espaços públicos, ou seja, a língua normal e habitual de trabalho, ensino, comunicação, comércio e negócios – em prejuízo do bilinguismo institucional, que poderia originar um risco de fragilização do estatuto do francês, visto a força de atracção do inglês – e, respeitando os direitos de uma sociedade plural, independentemente da língua utilizada em casa.
Não obstante, o peso global dos francófonos no Canadá é de apenas cerca de 23,5 %, o que é ainda penalizado com a desfavorável dinâmica demográfica do grupo francófono, com taxas de natalidade mais baixas, a par do continuado fluxo migratório internacional, povoando o território com falantes de outras línguas (que, ao instalar-se, acabam ainda por optar, prioritariamente, pelo inglês, em detrimento do francês, numa proporção de 60 % / 40 %).
[2171]
Entry filed under: Sociedade.



