1º "POST" – JPCOUTINHO.COM – DIÁRIOS – 30.10.2003
“CHEGA DE SAUDADE. Os Diários começam agora. Eu sei que demorei. Nada disto é fácil. Foi preciso reunir três incomparáveis génios da computação e assaltar o banco.
Tudo tratado. O Pedro estruturou a coisa. A Marlene desenhou a coisa. O Hélder caricaturou o coiso. E eu, penhorado, fugi para parte incerta. Prometi apenas escrever.
Diariamente. Ninguém falou em pagamento. Pagamento? Tenham vergonha na cara. Isto é arte. A arte deve ser o avesso das mesquinhas questões mundanas. Os filistinos nunca aprendem. Nem eu.
Obrigado por terem vindo. Façam o favor de entrar. Não se assustem com o cão. À vossa esquerda, os pecados. À vossa direita, as virtudes. Faz sentido: pecados para a esquerda, virtudes para a direita. Eu juro que foi totalmente involuntário. Não se ria, dr. Sigmund. E de hoje em diante, pecados e virtudes, devidamente alternados.
De que tratam estes Diários? Como o nome indica, dos dias do plumitivo. Os meus. Os vossos. Não existem diários privados. Eu sei, eu sei: podemos citar dezenas de exemplos. Mas citamos dezenas de exemplos precisamente porque são exemplos públicos. Fim de conversa. Melhor abreviar a missa e passar directamente ao ataque. Eu acredito na posteridade. Mas a minha posteridade será triste. Larvas e bichos. Viúvas carentes. Amantes recentes. Uma prole alargada a discutir a paternidade. A Associação Portuguesa de Escritores a esgadanhar-se de remorsos. Maria Gabriela Lençol a murmurar: «ele até era bom moço…». O melhor é aproveitar. Já. Para ler. Escrever. Rir. Chorar. Fustigar. Ser fustigado. São as linhas da minha rotina. Prometo controlar-me. Mas se algum filho da puta sair das marcas, eu juro que
[Peço imensa desculpa ao auditório. Não volta a acontecer.]
De modos que: cinco dias por semana. Dias úteis. Dias inúteis. De segunda a sexta. Prometo abrir a alma – a alma – e comentar o mundo. Que será, no essencial, o meu. Não é uma questão de vaidade. É uma questão de fé: espalhar a Palavra pelos incréus é tarefa que me coube em vida. Aceito com resignação e cumpro com esperança. Todos temos contas a prestar a Deus no Dia do Juízo Final. Eu procurei abreviar caminho e passarei a prestar contas ao auditório neste Juízo Final – canto inferior direito, com actualização diária. Ou quase. Não se acanhem. Não se excitem. Não se macem.
Segunda estou de volta para começar a trabalhar. No duro. Até lá, passem a palavra. E, por favor, tenham medo, tenham muito medo. Um cronista sem reputação é como um político que diz a verdade. Não. Faz. Sentido.”
E assim, com “chave de ouro”, se fecha este ciclo de “1º Post” (iniciado com “A Coluna Infame”) que, ao longo deste mês, tive o grande prazer de conhecer, apresentar e recordar.
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