2003 – ANO DOS "BLOGUES" (XII)

11 Dezembro, 2003 at 6:03 pm 1 comentário

A 12 de Junho, começa o “Desejo Casar“, “blogue” colectivo formado por um alargado grupo que inclui jornalistas, arquitectos, designers, juristas, argumentistas, filósofos.

No dia seguinte, o editorial de José Manuel Fernandes no “Público” fala sobre O Fim da “Coluna” (ver texto completo em “entrada estendida”): «A “Coluna Infame” acabou. A blogosfera está mais pobre. E o país também – mesmo que a maioria nunca tenha ouvido falar nem da “Coluna”, nem da blogosfera.» E também: «A blogosfera é mais democrática, mais aberta, mais plural, mais interessante e mais rica do que os espaços de debate da maioria dos meios de comunicação tradicionais, mesmo os famosos fóruns de discussão radiofónicos (para não falar dos talk-shows televisivos). Na blogosfera reage-se à actualidade em cima da actualidade, e o comentário (ou “post”) colocado num blog gera quase de imediato uma cascata de reacções».

O texto de abertura da secção “Media” do “Público”, de 14 de Junho, lança o tema: “Warblogs” Interpelam “Medias” Convencionais, a propósito do papel que os “blogues” começavam a assumir na discussão pública da guerra do Iraque: “Nos Estados Unidos, muitos internautas manifestaram “reservas sobre a capacidade crítica dos correspondentes do seu país e procuraram fontes internacionais de notícias mais equilibradas, ao mesmo tempo que crescia a importância de fontes não convencionais, muito particularmente dos (war)blogs”, afirma José Luis Orihuela, professor de Comunicação na Universidade de Navarra”.

Entretanto, em crónica no DNA, Miguel Esteves Cardoso (que mantém o sítio denominado “Pastilhas“) escrevera: «Blogar é escrever num meio terrivelmente aberto – interactivo, instantâneo, espúrio – a partir de um momento terrivelmente particular – o eu, o ser, a alma», e, mais adiante, «A força do blogue está no facto de não haver mediações; do salto ser puro; da combustão ser total», finalizando assim: «Não espanta por isso que seja nos blogues que hoje se vê a nossa língua a saltar e a correr, a fazer das suas e das dela e das tuas e das minhas, envergonhando a prosa paralisada que hoje passa por escrita – e por português – nos nossos jornais. É belo. Belo de ver e belo de ler e belo para escrever».

A 16 de Junho, Francisco José Viegas anuncia o início da vida do Aviz para o dia seguinte, dando mais um impulso decisivo para a expansão e afirmação da blogosfera.

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“O Fim da “Coluna”José Manuel Fernandes

A “Coluna Infame” acabou. A blogosfera está mais pobre. E o país também – mesmo que a maioria nunca tenha ouvido falar nem da “Coluna”, nem da blogosfera.

Na vertigem delirante das notícias dos últimos dias – Boaventura Sousa Santos a anunciar que vivemos em “fascismo social”, Fátima Felgueiras a dizer-se a primeira presa política pós-25 de Abril, responsáveis políticos a sacudirem a água do capote de uma amnistia mal engendrada em 1999 – o fim da “Coluna Infame” parece um acontecimento menor. Mas não é.

Para os que não conhecem, a blogosfera é um dos mais recentes e interessantes fóruns de debate democrático. Preenchem-na páginas pessoais ou colectivas, criadas na Internet, onde se trocam ideias, informações e sugestões à velocidade própria da net, isto é, em tempo real (para os interessados, ver http://blogo.no.sapo.pt ). Na blogosfera portuguesa a “Coluna Infame” era uma referência fundadora, quer por ser um dos primeiros espaços de debate político desse universo virtual, quer por ser animada por intelectuais de direita. Estas duas qualidades são importantes.

Na verdade, a blogosfera é a mais vibrante das expressões modernas da Ágora ateniense, esse espaço público onde os cidadãos se encontravam para discutir os assuntos que a todos diziam respeito. A blogosfera é mais democrática, mais aberta, mais plural, mais interessante e mais rica do que os espaços de debate da maioria dos meios de comunicação tradicionais, mesmo os famosos fóruns de discussão radiofónicos (para não falar dos talk-shows televisivos). Na blogosfera reage-se à actualidade em cima da actualidade, e o comentário (ou “post”) colocado num blog gera quase de imediato uma cascata de reacções. No tempo da blogosfera é, por exemplo, possível denunciar uma mistificação feita em torno de declarações de Wolfowitz de forma tão rápida que a notícia errada não dura senão umas horas no site do jornal inglês “The Guardian”.

No caso português e da “Coluna Infame”, a sua colocação à direita corresponde à emergência de jovens intelectuais educados nos valores do liberalismo e que representam uma geração que pouco tem a ver com as referências clássicas dominantes, por exemplo, entre os jornalistas e a maioria dos intelectuais consagrados. Contra ela surgiram espaços como o “Blog de Esquerda”, sendo que o equilíbrio esquerda-direita neste universo é mais dinâmico e mais real do que na generalidade dos media tradicionais.

A forma como a “Coluna Infame” desaparece também é sintomática: morre porque os seus três animadores se desentenderam quando um deles ultrapassou os limites do cavalheirismo numa resposta a uma provocação do “Blog de Esquerda”. Reparem: cavalheirismo. A blogosfera exige abertura de espírito e poder de encaixe, suporta o desabafo mas privilegia o argumento. E permite que adversários políticos se afirmem amigos e se respeitem. Não era pois por acaso que, ontem, na blogosfera se lamentasse a perda de qualidade dos debates e até das mensagens enviadas para os blogs.

Ficamos por isso à espera de novidades do Pedro Mexia, do Pedro Lomba e do João Pereira Coutinho, os animadores da “Coluna”.”

“Público”, 13 de Junho 2003

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1º "POST" – PONTO E VÍRGULA – 08.05.2003 1986 – "CHALLENGER"

1 Comentário

  • 1. vmar  |  12 Dezembro, 2003 às 2:26 am

    Presente.


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