Archive for 3 Fevereiro, 2005
O DEBATE
Num debate que – sejamos honestos – uma parte significativa dos portugueses não dispõe da preparação necessária para descodificar, não ficaram cabalmente esclarecidas muitas medidas concretas de governação, não tendo sido avançada qualquer novidade.
Em termos eleitorais, o fundamental neste debate era a de transmitir uma imagem de confiança aos e para os portugueses.
José Sócrates, sempre mais rigoroso e sólido, começou, não obstante, com uma imagem muita tensa (demasiado hirto, com um rosto fechado).
A questão de abertura também não ajudou a distender o ambiente: “Porque é que a campanha se tem centrado nos rumores sobre a vida privada?”.
Sócrates, com “a lição bem estudada”, iniciou o debate num estilo coloquial, transferindo a responsabilidade da campanha para o oponente, procurando colocar a tónica na mudança (em oposição à continuidade das políticas do governo), com um discurso apelando ao abandono do pessimismo.
Pedro Santana Lopes parece, logo de entrada, mais à vontade em termos de relação com as câmeras, referindo que a sua vida privada sempre foi amplamente escrutinada.
Sócrates passa então ao ataque, afirmando que Santana procurou fazer jogar contra si os boatos: “É uma página negra do PSD!”. Santana insiste, de forma repetitiva, que a sua vida privada é falada há 20 anos e que sempre lidou bem com isso.
Sócrates replica forte: “O que o Dr. Santana Lopes disse foi de mau gosto, ao referir boatos mentirosos”; fala mesmo em “campanha negra, de ataque pessoal, cobarde, dissimulado sob a “capa” da JSD; “esta campanha é uma campanha negativa” e “é uma campanha indigna”.
No termo dos primeiros 20 minutos, nada de efectivamente relevante havia sido debatido; o debate, acompanhando a campanha, estava também a ser um “debate pela negativa”.
Passando às questões económicas, Sócrates começa por referir que a baixa do IRS foi uma irresponsabilidade; mas, que não se devem aumentar os impostos; o caminho passa pelo crescimento da economia, pela confiança que induza o investimento. Aponta que é necessário ir mais além na lei do sigilo bancário.
Santana Lopes também refere não pretender aumentar os impostos e deixa uma “promessa” de que talvez seja possível reduzi-los próximo do final da legislatura.
Sócrates coloca a ênfase no combate à pobreza, com prioridade para a pobreza dos idosos. Santana defende-se, dizendo que o caminho para a convergência das pensões com o salário mínimo é uma política que já está em curso.
Sócrates diz que a Função Pública não pode continuar sem aumentos. Para controlar o peso da Administração Fiscal, por cada duas pessoas que se reformarem, apenas deverá ser admitido um novo funcionário público.
Santana Lopes refere que é necessário aumentar a produtividade; apenas pela via do aumento do PIB será possível reduzir o peso do custo da Administração Pública; afirma que será também possível economizar nos custos, por exemplo, através de outsourcing. “É necessário formar e requalificar os trabalhadores”.
Passando à questão das reformas, Santana Lopes diz garantir um princípio elementar: “não tocar nos direitos adquiridos”; sem esquecer que é necessário garantir a sustentabilidade da Segurança Social. Mas concede que a idade de reforma terá de ser elevada dos 65 para os 68 anos.
Sócrates não nega o problema da manutenção da sustentabilidade da Segurança Social, mas diz que é necessário actualizar os estudos que foram feitos. Não podem ser estimuladas as reformas antecipadas; é necessário integrar os idosos na vida activa, prolongando a sua carreira profissional.
De seguida, vê-se obrigado a esclarecer que criar 150 000 empregos não é uma promessa mas um objectivo político, que é possível e que está ao seu alcance. “O emprego tem de regressar ao topo das prioridades políticas do governo”.
Perante a réplica de Santana Lopes, de que isso não seria então mérito do governo, mas sim do sector privado, Sócrates reafirma que o Estado tem de dar uma contribuição, através de políticas que fomentem o crescimento económico e a qualificação profissional dos portugueses. A aposta terá de passar pelo incentivo aos estágios profissionalizados.
