Archive for 9 Outubro, 2003
DIÁRIO – XII – MIGUEL TORGA (IV)
“Coimbra – 25 de Abril de 1974 – Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada…
Coimbra, 27 de Abril de 1974 – Ocupação das instalações da Pide. Enquanto, juntamente com outros veteranos da oposição ao fascismo, presenciava a fúria de alguns exaltados que reclamavam a chacina dos agentes, acossados lá dentro, e lhes destruíam as viaturas, ia pensando no facto curioso de as vinganças raras vezes serem exercidas pelas efectivas vítimas da repressão. Há nelas um pudor que as não deixa macular o sofrimento. São os outros, os que não sofreram, que se excedem, como se estivessem de má consciência e quisessem alardear um desespero que jamais sentiram.
Coimbra, 1 de Maio de 1974 – Colossal cortejo pelas ruas da cidade. Uma explosão gregária de alegria indutiva a desfilar diante das forças da repressão remetidas aos quartéis.
…
Segui o caudal humano, calado, a ouvir vivas e morras, travado por não sei que incerteza, sem poder vibrar com o entusiasmo que me rodeava, na recôndita e vã esperança de ser contagiado. Há horas que são de todos. Porque não havia aquela de ser também minha? Mas não. Dentro de mim ressoava apenas uma pergunta: em que oceano de bom senso iria desaguar aquele delírio? Que oculta e avisada abnegação estaria pronta para guiar no caminho da história a cegueira daquela confiança?
A velhice é isto: ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez.”
[369]
E AGORA? (II)
Algumas provas testemunhais de menores que contribuíram para a decisão da prisão preventiva de Paulo Pedroso são consideradas pelo Acórdão do Tribunal da Relação, como: .frágeis, irrelevantes e inverosímeis.!!!
Depois da mensagem “cifrada” da Provedora da Casa Pia, Catalina Pestana, (pré)-avisando para o que “aí virá” (mais personalidades “famosas” envolvidas?), é a credibilidade das investigações e das provas testemunhais que é assim (seriamente) colocada em causa.
Em que é que ficamos?
Estes factos “novos” não deixam de constituír uma fortíssima pressão para que a justiça aja com a máxima celeridade; não é sustentável continuar a prolongar por muito mais tempo esta situação de indefinição, em que se vai começar a duvidar de tudo…
[368]
“NE ME QUITTE PAS”
Jacques Brel, uma das maiores figuras da história cultural belga (país que homenageou em “Le plat pays”), mas, mais que isso, um nome incontornável da música francófona, o homem que se entregava por completo nas suas actuações ao vivo, que viveu depressa e de forma inquieta, deixou-nos há 25 anos, ainda antes de completar o seu meio centenário.
Ao longo de cerca de 20 anos de carreira, editou sucessivamente os seguintes álbuns, agora em edição completa em CD – memórias que o tempo não apaga: Grand Jacques (1954); Quand On N’a Que L’Amour (1957); Au Printemps (1958); La Valse à Mille Temps (1959) – incluindo Ne Me Quitte Pas; Marieke (1960); Enregistrement Public (1962); Le Bourgeois (1962); Les Bonbons (1963); Olympia 64 (1964); Ces Gens Là (1966); Brel 67 (1967); J’Arrive (1968); L’Homme de La Mancha (1968); Ne Me Quitte Pas (1972); Brel (1977).
O Terras do Nunca vem recordando nos últimos dias as suas mais belas letras, pelo que para lá direcciono os leitores. De qualquer forma, é impossível não recordar as palavras escritas em 1959:
“Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s’oublier
Qui s’enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le c.ur du bonheur
Ne me quitte pas
Moi je t’offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu’après ma mort
Pour couvrir ton corps
D’or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l’amour sera roi
Où l’amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
…”
[367]
1947 – DOUTRINA TRUMAN
“O presidente americano Harry Truman anuncia um plano de auxílio aos países ameaçados pelo comunismo. O mundo fica dividido em dois blocos de influência.”
[366]
1947 – PLANO MARSHALL
“Concebido pelo secretário de Estado americano George Marshall, constitui um programa de ajuda económica maciça a vários países europeus afectados pela II Guerra Mundial. O programa foi aplicado até 1952.”
[365]