EQUADOR (I)
Foi o tema da primeira .entrada. deste .blogue.. Passados cerca de 8 meses do seu lançamento, foram já vendidos mais de 100 000 exemplares, numa invulgar conjugação de aprovação pela crítica e pelos leitores.
Em Portugal, o livro do ano de 2003; está obviamente de parabéns Miguel Sousa Tavares, com .O seu primeiro romance., obra fascinante, de que apresentarei, nesta semana, breves excertos.
.Depois de as coisas acontecerem, é quase irresistível reflectir sobre o que teria sido a vida, se se tem feito diferente. Se soubesse o que o destino lhe reservava nos próximos tempo, talvez Luís Bernardo Valença nunca tivesse apanhado o comboio, naquela chuvosa manhã de Dezembro de 1905, na estação do Barreiro.
Mas agora, recostado na confortável poltrona de veludo carmim da 1ª classe, Luís Bernardo via desfilar tranquilamente a paisagem através da janela, observando como aos poucos se instalava o terreno plano, semeado de sobreiros e azinheiras, tão característico do Alentejo, e como o céu de chuva que deixara em Lisboa ia timidamente abrindo clareiras pelas quais espreitava já um reconfortante sol de Inverno. Procurava ocupar aquelas preguiçosas horas de viagem até Vila Viçosa na leitura sonolenta do Mundo, o seu jornal de todos os dias, vagamente monárquico, assumidamente liberal e, como o nome indicava, preocupado com o estado do mundo e com «as elites que nos governam». Naquela manhã, o Mundo noticiava uma crise aberta no Governo francês devido ao aumento dos custos de construção do Canal do Suez, que o engenheiro Lesseps não se cansava de escavar, como um louco furioso e sem prazo de conclusão à vista. Havia também notícia de mais um aniversário do Rei Eduardo VII, passado na intimidade da Família Real e com mensagens recebidas de todos os reis, rajás, sheiks, régulos e chefes tribais desse imenso Império onde, recordava o Mundo, o Sol nunca se punha. No que se referia a Portugal, havia novas de mais uma expedição punitiva contra os nativos do interior leste de Angola, mais um episódio daquela imensa trapalhada em que parecia sobreviver a custo a colónia..
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