Archive for Novembro, 2004

"A NOITE DO ORÁCULO" (III)

O quarto do taxista recém reformado, com as suas várias dezenas de livros, entre os quais oito ou dez dicionários, e uma enciclopédia em vinte volumes não deixa sequer antever o arquivo privado, o “museu” que – mais de três metros abaixo da superfície – se esconde sob a pomposa designação de “Departamento de Preservação Histórica”, num amplo armazém de quinze por nove metros, com vinte e quatro filas duplas de enormes estantes de metal.

E a surpresa da descoberta de uma espécie de “biblioteca secreta”, composta por milhares de “volumes”, caracterizados por uma extrema peculariedade, o facto de não se tratar propriamente de livros… e de consubstanciar uma incrível colecção – construída ao longo de cerca de quatro décadas – com uma curiosa organização geográfica e cronológica.

Uma louca colecção que preserva o mundo, ou pelo menos parte dele: “os nomes dos vivos e dos mortos”…

Infelizmente, a narrativa paralela que Sidney Orr vai desenvolvendo no bloco de notas português acaba por ser bloqueada num “beco sem saída”, quando Nick – fascinado por um volume da estranha colecção, datado de 1938, e com origem na Polónia – esquecendo-se das chaves, e fechando a porta atrás de si, inadvertidamente para sempre se encerra num quarto, construído para funcionar como abrigo anti-nuclear!…

Há 1 ano no Memória Virtual – Portugal na Fase Final do Europeu Esperanças

P. S. João Pereira Coutinho oferece-nos na sua página um “best of” do primeiro ano. Vale bem a pena passar por lá!

[1854]

18 Novembro, 2004 at 8:12 am

"OS LUSÍADAS" (X)

A epopeia finaliza com o Canto X, com o banquete no palácio de Tétis, na Ilha dos Amores, em que é apresentada a Vasco da Gama, no cume de um monte, a “máquina do mundo”: a descrição do universo e da Terra, com indicação dos lugares até onde chegará o império português. Os portugueses partem de regresso a Portugal. Após o lamento do poeta por se sentir incompreendido, o poema conclui-se com a invocação final a D. Sebastião, incentivando-o a prosseguir o trilho da glória.

“Fazei, Senhor, que nunca os admirados
Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses,
Possam dizer que são pera mandados,
Mais que pera mandar, os Portugueses.
Tomai conselho só d’ exprimentados,
Que viram largos anos, largos meses,
Que, posto que em cientes muito cabe,
Mais em particular o experto sabe.

De Formião, filósofo elegante,
Vereis como Anibal escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.

Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.

Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pres[s]aga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina,

Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.”

[1853]

17 Novembro, 2004 at 6:13 pm

BARNABÉ / OUTRO, EU / I, CLAUDIUS

Três notas mais ou menos avulsas para destacar três situações a merecer especial referência:

– o “primeiro milhão” de visitantes do Barnabé, um “marco na história da blogosfera”, o justo prémio pelo excelente trabalho desenvolvido;

– o regresso de Carlos Vaz Marques ao Outro, eu, pelo qual, estou certo, muitos de nós ansiávamos e agora saudamos.

– a nota que o Mário Pires nos deixa sobre a edição em DVD de um pack da série “I, Claudius“, uma das melhores séries que já passou pela nossa televisão, absolutamente a não perder!

[1852]

17 Novembro, 2004 at 12:36 pm

"A NOITE DO ORÁCULO" (II)

A trama inicia-se com a descoberta pelo protagonista, o escritor Sidney Orr, de uma papelaria de Brooklin, onde encontra um misterioso bloco de notas azul de fabrico português.

Este caderno constitui o ponto de partida para a escrita de uma história paralela («Tudo o que precisas é de encontrar uma história adequada a esse ponto de partida»), que nos conduz a Nick Bowen, personificando a parábola do homem que – num momento de corte, proporcionado pela extrema proximidade da morte – abandona a vida que leva e desaparece, em busca de uma “nova vida”, partindo do zero.

É a exploração de uma ideia associada à “efemeridade” da vida convencional, quando Nick, saído de casa por cinco minutos para colocar umas cartas no marco do correio, se dá subitamente conta que, ao escapar ileso de um acidente, a sua “velha vida acabou”, sendo-lhe conferida uma “nova vida”; apanha um táxi para o aeroporto e compra um bilhete só de ida para o primeiro voo, sem se preocupar com o destino.

Que o transporta até Kansas City, onde é o último cliente da carreira profissional de 34 anos de um curioso taxista, com um estranho hobby a que dedicou grande parte da sua vida, o “Departamento de Preservação Histórica”, a quem Nick, repentinamente descobrindo que a mulher – após tomar consciência do seu misterioso desaparecimento – lhe cancelara os cartões bancários, tem de recorrer como “empregador”.

