Archive for Novembro, 2004
ORÇAMENTO DE ESTADO E AS CERCI
Numa acção conjunta do Tugir em português e do Estaleiro propõe-se à comunidade Blogos que seja enviada uma mensagem electrónica para o Primeiro-Ministro com o seguinte teor:
Senhor Primeiro-Ministro
Estando perfeitamente elucidado sobre o Orçamento de Estado para 2005 e sabendo que V.Ex.ª. tenciona enviar-me uma carta em que dará esclarecimentos de que prescindo, solicito que se abstenha do respectivo expediente e faça entrega do montante respectivo a uma CERCI à escolha de Vossa Excelência.
Respeitosamente
De facto, para quê procurar explicar o inexplicável (um Orçamento sem linha de rumo definida, cujas políticas não têm qualquer coerência com o que generalizadamente se defendeu nos últimos anos, em que a política fiscal é cada vez mais uma autêntica “manta de retalhos”)?
P. S. Este procedimento poderia generalizar-se a todas as acções de marketing político desenvolvidas pelos governantes…
Há 1 ano no Memória Virtual – Música clássica (III)
[1844]
"OS LUSÍADAS" (VI)
No Canto VI, a armada parte para Calecut, com nova intervenção hostil de Baco junto de Neptuno, deus do mar, procurando prejudicar os portugueses. Enquanto os marinheiros ouvem tranquilamente contar o episódio de “Os Doze de Inglaterra”, o deus dos ventos, Éolo desencadeia uma tempestade, obrigando Vénus a intervir novamente, mandando as ninfas amainar o vento. Por fim, os portugueses chegam a Calecut.
“Não sabia em que modo festejasse
O Rei Pagão os fortes navegantes,
Pera que as amizades alcançasse
Do Rei Cristão, das gentes tão possantes.
Pesa-lhe que tão longe o apousentasse
Das Europeias terras abundantes
A ventura, que não no fez vizinho
Donde Hércules ao mar abriu o caminho.
Com jogos, danças e outras alegrias,
A segundo a polícia Melindana,
Com usadas e ledas pescarias,
Com que a Lageia António alegra e engana,
Este famoso Rei, todos os dias
Festeja a companhia Lusitana,
Com banquetes, manjares desusados,
Com frutas, aves, carnes e pescados.
Mas vendo o Capitão que se detinha
Já mais do que devia, e o fresco vento
O convida que parta e tome asinha
Os pilotos da terra e mantimentos
Não se quer mais deter, que ainda tinha
Muito pera cortar do salso argento.
Já do Pagão benigno se despede,
Que a todos amizade longa pede.
Pede-lhe mais que aquele porto seja
Sempre com suas frotas visitado,
Que nenhum outro bem maior deseja
Que dar a tais barões seu reino e estado;
E que, enquanto seu corpo o esprito reja,
Estará de contino aparelhado
A pôr a vida e reino totalmente
Por tão bom Rei, por tão sublime gente.”
[1843]
PELOS CAMINHOS DA BLOGOSFERA
Dia após dia, “caminhando pela blogosfera”, nem nos damos conta do magnífico trabalho que algumas pessoas vão desenvolvendo, prestando verdadeiro serviço público (e a título gratuito!).
A minha especial referência hoje para o Almocreve das Petas, um “blogue” fantástico de trabalho e dedicação, sempre com inúmeras pistas de leitura e de reflexão, assim como para o Bloguitica, também com uma intensa actividade, no comentário e análise da actualidade política e, igualmente, oportunas sugestões de leitura; trata-se de casos em que o destaque é ainda mais justificado, dado tratar-se de “blogues” individuais.
E, depois, há estas agradáveis surpresas de ver os “blogues” a cumprir uma função essencial: a de despertar o gosto pela leitura e pela escrita – veja-se o Netescrita, “O que eu quero é que eles gostem de ler e de escrever!” (Emília Miranda) – via Causa Nossa.
Há 1 ano no Memória Virtual – Música clássica (II)
[1842]
"OS LUSÍADAS" (V)
No Canto V, como num “flash-back”, Vasco da Gama começa a contar ao Rei de Melinde a sua viagem, desde o Cruzeiro do Sul aos perigos da costa africana, com o “Fogo-de-santelmo”, a tromba marítima e o grande obstáculo do Gigante Adamastor, personificação do Cabo das Tormentas, até à doença e morte provocadas pelo escorbuto.
“«Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prósperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite estando descuidados,
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece.
«Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
– «Ó Potestade, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?» –
«Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
«Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo:
Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo:
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.“
[1841]
PARA QUE SERVE UM "BLOGUE"?
Esta “entrada” não é um indício de nada, excepto do que aqui fica escrito…
É indisfarçável o cansaço que 500 dias de actualizações diárias do “blogue” provocam; este continua a ser um “hobby” fantasticamente aliciante, mas, simultaneamente, esgotante, ainda mais quando é feito a “solo”.
