Archive for 17 Junho, 2008
Eleições Presidenciais EUA – 2008 (XXXIV)
Na pretérita semana, aqui publiquei um texto sobre as perspectivas de cada um dos candidatos às eleições presidenciais estado-unidenses, com base na antecipação de projecções de resultados – a partir das sondagens que têm vindo a ser realizadas – em particular nos considerados “Estados-chave” (Swing States).
Apoiando-me na actualização de sondagens apresentada por Pedro Magalhães no “Margens de Erro“, o cenário então esboçado passaria a traduzir-se numa previsão de 276 “Grandes Eleitores” para Barack Obama, face a apenas 262 de John McCain (sendo a anterior estimativa de vantagem para Obama – 268/245 -, com 25 votos por atribuir, associados a Estados então considerados indefinidos: Ohio e Nevada).
Para cálculo destes números, considerei as previsões de vantagem de Obama nos Estados de Pennsylvania (21), Ohio (20), Wisconsin (10), Iowa (7) e New Mexico (5), assim como as tendências favorecendo McCain na Florida (27), Michigan (17), Virginia (13), Missouri (11) – não obstante as três últimas apontarem efectivamente para “empate técnico” – e Nevada (5).
Em relação às estimativas de partida, Obama venceria no até agora indeciso Ohio (20), recuperando, por outro lado, o Estado de New Mexico (5) – cuja tendência anterior favorecia McCain; o candidato republicano recuperaria o Michigan (17), ao mesmo tempo que se afirmaria no até então indefinido Estado do Nevada (5) – traduzindo estas evoluções um saldo favorável a McCain de 9 “Grandes Eleitores” (acréscimo líquido de 17, face a um acréscimo líquido de apenas 8 para o candidato democrata).
Memória (II)
Chego aos campos e vastos palácios da memória onde estão tesoiros de inumeráveis imagens trazidas por percepções de toda a espécie. Aí está também escondido tudo o que pensamos, quer aumentando quer diminuindo ou até variando de qualquer modo os objectos que os sentidos atingiram. Enfim, jaz aí tudo o que se lhes entregou e depôs, se é que o esquecimento ainda o não absorveu e sepultou. *
Jacques LeGoff (na sua obra “História e Memória”) propõe algumas fases na “história da memória”:
1. Memória oral
2. Memória oral em que a memória escrita assume uma função específica
3. Fase medieval de equilíbrio entre as duas fontes de memória
4. Fase moderna, em que a memória escrita assume papel decisivo
5. Fase da memória em expansão.
Nas sociedades sem escrita, a memória oral consubstanciava-se na preservação da informação por especialistas, os chamados “homens-memória”, verdadeiros guardiões da história dos grupos ou comunidades, assumindo papel fundamental na transmissão do saber. A memória transmitia-se por via da aprendizagem, não sendo uma reprodução exacta “palavra por palavra”, mas antes uma evocação mais ou menos difusa.
Com o advento da escrita, a memória colectiva viria a sofrer uma verdadeira revolução, com o aparecimento de novas possibilidades de conservação da informação: primeiro, sob a forma de inscrição (de que constituem exemplos, entre outros, os obeliscos e estelas); mais tarde, por via de documentos escritos, possibilitando perenizar a informação, superando barreiras de tempo e espaço.
Grandes civilizações de eras antigas como as da Mesopotâmia, do Egipto, da China ou da América Pré-Colombina, serviram-se da memória escrita como marca de progresso. Já na época da Grécia antiga, os “mnemon” (“memórias-vivas”), que asseguravam a conservação da memória do passado relativamente a decisões judiciais, acabariam por vir a transformar-se, com a evolução da memória escrita, em arquivistas.
Na Idade Média, o conceito de memória evolui, passando a estar primordialmente associado à difusão da doutrina cristã, com a memória dos livros sagrados, dos Santos, e dos obituários, evocando os nomes de benfeitores. Por outro lado, a escrita, conjugando a memória e a alegoria personificante da divindade, torna-se o veículo privilegiado da relação do crente com Deus. Nesta fase, a memória escrita desenvolve-se ainda em paralelo, ou de forma complementar, com a memória oral. Os manuscritos serviam então, também, para ser aprendidos de cor…
Bibliografia consultada
– “Memória e sociedade contemporânea: Apontando tendências”, Ângela Maria Barreto, Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.12, n.2, p. 161-176, jul./dez., 2007
– “A Informação escrita: do manuscrito ao texto virtual”, Rita de C. R. de Queiroz
* Santo Agostinho, “Confissões” (tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina), Braga, Livraria Apostolado, 11ª edição, 1984
EURO 2008 – Grupo C – Classificação final
Grupo C J V E D GM GS P 1º Holanda3 3 - - 9 - 1 9 2º Itália
3 1 1 1 3 - 4 4 3º Roménia
3 - 2 1 1 - 3 2 4º França
3 - 1 2 1 - 6 1
EURO 2008 – Grupo C – 3ª jornada

0-2
Combinando uma dose de infelicidade – a lesão de Franck Ribéry aos 10 minutos – com algumas opções estratégicas duvidosas (a colocação de Eric Abidal, um defesa lateral, a central), a França, a quem o único resultado que lhe interessava para poder manter aspirações era a vitória, acabou por, na pior exibição na prova, ser justamente derrotada pelos Campeões do Mundo, numa “reedição” da Final do Mundial de 2006.
Eric Abidal já havia denotado sinais de intranquilidade (inadaptação?) quando, logo aos 24 minutos, se viu obrigado a recorrer à falta dentro da área, a qual seria sancionada com grande penalidade… e expulsão do reconvertido defesa central francês.