Há 1 ano no Memória Virtual – Novos membros da União Europeia – Hungria (I)

[1851]

17 Novembro, 2004 at 8:10 am

"OS LUSÍADAS" (IX)

No Canto IX, os Catuais procuram retardar o regresso da armada lusa. Vénus decide recompensar os portugueses, ordenando a Cupido e à Fama que preparem a Ilha dos Amores, em que Tétis, a deusa dos oceanos os acolhe, sendo os portugueses recebidos pelas ninfas apaixonadas. Tétis fala a Vasco da Gama sobre as futuras glórias dos portugueses.

“Tiveram longamente na cidade,
Sem vender-se, a fazenda os dous feitores,
Que os Infiéis, por manha e falsidade,
Fazem que não lha comprem mercadores;
Que todo seu propósito e vontade
Era deter ali os descobridores
Da Índia tanto tempo que viessem
De Meca as naus, que as suas desfizessem.

Lá no seio Eritreu, onde fundada
Arsínoe foi do Egípcio Ptolomeu
(Do nome da irmã sua assi chamada,
Que despois em Suez se converteu),
Não longe o porto jaz da nomeada
Cidade Meca, que se engrandeceu
Com a superstição falsa e profana
Da religiosa água Maumetana.

Gidá se chama o porto aonde o trato
De todo o Roxo Mar mais florecia,
De que tinha proveito grande e grato
O Soldão que esse Reino possuía.
Daqui aos Malabares, por contrato
Dos Infiéis, fermosa companhia
De grandes naus, pelo Índico Oceano,
Especiaria vem buscar cada ano.

Por estas naus os Mouros esperavam,
Que, como fossem grandes e possantes,
Aquelas que o comércio lhe tomavam,
Com flamas abrasassem crepitantes.
Neste socorro tanto confiavam
Que já não querem mais dos navegantes
Senão que tanto tempo ali tardassem
Que da famosa Meca as naus chegassem.”

[1850]

16 Novembro, 2004 at 6:12 pm

"A NOITE DO ORÁCULO" (I)

Em “A Noite do Oráculo”, Paul Auster prossegue a sua incessante busca do “eu”, por via do “outro”.

Com uma abordagem recorrente, Auster projecta-se na personagem principal do livro (um escritor) e vai-nos contando histórias dentro de histórias, dentro de histórias!

Introduzindo uma “novidade” (pelo menos com a dimensão que assume nesta obra), as extensas notas de rodapé, completando informação sobre circunstâncias passadas, dando-nos um enquadramento como que num flashback.

O “misticismo” associado ao estranho caderno azul português transporta-nos ao longo de uma história intrigante, complementada pela história do livro que o protagonista tenta escrever, até chegar a um “beco sem saída”.

A narrativa é densa, cruzando diferentes planos, mas consegue, não obstante, “agarrar” o leitor da primeira à última página.

P. S. No dia do primeiro aniversário do “Estádio do Dragão”, os meus sinceros parabéns aos portistas, pelo magnífico estádio.

Há 1 ano no Memória Virtual – Estádio do “Dragão”

[1849]

16 Novembro, 2004 at 8:54 am

"OS LUSÍADAS" (VIII)

No Canto VIII, Paulo da Gama faz uma exposição sobre os símbolos das bandeiras, falando sobre as grandes figuras da história de Portugal (Ulisses, Viriato, Sertório, D. Henrique, Afonso Henriques, Egas Moniz, entre outros). Baco procura instigar um sacerdote muçulmano contra os portugueses. Vasco da Gama é retido, tendo de ser resgatado por troca com mercadorias, lamentando o poeta a importância atribuída ao vil metal, origem de corrupção e traição.

“Na primeira figura se detinha
O Catual que vira estar pintada,
Que por divisa um ramo na mão tinha,
A barba branca, longa e penteada.
Quem era e por que causa lhe convinha
A divisa que tem na mão tomada?
Paulo responde, cuja voz discreta
O Mauritano sábio lhe interpreta:

– «Estas figuras todas que aparecem,
Bravos em vista e feros nos aspeitos,
Mais bravos e mais feros se conhecem,
Pela fama, nas obras e nos feitos.
Antigos são, mas inda resplandecem
Co nome, entre os engenhos mais perfeitos.
Este que vês, é Luso, donde a Fama
O nosso Reino «Lusitânia» chama.

«Foi filho e companheiro do Tebano
Que tão diversas partes conquistou;
Parece vindo ter ao ninho Hispano
Seguindo as armas, que contino usou.
Do Douro, Guadiana o campo ufano,
Já dito Elísio, tanto o contentou
Que ali quis dar aos já cansados ossos
Eterna sepultura, e nome aos nossos.

«O ramo que lhe vês, pera divisa,
O verde tirso foi, de Baco usado;
O qual à nossa idade amostra e avisa
Que foi seu companheiro e filho amado.
Vês outro, que do Tejo a terra pisa,
Despois de ter tão longo mar arado,
Onde muros perpétuos edifica,
E templo a Palas, que em memória fica?”

