O LIVRO DAS ILUSÕES (V)
5 Dezembro, 2003 at 8:24 am 1 comentário
.Se uma árvore cai na floresta e ninguém a ouve cair, será que a queda dessa árvore produz um som? Por essa altura, Hector lera já uma imensidão de livros e conhecia todos os ardis e argumentos dos filósofos. Se alguém faz um filme e ninguém o vê, será que esse filme existe? Foi assim que ele justificou o seu regresso ao cinema. Faria filmes que nunca seriam mostrados ao público, faria filmes pelo simples prazer de fazer filmes. Era um acto de um niilismo absolutamente único, e, no entanto, Hector nunca fugiu ao rumo que traçou. Imagina que és bom em determinada coisa e que sabes que és bom, imagina que és tão bom nessa coisa que o mundo . se puder ver a tua obra . sentirá por ti uma admiração extrema. E imagina depois que não permites que o mundo veja a tua obra . que manténs essa obra secreta para todo o sempre. Eram necessários uma concentração e um rigor extremos para fazer o que Hector fez . e também um toque de loucura. Sim, julgo que Hector e Frieda são ambos um pouco loucos, mas a verdade é que conseguiram realizar algo de notável. Emily Dickinson escreveu na obscuridade, mas tentou publicar os seus poemas. Van Gogh tentou vender os seus quadros. Tanto quanto sei, Hector é o primeiro artista a fazer a sua obra com a intenção consciente, premeditada, de a destruir. Claro que há Kafka, que disse a Max Brod para queimar os seus manuscritos, mas, quando chegou o momento decisivo, Brod não conseguiu levar a cabo o que prometera. Mas Frieda fá-lo-á. Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Um dia depois de Hector morrer, Frieda levará os filmes para o jardim e queimá-los-á a todos . todas as cópias, todos os negativos, todos os fotogramas que ele jamais fez. Isso é certo. E tu e eu seremos as únicas testemunhas..
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Luis Ene | 5 Dezembro, 2003 às 5:07 pm
UM LIVRO A LER! Paul Auster é um dos meus escritores favoritos.