Archive for 9 Julho, 2003
MIA COUTO
Porque é preciso continuar… É preciso recomeçar sempre… (Este era o texto que tinha preparado para ontem…).
Prosseguindo na divulgação dos melhores, uma referência especial para Mia Couto, uma personalidade cativante, com uma escrita muito própria; é também “uma delícia” ouvi-lo! Uma serenidade e lucidez extremas…
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista. É professor, biólogo, escritor.
Aqui destaco duas das suas principais obras, a não perder:
“Terra Sonâmbula” – Romance, tendo como envolvente de fundo a guerra em Moçambique, da qual traça um quadro de um realismo forte e brutal. Num cenário de pesadelo, cruzam-se personagens, por vezes com uma dimensão mítica, oscilando entre o desespero e uma esperança que recusam perder. Terra Sonâmbula é um romance admirável, tendo sido nomeado como um dos doze melhores livros africanos do século XX.
“Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra” – A história de um estudante universitário, regressado à sua ilha-natal para participar no funeral do avô. Enquanto aguarda a cerimónia, vai testemunhando estranhas visitações na forma de pessoas e de cartas que lhe chegam do outro lado do mundo, levando-o a redescobrir uma outra história para a sua própria vida e para a da sua terra. Um relato das extraordinárias peripécias que envolvem o funeral, retratando paralelamente o conflito vivido por uma elite culturalmente afastada da generalidade do povo, de característica predominantemente rural.
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"PORQUÊ?"
Quem já lidou mais de perto com estas situações – ainda mais quando elas surgem de forma completamente inesperada – compreenderá o que penso e escrevo: no imediato, a sensação que prevalece é a da negação; não é possível que seja verdade!
Entramos numa espécie de névoa, “flutuamos numa atmosfera paralela”, tudo parece irreal e distante; quase diria que é como se não tivéssemos tomado consciência da verdade e das suas implicações (“como se não tivesse a ver connosco …).
Só mais tarde, quando as coisas começam a “assentar”, passamos a outra fase – a interiorização da dura realidade dos factos – e começamos então a interrogar-nos sucessivamente: “Porquê?”.
E esta é uma fase prolongada, que nos acompanha ao longo do tempo, de forma recorrente; quando menos se espera – e sem necessidade de nenhum motivo particular para o despoletar – lá estamos nós a interrogar-nos novamente: “Porque é que aconteceu? Não é justo! Não podia ter acontecido!”…
Não tinha previsto que esta coluna servisse para expressar notas de índole pessoal como estas (ou outras) características.
Mas não podia deixar de prestar esta “homenagem” ao Carlos…
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