As questões finais do debate, para cada um dos candidatos, revelam um enviesamento (“O que será, para o PS, considerado uma derrota eleitoral?” – “ter menos votos que o conjunto do PSD e CDS” – para Sócrates (que reafirma o objectivo da maioria absoluta); “Qual o limiar mínimo de votação para que se possa manter na política – para Santana Lopes), indiciador do que acaba por transparecer também do debate: que Sócrates fala como governante, enquanto que Santana Lopes se procurou essencialmente defender.
Sócrates acabou por revelar-se mais agressivo, insistindo em três palavras-chave: Mudança / Confiança / Estabilidade, dirigindo-se ao tradicional eleitorado PSD, mas também à esquerda (falando do problema do desemprego), aos reformados (ocupando o “nicho” que o CDS tem procurado “abraçar”) e aos jovens; sem contudo ser capaz de escapar à imagem de que tinha um discurso estudado, sem grande imaginação; na intervenção final, procurou reafirmar as suas grandes linhas de orientação, reforçando a ideia da mudança face à política de incompetência do governo.
Santana Lopes concluiria o debate, defendendo que as políticas que o seu governo iniciara são as boas políticas, necessitando de prosseguir essa linha de rumo, com mais tempo. Contra-ataca com a referência ao regresso ao “Guterrismo”, sem Guterres.
Passada a fase inicial de tensão, o debate distendeu-se, passando-se a uma fase de apresentação dos programas de governo, por vezes em linguagem demasiada hermética ou cifrada, não contribuindo o modelo de debate para o esclarecimento objectivo das questões.
O modelo de debate, permitindo ganhar em clareza – ao reduzir o “ruído” das vozes sobrepostas – tem o contra de retirar vivacidade, não havendo “confronto directo” de posições; as respostas “contra-relógio” provocam sempre um condicionamento, retirando espontaneidade e não permitindo o contraditório mesmo por parte dos “entrevistadores”.
P. S. Pacheco Pereira procedeu, no Abrupto, a um acompanhamento “em tempo real” do debate, a reler.
P. P. S. O texto integral (transcrição do debate) pode ser visto aqui.
[2036]
ADRIANO CERQUEIRA
No limite, é também um pouco da nossa “existência” que parte, junto com Adriano Cerqueira, uma figura que nos acompanhou (em 35 anos anos de carreira televisiva), no nosso crescimento, desde a infância.
Para além de tudo o que o Adriano Sequeira realizou ao longo da vida (lembro também a sua forte ligação ao mundo automóvel e ao Benfica), a memória que neste momento recordo é a do início das transmissões televisivas de Fórmula 1 em Portugal (era eu “miúdo, de calções”) e dos seus comentários que nos faziam vibrar e sonhar; esta é uma memória do Adriano que permanecerá bem viva.
[2035]
ALMADA NEGREIROS (I)
José Sobral de Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe em 7 de Abril de 1893, filho do administrador do concelho de S. Tomé.
Estudou no Colégio dos Jesuítas de Campolide e, posteriormente (em 1910), no Liceu de Coimbra, tendo, a partir de 1811, frequentado a Escola Internacional de Lisboa.
Em 1913, apresentou a sua primeira exposição individual, mostrando cerca de 90 desenhos. Nesta mesma época, conheceu Fernando Pessoa.
Colaborava já então como ilustrador de diversas publicações; em 1914, seria director artístico do semanário monárquico “Papagaio Real”.
Em 1915, escreveu a novela “A Engomadeira”, que publicaria em 1917, numa aproximação ao surrealismo. Colabora também na Revista “Orpheu”, realizando ainda, no mesmo ano, o bailado “O Sonho da Rosa”. Também em 1915, escreveria, a propósito da peça de Júlio Dantas (“Soror Mariana”) o “Manifesto Anti-Dantas”, uma crítica dirigida contra o escritor então dominante na literatura “conservadora” em Portugal, em relação ao qual Almada aplica a sua violenta ironia.
De seguida, publicaria o Manifesto da exposição de Amadeo de Souza Cardoso, denominado “Primeira Descoberta de Portugal na Europa no Século XX”, assim como a novela “K4 O Quadrado Azul”.
