EQUADOR (III)
.Ficou petrificado a olhar, bebendo pequenos goles daquele café quente, sem nada dizer e sem nada encontrar para dizer. Em Bombaim, tinha estudado atentamente a posição das ilhas de S. Tomé e Príncipe no mapa, tinha lido a descrição do arquipélago na última edição da Geographic Universal Encyclopedia, tinha lido tudo, e era quase nada, o que encontrara sobre as ilhas nos relatórios do Departamento da Marinha e do Foreign Office. Ficara a saber o essencial e não esperava nada de diferente. Mas, apesar disso e à medida que o HMS Durban se ia aproximando de terra e que a desesperada pequenez e solidão daquela terra se revelava sem contemplações, David Jameson não conseguia impedir-se de sentir um profundo e angustiado sentimento de derrota. No fundo de si mesmo, e ainda que sem motivos para tal, havia uma pequena luz de esperança que o mantivera de ânimo razoável naqueles longos 20 dias de travessia, com escalas em Zanzibar, na Beira, em Lourenço Marques e na Cidade do Cabo: a esperança de que as coisas não fossem tão más como se anunciavam, que a vista da ilha fosse ao menos uma imagem exuberante de vida, de trópicos, de estação aceitável para um tempo de regeneração. Mas, não: S. Tomé . a ilha e a cidade, que agora entrevia mais nitidamente . apareciam aos seus olhos sem nenhum subterfúgio nem nenhuma possibilidade de ilusões. Era um local de degredo. Um degredo, é certo, com o título honorífico de cônsul de sua Majestade Britânica, uma casa, que esperava decente, à sua espera na cidade, e as mordomias inerentes ao seu cargo. Mas isso, que para alguém em início de carreira poderia parecer até uma simples situação de passagem, um posto de trabalho num local exótico e paradisíaco, para ele, que tivera o Raj a seus pés, era um golpe humilhante e sem disfarce possível.
Sentiu uma presença ao seu lado direito: Ann tinha chegado em silêncio e viera encostar-se à amurada, olhando também terra, sem nada dizer e sem qualquer expressão no olhar.
Ela virou-se e encarou-o de frente. Cegou-o o verde dos olhos dela, teve vontade de chorar, de rojar-se a seus pés, de lhe pedir perdão pela centésima vez, de lhe pedir que partisse, de lhe suplicar que ficasse. Mas, antes que conseguisse dizer alguma coisa, ela agarrou-lhe na mão e disse-lhe tão baixinho que ele quase teve medo de não ter ouvido bem:
. Não te deixarei, David. Prometi-te que não te deixaria nunca..
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