REFERENDO EM FRANÇA
29 Maio, 2005 at 9:40 pm 1 comentário
O anunciado resultado do Referendo francês ao Tratado Constitucional Europeu tem, necessariamente, várias leituras, não podendo obviamente ser interpretado de forma absoluta como um “Não” à Europa.
Os franceses, exprimindo-se democraticamente, votaram em maioria (55 %) pelo “Não”; um “Não” a algumas políticas governamentais francesas; um “Não” a algumas políticas europeias; um “Não” a “este” Tratado Constitucional; um “Não” heterogéneo (desde a extrema-esquerda à extrema-direita); eventualmente um “Não”, ainda, e também, à falta de cabal esclarecimento sobre as suas implicações; concerteza um “Sim” a um novo debate sobre a melhor forma de construção da Europa.
No que respeita às consequências deste “Não” a nível europeu, é ainda cedo para antecipar o seu impacto sobre os referendos a realizar noutros países e, em termos mais gerais, sobre a futura Constituição Europeia e, no limite, sobre a própria União Europeia.
Por vezes, é necessário dar um passo ao lado (ou atrás), antes de dar dois passos em frente.
Já aqui o tinha escrito: sinto-me um europeísta convicto; o caminho já percorrido e as barreiras já quebradas ao longo de cerca de 50 anos são imensos; os europeus terão concerteza a capacidade, de uma forma serena e ponderada, de encontrar novos (e os melhores) caminhos para a Europa.
P.S. À medida que vão sendo conhecidos mais detalhes da votação (embora ainda com base em sondagens), podem tornar-se mais claras algumas das leituras e motivações do voto dos franceses; o voto “Não” concentra-se maioritariamente nos partidos de esquerda (projecção de 98 % “Não” nos votantes do Partido Comunista; 56 % “Não” nos votantes do Partido Socialista), com o “Sim” a ser mais vincado nos partidos de direita, nomeadamente da área governamental (com a “Frente Nacional”, logicamente em “contra-ciclo”, com 93 % de votos “Não”).
Na televisão francesa, o debate pós-eleitoral (e a procura de “justificação” para o resultado) centra-se agora no suposto cariz mais liberal, em detrimento da vertente social, do texto do Tratado Constitucional Europeu.
P.P.S. Continuando com as sondagens, as motivações para o voto “Não” hierarquizam-se (sem grande surpresa…) da seguinte forma:
– Situação económica e social actual em França – 52 %
– Tratado Constitucional Europeu “demasiado” liberal – 40 %
– Voto tendente a “pressionar” à renegociação do Tratado – 39 %
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1.
CMC | 30 Maio, 2005 às 10:42 am
Vamos lá ver o que acontecerá e ainda por cima não há acesso às cenas dos próximos episódios.
Quarta-feira, mais um “não” rebentará na União, com a repovação dos neerlandeses!