EQUADOR (V)
.«A Sua Majestade El-Rei D. Carlos
Do governador de S. Tomé e Príncipe e S. João Baptista de Ajudá
Meu Senhor
É com a dor de quem sabe que não Vos traz boas notícias que Vos escrevo esta minha primeira e última carta.
Aqui cheguei, em Março de 1906, por nomeação de Vossa Majestade governador destas ilhas, com a incumbência . se bem a percebi e bem recordo as palavras que me dissesteis em Vila Viçosa . de mostrar ao mundo que não existe, nesta ou noutras colónias portuguesas, a ignomínia do trabalho escravo.
Como sabeis, não pedi, não desejei e não me deu qualquer satisfação tal incumbência e tal cargo. Aceitei-o para servir o meu Rei e o meu país. Contei que Vós e o Vosso Governo saberiam, à distância, avaliar a dificuldade de uma missão que consistia em fazer ver aos agricultores locais que outras formas de produção, que não o trabalho escravo, deveriam ser postas em prática, de modo a que não restassem dúvidas à Inglaterra e ao cônsul por ela para aqui nomeado que assim era ou passara a ser. Durante estes quase dois anos de missão, esforcei-me por fazer ver isto aos nossos colonos, enquanto me esforcei igualmente por fazer acreditar ao cônsul inglês que as coisas estavam a mudar, lentamente embora, mas seguramente, até ao resultado final pretendido. Quer aqui, quer em Lisboa, quer em Londres, sempre soubemos que o teste final ocorreria agora, quando . nos termos da Vossa Lei de Janeiro de 1903 . chegassem ao fim os contratos de cinco anos com os serviçais das roças, e os que o pretendessem pudessem livremente requerer e obter o seu repatriamento. (.)»..
P. S. Os excertos apresentados foram seleccionados procurando (naturalmente) não quebrar . a quem não tenha tido ainda oportunidade de ler o livro . o .suspense. próprio da intriga, plena de .reviravoltas. e com um desfecho .surpreendente..
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