Archive for 13 Outubro, 2012
O “caso Armstrong” e José Azevedo
Desde 2003, ano em que iniciei a publicação deste blogue, por várias vezes aqui tive a oportunidade de enaltecer as grandes proezas obtidas por Lance Armstrong, e, em particular, de vibrar intensa e orgulhosamente com os feitos do português José Azevedo:
- 05.12.2003 – José Azevedo, o ciclista português com melhor palmarés depois do mítico Joaquim Agostinho (5º no “Giro de Itália” e 6º no “Tour de France”), acaba de ser contratado pela equipa norte-americana “US Postal”, que tem por “chefe-de-fila” Lance Armstrong, o penta-vencedor da maior prova mundial de ciclismo (“Tour”). Esta contratação insere-se no âmbito de uma estratégia da equipa de proporcionar a Armstrong a 6ª vitória consecutiva na prova, o que constituiria um “record” inédito, devendo Azevedo assumir o principal papel no apoio ao norte-americano, sendo esta selecção uma prova de confiança nas capacidades do português e uma inegável honra desportiva.
- 03.07.2004 – Lance Armstrong tem perante si um (último?) grande desafio: o de, vencendo pela sexta vez consecutiva, se tornar no maior campeão de sempre.
- 19.07.2004 – Porque, se Lance Armstrong – obviamente com grande mérito – se prepara para definitivamente entrar na “lenda do TOUR”, aproximando-se, dia a dia, de uma inédita 6ª vitória consecutiva, há que atribuir uma parcela dessa vitória à brilhante prestação do português. Quem teve a oportunidade de acompanhar a “épica” etapa de Sábado, com a chegada ao Plateau de Beille, não pode ter deixado de se entusiasmar com o trabalho de José Azevedo, abrindo caminho ao seu “chefe-de-fila” para uma extraordinária vitória, “destroçando” toda a concorrência (resta o italiano Ivan Basso como último obstáculo para Armstrong).
- 21.07.2004 – Aproveitando a oportunidade, para destacar (mais uma vez) o magnífico desempenho de José Azevedo, hoje no “Tour de France”, em contra-relógio individual com o final no cume do Alpe d’Huez, “etapa-rainha” da maior prova de ciclismo do mundo. José Azevedo foi 4º classificado, logo após as maiores figuras do ciclismo mundial da actualidade: Lance Armstrong, Jan Ullrich, Andreas Kloden – uma proeza ao nível das realizadas por Joaquim Agostinho! – tendo ascendido ao 5º lugar da classificação geral. Brilhante!
- 24.07.2004 – O norte-americano Lance Armstrong, alcançando a sua 6ª vitória consecutiva no “Tour de France” – maior prova de ciclismo do mundo – converte-se no maior campeão de sempre, superando as grandes “lendas” Eddy Merckx, Miguel Indurain, Bernard Hinault e Jacques Anquetil. Uma proeza histórica, porventura irrepetível. Desde 1999, ano após ano, mostrando sucessivamente ser o ciclista mais completo do pelotão, tornou-se praticamente imbatível em contra-relógios e muitas vezes vencedor de etapas de montanha (onde nunca denotou sintomas de que pudesse “fraquejar”), uma combinação perfeita para o sucesso. […] Por fim, o “nosso grande campeão”, José Azevedo. Uma prova magnífica, de esforço, trabalho, dedicação e glória. Não só deu todo o apoio que Armstrong necessitou para vencer esta prova – ganhando direito a “saborear” um pouco da magnífica proeza de Armstrong – , como conseguiu ainda marcar presença de destaque entre os melhores (com um magnífico 4º lugar no mítico Alpe d’Huez), finalizando num brilhante 5º lugar na classificação geral, imediatamente após Jan Ullrich. Uma proeza ao nível de Joaquim Agostinho; a melhor classificação de sempre de um português, desde o 3ºlugar de Agostinho de há 25 anos atrás. A propósito, leiam-se as palavras do Director da Equipa: “Le directeur sportif de l’US.Postal Johan Bruynel ne tarit pas d’éloges sur son équipe. Hincapie d’abord, Beltran ensuite, Landis hier qui a fournit un travail considérable pour Lance Armstrong, notamment ont contribué à son sixième sacre. Mais surtout Bruynel salue les performances de José Azevedo, le Portugais, omniprésent aux côtés du patron dans toutes les ascensions des Pyrénées et des Alpes, et par ailleurs cinquième au classement général. « S’il était leader dans une autre équipe, Azevedo aurait les moyens de jouer le podium” explique-t-il.”
