Memória (VIII)

25 Junho, 2008 at 8:18 am 1 comentário

[…] afin que les travaux des siècles passés n’aient pas été inutiles pour les siècles qui succèderont; que nos neveux devenant plus instruits, deviennent en même temps plus vertueux et plus heureux; et que nous ne mourions pas sans avoir bien mérité du genre humain *

Conhecimento enciclopédico – L’Encyclopédie

Etimologicamente a palavra Enciclopédia significa encadeamento de conhecimentos – os quais têm por base a memória –, procurando concretizar a quimera de reunir e concentrar num único documento todo a sabedoria (dispersa) da humanidade, em múltiplas vertentes da cultura, artes e ciência, com o objectivo de a transmitir « aux hommes qui viendront après nous», às gerações vindouras.

No final do século XVIII, o movimento do Iluminismo, advogando uma nova concepção de sociedade, baseada na democracia e na liberdade de pensar e de questionar, com forte apetência pelo saber, visando favorecer a difusão dessa concepção, procurou levar o conhecimento até junto de todos, numa época que constituiu a “Idade de ouro” dos Dicionários.

Em 1751, surgiam os dois primeiros tomos de L’Encyclopédie ou “Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers”, o maior empreendimento editorial, filosófico e científico até à época, quer pelo seu volume, quer pelos recursos empregues. As suas origens remontam a 1745, decorrendo da iniciativa de tradução para francês do Dicionário Universal inglês (“Cyclopaedia” ou “Universal dictionary of arts and sciences”, de Ephraim Chambers, publicado em Londres a partir de 1728, objecto de sucessivas reedições), trabalho encarregue, em 1747, a Denis Diderot (Academia das Ciências e Belas Artes) e a Jean le Rond d’Alembert (Academia Real das Ciências).

A obra, prevendo compreender inicialmente 10 volumes, atingiria, no seu termo, um total de 28 volumes – 17 de texto (com mais de 70 000 artigos) e 11 de imagens (quase 3 000 ilustrações) – ao longo de mais de 25 anos de trabalho, constituindo-se como uma recolha crítica dos saberes, da sua elaboração e da sua transmissão, e, sobretudo crítica dos dogmas, vindo consequentemente a ter fortes repercussões sociais, que levariam inclusivamente à sua vigilância, censura e, mesmo, à sua interdição em 1752. Os 10 últimos volumes de texto apenas seriam publicados em 1765, enquanto que os volumes de imagens seriam finalizados em 1772.

Como marcas distintivas em relação aos anteriores Dicionários Universais, destacavam-se:

  • o facto de se tratar de um projecto colectivo (elaborada por uma “sociedade de gente de letras”), envolvendo mais de 150 colaboradores, recorrendo a especialistas em diversas matérias (e não apenas a compilações do passado): Diderot assegurava a parte de história da filosofia; d’Alembert ocupou-se da componente da Matemática e Física, Buffon das Ciências da natureza, Daubenton da História Natural, Barthez, Bordeau e Tronchin da Medicina, Quesnay e Turgor da Economia, Jean-Jacques Rousseau da Música e da Teoria Política, para além de outros nomes famosos como os de Montesquieu e Voltaire
  • beneficiava já de um sistema de reencaminhamento entre artigos, antecipando a interactividade (hoje potenciada com o uso do hipertexto), organizados em três grandes categorias ou ramos do conhecimento – História/Memória, Filosofia/Razão e Poesia/Imaginação – permitindo uma legibilidade transversal
  • integrava também as “artes mecânicas” no círculo do conhecimento
  • compreendia 11 volumes de imagens, entendidos como uma forma de enriquecimento dos conteúdos textuais.

O projecto ARTFL da Universidade de Chicago desenvolveu na Internet uma versão da primeira edição de L’Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers, de Diderot e d’Alembert.

* Denis Diderot, “L’Encyclopédie”

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1 Comentário Add your own

  • 1. Memória Virtual | Memória (IX)  |  13 Janeiro, 2009 às 11:06 pm

    […] origens de “L’Encyclopédie” até ao surgimento da Wikipedia – «a enciclopédia livre que todos podem editar» – decorreram […]

    Responder

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