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RELATÓRIO "DESENVOLVIMENTO HUMANO" (VIII)
Infelizmente, nem só de “grandes desempenhos” vive o mundo; continuo a achar que valerá (muito) a pena debruçar-nos um pouco sobre os indicadores apresentados pelos países menos desenvolvidos e reflectir sobre estas situações de grande pobreza e subdesenvolvimento, num mundo que necessita criar condições para um desenvolvimento global mais harmonioso e sustentado.
Um total de 18 países, em que vivem cerca de 460 milhões de pessoas, apresentam indicadores inferiores aos registados há 15 anos!
Mais de 1 000 milhões (!) de pessoas sobrevivem com menos de 1 dólar por dia.
Em cada ano, há ainda mais de 10 milhões de crianças que não atingem o 5º aniversário. Anualmente, a SIDA custa a vida a 3 milhões de pessoas – tendo provocado a redução da esperança média de vida do Botswana de 67 anos para apenas 36 anos!
Num mundo onde subsistem enormes desigualdades, as 500 pessoas mais ricas têm um rendimento conjunto superior ao rendimento das 416 milhões de pessoas mais pobres…
Mas – para além das responsabilidades dos países desenvolvidos – será também necessário procurar a causa para a pobreza extrema nos países por ela afectada; países beneficiando de importantes riquezas naturais (pedras preciosas no Afeganistão; petróleo e diamantes em Angola; madeira no Cambodja; petróleo no Congo; gás natural em Aceh, na Indonésia; madeira, diamantes, café e cacau na Libéria; diamantes na Serra Leoa; petróleo no Sudão) desbaratam esses recursos como forma de financiar guerras fratricidas, enquanto que os apoios internacionais são absorvidos por práticas de corrupção há muito instaladas.
E, infelizmente, dos países menos desenvolvidos fazem parte os de expressão portuguesa (com Cabo Verde a alcançar, não obstante, a 6ª posição de entre os países africanos), cujos principais indicadores resumirei também hoje e amanhã, a par dos países com prestações inferiores.
Começando com indicadores relacionados com a saúde e sobrevivência, desde o Nº de médicos por cada 100 000 habitantes; % de adultos infectados pelo vírus da SIDA; Casos de Tuberculose por 100 000 habitantes; Esperança de vida à nascença; terminando com a Taxa de mortalidade infantil (por 1 000):
- (1) Noruega: 356 / 0,1 / 5 / 79,3 / 3 - (27) Portugal: 324 / 0,4 / 37 / 77,2 / 4 - (63) Brasil: 206 / 0,7 / 91 / 70,3 / 33 - (105) Cabo Verde: 17 / … / 328 / 70,2 / 26 - (126) S. Tomé e Príncipe: 47 / … / 256 / 62,9 / 75 - (140) Timor-Leste: … / … / 753 / 55,2 / 87 - (160) Angola: 8 / 3,9 / 256 / 40,7 / 154 - (168) Moçambique: 2 / 12,2 / 557 / 41,9 / 109 - (169) Burundi: 5 / 6,0 / 519 / 43,5 / 114 - (170) Etiópia: 3 / 4,4 / 507 / 47,6 / 112 - (171) R. C. Africana: 4 / 13,5 / 493 / 39,4 / 115 - (172) Guiné-Bissau: 17 / … / 300 / 44,6 / 126 - (173) Tchad: 3 / 4,8 / 439 / 43,6 / 117 - (174) Mali: 4 / 1,9 / 582 / 47,8 / 122 - (175) Burkina Faso: 4 / 4,2 / 303 / 47,4 / 107 - (176) Serra Leoa: 7 / … / 794 / 40,6 / 166 - (177) Níger: 3 / 1,2 / 272 / 44,3 / 154
Números “assustadores”, em particular na taxa de infectados com o vírus da Sida na R. Centro Africana e Moçambique, a reduzidíssima esperança de vida na R. C. Africana (menos de 40 anos!), Angola e Moçambique, terminando nas enormes taxas de mortalidade infantil (mais de 10 %!) no Burkina Faso, Moçambique, Etiópia, Burundi, R. C. Africana, Tchad, Mali e Guiné-Bissau, com Angola, Níger e Serra Leoa (com valores absolutamente “inaceitáveis”, acima de 15 %).
RELATÓRIO “DESENVOLVIMENTO HUMANO” (VII)
Por fim, no que respeita aos factores “Desempenho económico” / “Difusão tecnológica”, destacam-se os seguintes indicadores, respectivamente, PIB per capita em USD; % Crescimento anual do PIB 1990-2003; Taxa de inflação média anual 1990-2003; Telefones por 1 000 habitantes; Telemóveis por 1 000 habitantes; Utilizadores de Internet por 1 000 habitantes:
- Noruega: 37 670 / 2,9 / 2,3 / 713 / 909 / 346 - Islândia: 31 243 / 2,1 / 3,2 / 660 / 966 / 675 - Austrália: 29 632 / 2,6 / 2,4 / 542 / 719 / 567 - Luxemburgo: 62 298 / 3,6 / 2,0 / 797 / 1194 / 377 - Canadá: 30 677 / 2,3 / 1,8 / 651 / 419 / nd - Suécia: 26 750 / 2,0 / 1,7 / nd / 980 / nd - Suíça: 30 552 / 0,5 / 1,3 / 727 / 843 / 398 - Irlanda: 37 738 / 6,7 / 2,7 / 491 / 880 / 317 - Bélgica: 28 335 / 1,8 / 1,9 / 489 / 793 / 386 - EUA: 37 562 / 2,1 / 2,6 / 624 / 546 / 556 … - Portugal: 18 126 / 2,2 / 4,0 / 411 / 898 / 194*
Relativamente aos aspectos económicos, Portugal terá ainda que recuperar de forma significativa, particularmente o valor de PIB per capita (menos de metade do registado pelos países mais “ricos”), assim como necessita conseguir a redução da taxa média de inflação.
Destaque para o número de telemóveis por 1 000 habitantes, que continua a aumentar (uma particularidade portuguesa, que terá provocado inclusivamente a redução do número de telefones fixos), quase “competindo” ao nível dos maiores utilizadores mundiais (nomeadamente os países nórdicos: Suécia, Islândia, Finlândia e Noruega; para além de Itália e Hong Kong – estes acima de 1 000 –, com o “recordista mundial” a ser o Luxemburgo, com 1 194!).
Finalmente, a nível de utilizadores de Internet – não obstante não se encontrarem disponíveis dados actualizados – continua a haver ainda um longo caminho a percorrer para uma aproximação aos países do topo mundial.