Com Pirlo a não dar hipóteses de defesa na conversão da grande penalidade, a Itália colocava-se em vantagem no marcador (que já antes fizera por merecer)… e numérica.
Nos minutos imediatos ficou a sensação que o jogo estava resolvido, com a Itália a desperdiçar mais algumas oportunidades para elevar o marcador. Contudo, a França conseguiria ainda, nomeadamente por via de lances de bola parada, assustar os italianos, chegando mesmo a exigir a excelente intervenção de Buffon.
Com o segundo golo – conjugado com as boas notícias que chegavam de Berna, do Holanda-Roménia – a Itália, obrigada a “puxar dos galões” de Campeão do Mundo, confirmava a recuperação na classificação do Grupo, alcançando o segundo lugar e assim garantindo lugar nos 1/4 Final, que disputará frente à Espanha… privada de Andrea Pirlo e de Gennaro Gattuso, que viram hoje o segundo cartão amarelo na prova.
Já a França, despede-se assim, sem honra nem glória, com o último lugar no Grupo, apenas 1 ponto e 1 solitário golo marcado (frente à Holanda) face a 6 (!) golos sofridos.
Estão já definidos três encontros dos 1/4 Final: Portugal – Alemanha e Croácia – Turquia… cujos vencedores se enfrentarão nas 1/2 Finais; e Espanha – Itália. A Holanda aguarda ainda para conhecer o seu adversário, o qual será definido amanhã: Suécia ou Rússia?
Grégory Coupet, François Clerc, William Gallas, Eric Abidal, Patrice Evra, Jérémy Toulalan, Claude Makelele, Sidney Govou (66m – Nicolas Anelka), Franck Ribéry (10m – Samir Nasri – 26m – Jean-Alain Boumsong), Karim Benzema e Thierry Henry
Gianluigi Buffon, Gianluca Zambrotta, Christian Panucci, Giorgio Chiellini, Fabio Grosso, Andrea Pirlo (55m – Massimo Ambrosini), Daniele De Rossi, Gennaro Gattuso (82m – Alberto Aquilani), Simone Perrotta (64m – Mauro Camoranesi), Luca Toni e Antonio Cassano
0-1 – Andrea Pirlo – 25m – grande penalidade
0-2 – Daniele De Rossi – 62m
“Melhor em campo” – Daniele De Rossi
Amarelos – Patrice Evra (18m), Sidney Govou (47m), Jean-Alain Boumsong (72m) e Thierry Henry (85m); Andrea Pirlo (44m), Giorgio Chiellini (45m) e Gennaro Gattuso (54m)
Cartão vermelho – Eric Abidal (24m)
Árbitro – Luboš Michĕl (Eslováquia)
Estádio Letzigrund – Zurich (19h45)
EURO 2008 – Grupo C – 3ª jornada

2-0
A Holanda, mesmo remodelando de forma significativa a equipa, encerrou a sua campanha na fase de grupos com mais um triunfo, igualando o pleno também alcançado pela Croácia: 3 vitórias em 3 jogos.
A Roménia, cuja aposta parecia passar pela obtenção do empate nos vários jogos que realizou, esperando que Itália e França se anulassem, vê-se assim, com alguma naturalidade, eliminada da prova.
Maarten Stekelenburg, Khalid Boulahrouz (58m – Mario Melchiot), Johnny Heitinga, Wilfred Bouma, Tim de Cler, Demy de Zeeuw, Orlando Engelaar, Ibrahim Afellay, Robin van Persie, Arjen Robben (61m – Dirk Kuyt) e Klaas Jan Huntelaar (83m – Jan Vennegoor of Hesselink)
Bogdan Lobonţ, Cosmin Contra, Gabriel Tamaş, Sorin Ghionea, Răzvan Raţ, Răzvan Cociş, Paul Codrea (72m – Nicolae Dică), Cristian Chivu, Bănel Nicoliţă (82m – Florentin Petre), Marius Niculae (59m – Daniel Niculae) e Adrian Mutu
1-0 – Klaas Jan Huntelaar – 54m
2-0 – Robin van Persie – 87m
“Melhor em campo” – Robin van Persie
Amarelos – Cristian Chivu (78m)
Árbitro – Massimo Busacca (Suíça)
Estádio Stade de Suisse – Bern (19h45)
Memória (I)
Porque é frágil a memória dos homens e para que, com o tempo, não caiam no esquecimento os feitos dos mortais, nasceu o remédio da escrita para que, por meio dele, os factos passados se conservem como presentes para o futuro. *
O que é a memória?
As definições de memória falam-nos da função ou capacidade de captar, gravar/reter, armazenar/arquivar, classificar e, num segundo tempo, evocar/recuperar informação.
Em termos gerais, e de forma subjectiva, uma faculdade cognitiva de recordação ou lembrança.
Dizem-nos também que não existe uma única memória genérica, mas sim várias dimensões da memória, decorrendo de diferentes fontes / estímulos, desde os associativos, aos emocionais, passando pelos conceptuais.
E, noutro prisma, (i) Memória de procedimentos, entendida como a capacidade de reter e processar informações não verbalizadas, de que será um dos exemplos mais cabais “aprender a andar de bicicleta”; e (ii) Memória declarativa, associada à capacidade de verbalizar determinado facto, compreendendo vertentes diversas:
A memória, assim considerada como base do conhecimento, necessita portanto ser trabalhada / estimulada, facultando também a partilha entre indivíduos com essas vivências comuns, permitindo dessa forma a transmissão de experiências e valores entre gerações.
* Arenga de 1260 (Viseu, Arquivo do Museu de Grão Vasco, PERG / 08)