Archive for Dezembro, 2003
2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXIII)
A 24 de Julho, Francisco José Viegas volta a tratar o tema dos “blogues”: após a recente entrada na “blogosfera”, com o Aviz e dos debates na rádio (Antena1) e na televisão (NTV), escreve no “Jornal de Notícias”:
“De repente, a descoberta da blogosfera veio para as páginas dos jornais. José Pacheco Pereira publicou alguns artigos sobre a matéria e o essencial disse-o ele: é impossível saber o que pensa o Portugal dos anos 90 sem referir a blogosfera, o mundos dos blogs, a travessia imediata da internet por cidadãos anónimos ou com nome que, diariamente, dão opinião, escrevem sobre todos os assuntos (de política a medicina, de sociologia a arquitectura, de literatura – sobretudo – ao dia-a-dia de gente que não conhecemos).
Essas pessoas já não têm lugar fixo: existem no éter, esse estádio luminoso que se liga ao mundo por um cabo, por um modem, e que é lido onde quer que seja. Ninguém é, exclusivamente, de Lisboa. Mas pode-se viver em Seia ou em Ponta Delgada e isso não ter qualquer importância: escreve-se no éter.
E qualquer um pode fazê-lo sem mediação das instituições tradicionais do jornalismo ou da edição. O que tem riscos consideráveis e exerce um fascínio incontrolável sobre os que querem dizer qualquer coisa e podem fazê-lo.
Para leigos, a blogosfera, o mundo dos blogs, também deixa de ser um produto alquímico ou tecnológico – está ao alcance de todos, dos olhos de todos, de todas as audiências. Está à distância de um rumor e de um gesto simples: um endereço na net, de um link a outro passa-se depressa.
Uma das questões mais discutidas a propósito dos blogs tem a ver com a sua relação com o jornalismo. É, de qualquer modo, uma falsa questão.
Os blogs não põem em risco o jornalismo, evidentemente, nem os jornais: mas desafiam-os, obrigam-os a moderar a sua marca ideológica e as suas tentativas de manipulação, lançam reptos à preguiça das redacções e à sua modorra, provam que não é preciso ser-se profissional do jornalismo para escrever sobre a passagem do tempo ou sobre a actualidade – mas que o profissional do jornalismo deverá ser mais exigente, mais rigoroso, mais culto e mais informado do que tem sido até agora. Sobre política internacional, que é o domínio onde as redacções são mais preguiçosas, incultas e sensíveis à demagogia e à propaganda, quase todos os blogs são mais interessados e fornecem mais informação. Onde a Imprensa é declaradamente parcial, os blogs protestam e fornecem outras explicações, dão um passo em frente, arriscam e não temem nenhuma censura, nem a “correcção política” dos sacerdotes tradicionais.
À Esquerda e à Direita (mas sobretudo à Direita – cuja percentagem já foi mais elevada do que hoje), os blogs libertaram-se da Imprensa dos mandarinatos (e do poder da “geração de 60”) e revelam muitas vezes as suas falhas. De facto, é impossível saber o que pensa o Portugal dos anos 90 sem recorrer à internet, sem recorrer aos blogs – mais do que às teses de doutoramento dos sociólogos.
É um mundo desordenado, cheio de vícios, de revelações sobre o banal e o extraordinário que habitam em cada português com educação média e gostos literários acima da vulgaridade.
Por isso, os mandarins temem essa opinião – desvalorizam-na por ser tão frágil e apenas viver no éter, lá onde as revoluções olham de cima o traçado dos geógrafos. Não se trata apenas da relação cada vez mais próxima entre autor e produto do seu trabalho, como predisse Walter Benjamin. Trata-se de uma batalha pela voz. A Imprensa só tem a ganhar, se compreender esta ideia”.
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1º "POST" – A ESQUINA DO RIO – 25.06.2003
“A POLÉMICA BLOG
Feliz coincidência esta, poder começar uma nova coluna semanal de imprensa ao mesmo tempo que um blog – e vou usar a forma blog em vez do blogue politicamente correcto. A coisa tem ainda mais graça por causa da polémica desencadeada por um editorial do DNA de sábado passado, onde se defendia, na realidade, que quem tem acesso a escrever nos media tradicionais não devia utilizar este novo media que são os blogs.
Num interessante artigo publicado na Online Journalism Review Mark Glaser aborda a forma como os blogs estão a influenciar os media e pediu a oito influentes bloggers para estabelecerem listas dos seus blogs preferidos. Listas e artigo em glaser”.
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"BLOGUES" NO SAPO (II)
Não são muitos os “blogues” de qualidade que posso recomendar, com base na breve incursão que fiz aos mais visitados desta plataforma.
Infelizmente, um dos melhores, o Espigas ao Vento, suspendeu já a sua actividade.
