CAMÕES – LÍRICA
A primeira edição da Lírica apenas seria publicada em 1595 (“Rimas”, compilação a partir de cancioneiros manuscritos).
A obra lírica de Camões é constituída por: Redondilhas; Sonetos (composições poéticas de 14 versos, distribuídas em dois quartetos e dois tercetos); Éclogas (poesia em forma de diálogo, com tema pastoril); Odes; Elegias (composições que expressam tristeza); Canções (composições curtas); Oitavas (poemas com estrofes de 8 versos); Sextinas (poemas com estrofes de 6 versos).
Descalça vai para a fonte
“Descalça vai para a fonte
Lianor, pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
Os textos nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamalote;
Trás a vasquinha de cote,
Mais Branco que a neve pura;
Vai fermosa, e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro o entrançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura:
Vai fermosa, e não segura.”
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferente em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto
E, afora esta mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de amor espanto,
Que não se muda já como soía.”
[1859]