[1848]

15 Novembro, 2004 at 6:24 pm

E PORTUGAL?

A partir da Galiza, aqui fica o comentário do Martin Pawley sobre a evolução da situação de prevenção de catástrofes como a do Prestige:

“Dous anos despois seguimos, mais ou menos, igual que daquela: sen medios técnicos e materiais e sen sequera dispor dun protocolo de actuación ben definido que indique as medidas a desenvolver para afrontar catástrofes coma esta.

Nunca Mais.”

E em Portugal, o que foi feito nestes dois anos?

P. S. O Luís Tito dá-nos aqui uma resposta.

Há 1 ano no Memória Virtual – T de Lempicka – “Fatias de Cá”

[1847]

15 Novembro, 2004 at 8:12 am

PRESTIGE – NUNCA MAIS!

“No dia 13 de Novembro de 2002, o petroleiro “Prestige”, com casco simples e 26 anos de idade, de origem liberiana, mas administrado por uma empresa grega, cumpria a rota Letónia-Gibraltar quando enfrentou uma tempestade a 45 quilómetros da região de Finisterra, no noroeste da Espanha. Após sofrer várias avarias, a tripulação pediu ajuda da Guarda Costeira espanhola, que usou helicópteros para resgatar os marinheiros. No mesmo dia, as primeiras manchas negras foram avistadas no mar, tendo atingido as praias no dia 17.

Entretanto, o governo espanhol decidiu rebocar o navio para o sul, procurando águas mais calmas que permitissem a trasfega da carga com segurança. Todavia, durante a operação, o petroleiro não resistiu, tendo-se, a 19 de Novembro, partido em dois, afundando-se no Oceano Atlântico, onde permanece, a 3 500 metros de profundidade, a cerca de 270 quilómetros da costa da Galiza.

Ainda antes do naufrágio, pelo menos 10 000 toneladas (até 20 000 toneladas, segundo os ambientalistas) foram derramadas no mar. Dos 1 120 quilómetros da costa da Galiza, cuja economia se baseia na pesca, no marisco e no turismo, foram atingidos pela maré negra 913 quilómetros. Foram mobilizados mais de 20 000 colaboradores para ajudar na limpeza das quase 200 praias atingidas.

No total, foram recolhidas do mar e de terra firme mais de 50 mil toneladas de fuel, tendo sido recolhidas mais de 150 000 toneladas de resíduos (mais de 100 000 toneladas em terra, em Espanha e França); remanescerão no casco do Prestige cerca de 13 800 toneladas de fuel . não obstante, com base nos números inicialmente divulgados, o petroleiro transportaria uma carga de 77 000 toneladas de fuel.

Todo o ecossistema local foi afectado, dado que o material forma uma capa que impede a entrada da luz na água. Desde o plânctum até aos mamíferos, todos os seres sofreram com o acidente, sendo as vítimas mais evidentes as aves, peixes e crustáceos.”

Este foi o texto que aqui escrevi há um ano. Hoje republicado, porque não podemos deixar cair no esquecimento situações deste tipo. Para que NUNCA MAIS se repitam!

Convido-os a ler os textos que, a este propósito, editei nos dias 13 e 14 de Novembro do ano passado.

Há 1 ano no Memória Virtual – Prestige (I)

[1846]

13 Novembro, 2004 at 9:06 am 1 comentário

"OS LUSÍADAS" (VII)

O Canto VII começa por elogiar a expansão portuguesa como uma cruzada, espalhando a fé cristã, fazendo de seguida uma descrição da Índia. Dá-se o desembarque, seguido de encontro com o Samorim. O regedor Catual visita a armada portuguesa, pedindo a Paulo de Gama que explique o significado das figuras nas bandeiras.

“Já se viam chegados junto à terra
Que desejada já de tantos fora,
Que entre as correntes índicas se encerra
E o Ganges, que no Céu terreno mora.
Ora sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora:
Já sois chegados, já tendes diante
A terra de riquezas abundante!

A vós, ó geração de Luso, digo,
Que tão pequena parte sois no mundo,
Não digo inda no mundo, mas no amigo
Curral de Quem governa o Céu rotundo;
Vós, a quem não sòmente algum perigo
Estorva conquistar o povo imundo,
Mas nem cobiça ou pouca obediência
Da Madre que nos Céus está em essência;

Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,
Que o fraco poder vosso não pesais;
Vós, que, à custa de vossas várias mortes,
A lei da vida eterna dilatais:
Assi do Céu deitadas são as sortes
Que vós, por muito poucos que sejais,
Muito façais na santa Cristandade.
Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildade!

Vede’los Alemães, soberbo gado,
Que por tão largos campos se apacenta;
Do sucessor de Pedro rebelado,
Novo pastor e nova seita inventa;
Vede’lo em feias guerras ocupado,
Que inda co cego error se não contenta,
Não contra o superbíssimo Otomano,
Mas por sair do jugo soberano.”

[1845]

12 Novembro, 2004 at 6:01 pm

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