Limito-me portanto, neste âmbito, a referir os “blogues” que poderão ser susceptíveis de interessar a um mais amplo conjunto de leitores: Icosaedro, Cineblog, Poeira de Estrelas, Da Vinci, Lobices e Indeterminado.
“Icosaedro” – Um verdadeiro oásis no “Sapo”, a “remar (quase) sozinho contra a maré”. Coragem! Um belíssimo design e imagens lindas. Um dos poucos que vale mesmo a pena!
“Cineblog” – Um “blogue” interessante, especializado em cinema, bem mantido. Vale a pena!
“Poeira de estrelas” – Uma boa mistura de “sociedade” com “ciência”.
“Da Vinci“ – A vida e obra de alguns dos maiores génios da humanidade.
“Lobices” – “Tudo sobre lobices, ou seja, meiguices de lobos (e não só, claro…)”. “Blogue pessoal”, com algum interesse, mantido por um “jovem” de 58 anos.
“Indeterminado“ – “Tudo sobre indeterminações indeterminadas”. Pessoal, com interesse.
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"BLOGUES" NO SAPO (I)
Neste fim-de-semana, fiz uma rápida ronda pelos “blogues” no Sapo, tendo essencialmente por base os que surgiam posicionados nos 25 primeiros lugares em termos de visitas.
Infelizmente, não me parece que o resultado, em termos globais, possa – para já – constituir motivo de grande “orgulho” para os responsáveis pela manutenção desta plataforma.
Para que esta adquira credibilidade, visibilidade e que se possa afirmar como um “parceiro válido” no seio da blogosfera portuguesa, será necessário desenvolver um grande trabalho: primeiro, na captação de autores (por via da promoção de melhores capacidades técnicas, que levem a que os “blogues” instalados noutras plataformas decidam promover uma migração); segundo, através de acções de divulgação da plataforma; terceiro, numa política muito sensível, que é a de exercer um estreito “controlo” sobre o conteúdo e temática de alguns “blogues” (não se trata de censura, mas sim de garantir um nível mínimo de “respeitabilidade”) – a bem da verdade, alguma coisa foi já feita nesta matéria, mas será necessário continuar a trilhar o mesmo caminho, já que há “reincidências”.
Seria algo de bastante redutor – e portanto a evitar – que a esta plataforma se pudesse associar de forma mais ou menos implícita uma camada juvenil feminina ou, o que seria muito negativo, um determinado género, caracterizado por conteúdos de ordem “brejeira” (não, não encontrei lá nenhum “Pipi”…), erótica ou mesmo pornográfica.
Depois desta primeira apreciação genérica, muito sumária, apresentarei novas entradas, referindo o que -em minha opinião – “vale a pena” e “aquilo” que não deveria continuar a “usurpar” um espaço que se deseja livre, mas responsável.
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ESTADO SOBREVIVE AO DECLÍNIO DA NAÇÃO (I)
.A criação do Estado foi uma das obras-primas da civilização europeia e um dos seus produtos mais copiados em outras partes do mundo.
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O elemento essencial dessa organização, ou dessa institucionalização, foi a progressiva centralização do poder, no sentido weberiano de .monopólio da força legítima., na instância do político, em desfavor das regalias de senhores feudais, ou de príncipes da Igreja, entre os séculos XIV e XVII.
Num segundo momento, o Estado desenvolve-se em luta contra a Igreja Católica e contra as várias reminiscências da ideia de império no continente europeu.
É na briga do Estado contra a forma imperial de organização dos povos, e de certa maneira contra a concepção monárquico-absolutista,que surge a fórmula do Estado-Nação. A Revolução Americana e a Revolução Francesa servem depois de matrizes para a emancipação colonial da América Latina e para a .revolução dos povos. de 1848..
“Estado sobrevive ao declínio da nação” (José Medeiros Ferreira) . Notícias do Milénio
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UNIÃO EUROPEIA – 1993
Ano Europeu dos Idosos e da Solidariedade entre as Gerações.
A 1 de Janeiro, entra em vigor o Mercado Único.
Em Fevereiro, iniciam-se as negociações com vista à adesão da Áustria, da Finlândia e da Suécia. Em Abril, iniciam-se as negociações com a Noruega.
O Conselho Europeu, reunido em Bruxelas, Bélgica, adopta uma declaração para assinalar a entrada em vigor do Tratado da União Europeia, confirma que a segunda fase da União Económica e Monetária terá início em 1 de Janeiro de 1994 e define diversos domínios que deverão ser objecto de acções comuns a desenvolver pela União Europeia no âmbito da Política Externa e de Segurança Comum.
Em 1 de Novembro, concluídos todos os processos de ratificação, entra em vigor o Tratado da União Europeia.
As delegações dos Estados participantes nas negociações do Uruguay Round (GATT) assinam, em Genebra, um acordo destinado a concretizar a mais ampla liberalização da história do comércio mundial.
