Archive for 10 Novembro, 2004
"OS LUSÍADAS" (V)
No Canto V, como num “flash-back”, Vasco da Gama começa a contar ao Rei de Melinde a sua viagem, desde o Cruzeiro do Sul aos perigos da costa africana, com o “Fogo-de-santelmo”, a tromba marítima e o grande obstáculo do Gigante Adamastor, personificação do Cabo das Tormentas, até à doença e morte provocadas pelo escorbuto.
“«Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prósperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite estando descuidados,
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece.
«Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
– «Ó Potestade, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?» –
«Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
«Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo:
Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo:
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo.“
[1841]
PARA QUE SERVE UM "BLOGUE"?
Esta “entrada” não é um indício de nada, excepto do que aqui fica escrito…
É indisfarçável o cansaço que 500 dias de actualizações diárias do “blogue” provocam; este continua a ser um “hobby” fantasticamente aliciante, mas, simultaneamente, esgotante, ainda mais quando é feito a “solo”.
A partir de determinado momento (indefinido no tempo), “aquele grande prazer de blogar” vai sendo substituído por outra sensação, não muito agradável, a da existência de uma espécie de compromisso, primeiro que tudo connosco próprios, depois, para com quem nos visita.
O ordenado dos “bloguistas” é intangível; passa pelas visitas, pelos comentários simpáticos de incentivo. “Isto” não pode portanto, nunca, tornar-se (mais) uma “obrigação”.
Porém, sempre sou levado a pensar que, se fizesse umas “férias do blogue”, talvez fosse difícil retomá-lo posteriormente.
E, depois, há outro aspecto: os “blogues” (principalmente os assinados) “funcionam muito mal” na sua componente diarística, isto não é um “diário”, porque um diário “não se expõe publicamente”…
E repito a questão que regularmente vem sendo colocada: Para que serve então um “blogue” se “não podemos” nele escrever aquilo que queremos?
Há 1 ano no Memória Virtual – Nível de vida
[1840]