Em 1919, com o termo da I Guerra Mundial, partiu para Paris, onde publicou, em 1922, “Histoire du Portugal par coeur”.
[2034]
TIAGO MONTEIRO NA F1
Depois de Mário “Nicha” Cabral (no início dos anos 60), Pedro Matos Chaves (1991) e Pedro Lamy (1993-1996), Portugal volta a ter um piloto no “grande circo” da Fórmula 1!
Tiago Monteiro – considerado um dos melhores pilotos da actualidade, com uma carreira que já passou pelo GT (campeão em França), Fórmula 3 (campeão em Inglaterra), Fórmula 3000, Indy Car e World Series by Nissan (vice-campeão), e após ter sido piloto de testes da Minardi na época passada – competirá na próxima temporada (a iniciar a 6 de Março, com o Grande Prémio da Austrália), ao serviço da escuderia Midland-Jordan.
[2033]
ELEIÇÕES ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – 1991
A 6 de Outubro de 1991 (precisamente 6 anos depois da primeira vitória de Cavaco Silva), os portugueses revalidavam a sua confiança no líder do governo, numa previsível linha de continuidade, ao mesmo tempo que o PS continuava a sua lenta recuperação, à custa da queda sistemática (e agora mais acentuada) do PCP.
A composição da Assembleia da República fora reduzida de 250 para 230 deputados, o que justifica que o PPD/PSD, reforçando a sua maioria, novamente (e, mais uma vez, com relativa surpresa) acima dos 50 % (aumentando mesmo de 50,2 % para 50,6 % a sua votação), baixasse ligeiramente o número de eleitos, de 148 para 135, ainda assim com uma muito confortável maioria absoluta parlamentar (de uma superioridade de 46 deputados sobre o conjunto total da oposição, continuava a dispor de uma vantagem de 40 eleitos).
Ficava, mais uma vez, bem evidente, o valor acrescentado que a figura de Cavaco Silva proporcionava ao seu partido (estimado em cerca de 15 %!), em eleições cada vez mais personalizadas e, definitivamente, convertidas na escolha de um Primeiro-Ministro, como ficara claramente patenteado na campanha eleitoral, praticamente centrada em exclusivo na pessoa de Cavaco.
O PS, agora liderado por Jorge Sampaio, subindo de 22 % para uns 29 %, já mais condizentes com as suas votações tradicionais, passava de 60 para 72 deputados… mantendo contudo uma distância demasiado significativa para o seu principal oponente, não obstante a tendência cada vez mais definida de bipartidarismo da vida política nacional.
A CDU – PCP/PEV, agora dirigida por Carlos Carvalhas, num contexto muito difícil, afectado pelo colapso comunista a nível internacional, registava a sua mais significativa quebra de sempre, numa “continuada agonia” do seu eleitorado, pela primeira vez abaixo dos 10 % (apenas 8,8 % dos votos), começando a aproximar-se do estatuto de “pequeno partido”, conservando apenas 17 dos 31 deputados de que dispunha.
O CDS, não obstante a liderança de Freitas do Amaral, mantinha praticamente inalterada a sua votação de quatro anos antes (4,4 %), conquistando mais um lugar na Assembleia da República, formando um grupo parlamentar de 5 deputados.
O PRD, com uma votação residual (0,6 %), deixava de ter representação parlamentar.
No meio do “furacão” Cavaco, havia ainda espaço para a afirmação de mais uma peculiaridade da democracia portuguesa: o recém-formado PSN – Partido da Solidariedade Nacional, assumindo-se como o “partido dos reformados”, não obstante a sua ideologia vaga ou mesmo indefinida (tendo por lema a enigmática expressão de partido “pós-moderno”), conseguiria fazer eleger o seu líder, Manuel Sérgio, conquistando uma votação nacional de 1,7 %.
Ainda sem qualquer eleito (Francisco Louçã ficou a escassas centenas de votos da eleição em Lisboa), o PSR (com um total nacional de 1,1 %) começava a despontar na cena política.
[2032]