[809]
1993 – ISRAEL E OLP
“Os dirigentes israelita e palestiniano, Itzhak Rabin e Iasser Arafat, apertam as mãos em Washington, num gesto que simboliza o reconhecimento mútuo de Israel e da OLP. Dois anos depois, Rabin será assassinado por um extremista judeu”.
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2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XXII)
A 22 de Julho, os “blogues” chegam à televisão, e, novamente, pela mão de Francisco José Viegas, na NTV, no programa “Livro Aberto”, debate com as participações de: Pedro Mexia (Dicionário do Diabo); Ricardo Araújo Pereira (Gato Fedorento); Nuno Jerónimo (Blogue dos Marretas); Bernardo Rodrigues (Desejo Casar) e Cristina Fernandes (Janela Indiscreta), de que resumo de seguida algumas das “frases-chave”.
Francisco José Viegas – «Poderão os blogues ser encarados como alternativa aos meios de comunicação tradicionais? Os blogues são “umbiguistas”? Existe uma referência permanente aos livros: links, referências, citações, “blogues temáticos” dedicados à literatura. Há pessoas que são viciadas (addicted) na escrita nos blogues?»
Pedro Mexia – «Comecei por ler o Andrew Sullivan (“Como fazer um blogue”; foi como um “manual de instruções”). O blogue é um diário (não íntimo), público, na Internet. Começa a haver como que regras “deontológicas”: “um blogue, depois de escrito e publicado, não se apaga”. Nos blogues, há uma pluralidade de links para a imprensa genérica. É muito difícil manter um blogue sem estar informado (sem ler jornais). O blogue não pode ser nunca um substituto do jornalismo. O que mais me agrada nos blogues é a qualidade de escrita: hoje em dia, é claramente superior à dos jornais».
Ricardo Araújo Pereira – «Estamos a manifestar as nossas opiniões num obscuro recanto da Internet! Os outros meios de comunicação social também se comentam muito uns aos outros. Os blogues recuperam a tradição da tertúlia. O blogue permite manter uma “conversa”, através de uma linguagem por escrito (sem ser ao nível da “linguagem degradada” do chat); há uma linguagem cuidada nos blogues. No fundo, essencialmente, nós somos pessoas que gostam de escrever».
Nuno Jerónimo – «Nós somos professores universitários; por definição não há vida íntima. Qualquer profissão que tenha por pressuposto a exposição pública (por exemplo, ser professor) pode ser considerada uma forma de exibicionismo? A leitura do blogue é um gesto activo; só lê quem quer; não é um veículo de comunicação passivo, como a televisão, que “impõe a sua presença”. Os blogues apenas poderão ser entendidos como complemento aos restantes meios de comunicação. Os blogues têm – talvez surpreendentemente – um conjunto de pessoas a escrever bem».
Bernardo Rodrigues – «A prova do mês de Julho / Agosto vai ser determinante para ver qual será a evolução deste fenómeno, para avaliar até que ponto se trata de uma “moda” mais ou menos passageira. O blogue é de reacção imediata; a escrita é um gesto imediatista, mas que deixa rasto – “não se apaga um texto que tenha sido escrito”. A questão do “tempo” é fulcral, no sentido em que há um “feedback quase online”».
Cristina Fernandes – «Não há “umbiguismo”, nem exibicionismo; estamos a falar para poucos, em circuito fechado, entre nós; a “audiência” ainda é muito restrita».
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1º "POST" – OUTRO, EU – 24.06.2003
“INíCIO Sim, também eu não resisti. O prazer de ler os outros (o Abrupto, o Aviz, o Dicionário do Diabo, o Blog-de-Esquerda, o essencial Ponto Media e por aí adiante) deu-me o alento necessário. Puro umbiguismo, claro está”.
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REVISTA DA SEMANA
Visão (18 Dezembro)
“O mistério da toca de Saddam – Nove meses escondido transformaram o ditador numa toupeira. Como foi capturado e interrogado.
O juiz Rui Teixeira voltou a decretar a prisão preventiva do embaixador Jorge Ritto por considerar que existe o «perigo de continuação de actividade criminosa».
Os ministros das Pescas dos Quinze chegaram esta sexta-feira a um acordo que reduz as cotas de pesca admissíveis para o próximo ano, mas Portugal conseguiu ficar desobrigado de reduzir para metade os dias de faina.
O primeiro-ministro opôs-se a qualquer alteração da legislação sobre o aborto pelo Parlamento e defendeu o respeito pelo resultado do referendo de 1998, de onde resultou a vitória do «não» à despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Michael Jackson formalmente acusado – A acusação formal contra o cantor, por abuso sexual repetido de uma criança, foi deduzida na quinta-feira, 18. Se for considerado culpado, no julgamento que se inicia do dia 16 de Janeiro, Michael Jackson arrisca-se a uma pena de 24 anos de prisão.”
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