A partir de determinado momento (indefinido no tempo), “aquele grande prazer de blogar” vai sendo substituído por outra sensação, não muito agradável, a da existência de uma espécie de compromisso, primeiro que tudo connosco próprios, depois, para com quem nos visita.
O ordenado dos “bloguistas” é intangível; passa pelas visitas, pelos comentários simpáticos de incentivo. “Isto” não pode portanto, nunca, tornar-se (mais) uma “obrigação”.
Porém, sempre sou levado a pensar que, se fizesse umas “férias do blogue”, talvez fosse difícil retomá-lo posteriormente.
E, depois, há outro aspecto: os “blogues” (principalmente os assinados) “funcionam muito mal” na sua componente diarística, isto não é um “diário”, porque um diário “não se expõe publicamente”…
E repito a questão que regularmente vem sendo colocada: Para que serve então um “blogue” se “não podemos” nele escrever aquilo que queremos?
Há 1 ano no Memória Virtual – Nível de vida
[1840]
"OS LUSÍADAS" (IV)
O Canto IV prossegue com a história de Portugal narrada por Vasco da Gama, desde a ascensão do Mestre de Aviz, batalha de Aljubarrota, as conquistas de África na época de D. João II, até ao reinado de D. Manuel, culminando com o episódio do “Velho do Restelo”, advertindo de forma pessimista os portugueses sobre os perigos decorrentes da vaidade e da ambição de fama, no momento da partida da armada para a Índia.
“«Despois de procelosa tempestade,
Nocturna sombra e sibilante vento,
Traz a manhã serena claridade,
Esperança de porto e salvamento;
Aparta o Sol a negra escuridade,
Removendo o temor ao pensamento:
Assi no Reino forte aconteceu
Despois que o Rei Fernando faleceu.
«Porque, se muito os nossos desejaram
Quem os danos e ofensas vá vingando
Naqueles que tão bem se aproveitaram
Do descuido remisso de Fernando,
Despois de pouco tempo o alcançaram,
Joane, sempre ilustre, alevantando
Por Rei, como de Pedro único herdeiro
(Ainda que bastardo) verdadeiro.
«Ser isto ordenação dos Céus divina
Por sinais muito claros se mostrou,
Quando em Évora a voz de ũa minina,
Ante tempo falando, o nomeou.
E, como cousa, enfim, que o Céu destina,
No berço o corpo e a voz alevantou:
– «Portugal, Portugal (alçando a mão,
Disse) polo Rei novo, Dom João!»
«Alteradas então do Reino as gentes
Co ódio que ocupado os peitos tinha,
Absolutas cruezas e evidentes
Faz do povo o furor, por onde vinha;
Matando vão amigos e parentes
Do adúltero Conde e da Rainha,
Com quem sua incontinência desonesta
Mais (despois de viúva) manifesta.”
[1839]
"RANKING" DA UNESCO
De acordo com relatório “Educação para Todos”, divulgado pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Portugal ocupa a 34ª posição entre 127 países analisados, num “ranking” liderado pela Noruega, Dinamarca, Holanda, Coreia do Sul e Finlândia, países com os mais elevados índices de desenvolvimento em termos de educação.
Portugal integra os cerca de 40 países que se considera terem já alcançado os objectivos de melhorar os índices de educação das suas populações, compromisso assumido no Fórum Mundial de Educação, realizado em Dacar, no Senegal, em 2000.
[1837]
"A NOITE DO ORÁCULO"
“No dia 18 de Setembro de 1982, após vários meses de recuperação de uma doença quase fatal, o escritor Sidney Orr entra numa papelaria de Brooklin e compra um bloco de notas azul de fabrico português. Nos nove dias que se seguem, Sidney vai viver sob a influência do livro em branco, preso num universo de arrepiantes premonições e de acontecimentos desconcertantes, que ameaçam destruir o seu casamento e minar a sua confiança na realidade.
Por que é que a sua mulher, Grace, começa a comportar-se de uma forma tão desconcertante pouco depois de ele ter começado a escrever no estranho bloco de notas? Por que é que o dono da papelaria encerra precipitadamente o estabelecimento no dia seguinte? Qual é a ligação entre uma lista telefónica polaca, de 1938, e um romance perdido cujo protagonista consegue adivinhar o futuro? Quando é que a animosidade explode e passa a violência? Até que ponto é que o perdão é a derradeira expressão do amor? Dúvidas e incertezas de simples seres humanos, a braços com as múltiplas e nebulosas esferas da vida quotidiana.”
É assim que nos é apresentado o mais recente livro de Paul Auster: “A Noite do Oráculo”… Havemos de lá voltar em breve!
[1836]
"OS LUSÍADAS" (III)
No Canto III, Vasco da Gama fala ao monarca de Melinde da geografia e inicia a narrativa de episódios da história de Portugal, nomeadamente da batalha de Ourique, formação da nacionalidade, dos feitos dos Reis da I Dinastia, de Egas Moniz, da batalha do Salado e de Inês de Castro.
“Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.”
[1835]