- 24.07.2005 – 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7! Nasce o mito Armstrong. Hoje, Lance Armstrong encerrou a sua carreira de ciclista com “chave de ouro”, conquistando a 7ª vitória consecutiva na Volta a França em Bicicleta, assim entrando na lenda do desporto. Imbatível desde 1999, Armstrong fez, neste seu “Tour de despedida”, uma prova confiante, serena, tranquila, convicto de que, mais uma vez, a vitória não lhe escaparia.
- 01.07.2006 – Tem início hoje na “Capital da Europa”, Strasbourg, o “Tour de France“, este ano com a particularidade de o ciclista que envergará a camisola com o nº 1 ser o português José Azevedo, sucessor do “campioníssimo” Lance Armstrong (hepta-vencedor da prova – de 1999 a 2005 -, entretanto retirado da competição) como “chefe-de-fila” da equipa “Discovery Channel”.
- 23.07.2006 – José Azevedo efectuou uma boa prova, embora sem deslumbrar, terminando no 19º lugar. Poderia ter feito melhor… ainda assim finalizaria como o melhor ciclista da Discovery, a equipa que, tendo ficado sem o hepta-vencedor Lance Armstrong, procura ainda o seu “herdeiro”.
Hoje, conhecido o relatório da USADA – United States Anti-Doping Agency sobre a investigação do caso Lance Armstrong, é impossível deixar de me colocar a interrogação sobre qual o envolvimento que terá tido José Azevedo no âmbito deste processo? Para reflexão, aqui transcrevo alguns excertos de tal relatório, relativamente ao ano de 2004, em que o ciclista português, não só obteve a sua melhor classificação no “Tour de France”, como foi preponderante na conquista da vitória na prova por parte do seu “chefe-de-fila” na equipa US Postal:
Floyd Landis reported that Ferrari attended the training camp in Puigcerdà to monitor the team members’ blood values and that Ferrari “administered EPO and testosterone as needed to ensure the team was ready for the Tour de France.” […]
By this time, the use of testosterone patches was quite prevalent on the U.S. Postal Service cycling team. Michele Ferrari and Johan Bruyneel both advised that testosterone patches could be used for short periods with little risk of detection.
Landis testified that, “[o]n or about July 12, 2004, blood was transfused into me and a few other members of the team,” including, Lance Armstrong and George Hincapie. […]
Floyd Landis also testified regarding a second transfusion received by Armstrong, Landis and other members of the team. Landis testified that this transfusion occurred on the team bus between the finish of a stage and the hotel and that the driver had pretended to have engine trouble and stopped on a mountain road for an hour so that the team could have blood infused.
George Hincapie confirms that, “[a]fter a stage during the 2004 Tour de France blood transfusions were given on the team bus to most of the riders on the team.” […]
The administration of EPO in small doses to stimulate the production of immature red blood cells known as reticulocytes in order to mask the transfusion was standard practice on the USPS/Discovery Channel Team as Tom Danielson has indicated.
P.S. Um retrato, tão triste, como fiel, do que foi o ciclismo de competição ao mais alto nível, desde 1996, é expresso neste quadro, com as ligações ao doping dos 3 primeiros classificados de cada edição do “Tour”. Arrepiante!
A “viragem” de orientação no FMI
FMI ensaia mudança de pele em 4 actos
É cedo para concluir se a teoria dos “austeristas” foi derrotada pela “revelação” espetacular feita por Olivier Blanchard no “World Economic Outlook” – um dos mais importantes documentos anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) – sobre o erro do multiplicador orçamental. […]
Acto I – FMI reconhece o erro no cálculo do “multiplicador” da austeridade
Acto II – Investigadores do FMI recomendam terapia diferente da troika
Acto III – World Economic Outlook de outubro de 2012 diz que depressão mundial depende de Bruxelas, Berlim e Washington
Acto IV — “É preciso deitar a crise para trás das costas”, diz Christine Lagarde
(artigo de Jorge Nascimento Rodrigues, de leitura obrigatória).
«A governação de cabotagem»
De novo, insisto, o espectáculo desta governação é penoso de se ver. […]
O resultado é a mais absurda governação à vista que é possível imaginar. […]
Nota actual: o que se está a passar com o Orçamento de Estado nunca foi visto em democracia: um Orçamento feito na rua e nos jornais, com fugas, umas deliberadas, outras não, com “balões de ensaio” para ver no que dá, com anúncios absurdos e irresponsáveis de violentos, seguidos de pequenas moderações para enganar, com alvos genéricos e, quando a coisa corre mal, mais pancada na função pública. Se é deliberado, tipo pau seguido de cenoura para esconder o pau que fica, coloca o governo ao nível de um mau assessor de comunicação, a fazer truques de marketing. Para isso há melhores profissionais fora de Portugal que podem ser contratados.
Só este triste espectáculo devia levar o Presidente a pôr alguma ordem nesta trapalhada ambulante, ridícula e perigosa ao mesmo tempo.