EQUADOR (IV)
.No meio da azáfama daqueles dias, recebeu a certa altura a visita de David, que se fez anunciar protocolarmente. Tinham jantado os três, em casa de Luís Bernardo, dois dias depois de ele ter recomeçado a trabalhar. À vista, fora só um jantar de amigos que celebravam o restabelecimento de um deles: David trouxera até uma garrafa de champagne francês, uma Veuve Clicquot a que Luís Bernardo, por conselho médico, não pôde fazer as devidas honras.
Ficaram os três à conversa até cerca da meia-noite, no terraço, com a mesma desprendida intimidade que sempre tinham tido, desde que as circunstâncias os tinham ali reunido e rapidamente tinham percebido que a amizade entre eles era uma forma de resistência e de ajuda mútua de que nenhum queria prescindir. David fez quase todas as despesas da conversa, falando da Índia e até, coisa rara, do seu governo no Assam. Luís Bernardo estava fascinado e, ao mesmo tempo quase angustiado, com a sua própria capacidade de estar ali a escutá-lo, ao lado de Ann, e de continuar a gostar de o ouvir, de conversar com ele, de ser seu amigo, de manter com ele uma relação de homens com idades e interesses semelhantes, ao mesmo tempo que por dentro ardia no fogo daquilo que mais violentamente pode separar dois homens: a paixão pela mesma mulher..
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