Archive for 16 Setembro, 2005
REALIDADE E FICÇÃO EM “ANJOS E DEMÓNIOS” (V)
Um grama de antimatéria contém energia equivalente a uma bomba nuclear de 20 kilotoneladas? Sendo uma kilotonelada a energia de 1 000 toneladas de explosivo TNT, 20 kilotoneladas corresponde à energia da bomba atómica que destruiu Hiroshima.
A questão pode prestar-se a confusões: pretende-se provavelmente referir a libertação de energia explosiva que resultaria da aniquilação súbita de um grama de antimatéria.
Calculemos então essa energia: 1 kilotonelada de TNT não é uma unidade métrica, correspondendo a 4,2 x 1 000 000 000 000 joules (4,2 terajoules – 4,2 TJ); 1 grama = 0,001 kg; a velocidade da luz é de 300 000 km/s (ou seja, 300 000 000 metros / segundo).
Calculemos agora E=mc2 para 1 grama: E = 0,001 x 300 000 000 x 300 000 000 = 90 000 000 000 000 joules ou 90 TJ. Se 4,2 TJ corresponde a 1 kilotonelada de TNT, então 90 TJ corresponde a 21,4 kilotoneladas…
Contudo, para uma bomba de antimatéria, partir-se-ia, na realidade, de 2 gramas: 1 grama de antimatéria aniquilando-se com 1 grama de matéria, libertando portanto o dobro de energia. Bastaria portanto 0,5 grama de antimatéria para alcançar um efeito tão destrutivo como o da bomba de Hiroshima!
Ora, sendo 0,5 grama de matéria muito fácil de encontrar, a produção de 0,5 grama de antimatéria implicaria 1 milhão de anos!!! Que, obviamente, seria impossível de armazenar…
(com base na página do CERN)
“ANJOS E DEMÓNIOS” (V)
Guiados pelas pistas que – partindo de versos anotados à margem de uma obra de Galileu, escritos na “língua pura” que seria o inglês (!?) – vão decifrando a cada visita aos templos onde haviam sido instaladas algumas esculturas de Bernini, como se de “checkpoints” se tratassem, perseguindo nesses símbolos dos “Illuminati” os quatro elementos (terra, ar, fogo e água), procurando, num desesperado “contra-relógio”, evitar o massacre de quatro dos mais importantes Cardeais – os “preferidos” para a eleição como novo Papa – e, em última análise, visando salvar o Vaticano.
Na acção, tem papel preponderante Carlo Ventresca, o Camerlengo, Cardeal ao qual é conferida a responsabilidade de assumir a condução dos destinos da Igreja no período de transição entre o falecimento do Papa e a eleição do seu sucessor, na boca do qual são postas – numa “comunicação ao mundo”, via televisão (!) – as palavras com conteúdo mais significativo sobre a “conflituosa” relação entre a religião e a ciência, quando, já em “desespero absoluto”, é “reconhecida a vitória dos Illuminati”.
Um final excessivamente fantasioso (embora necessariamente surpreendente) retira alguma credibilidade à obra, com um desequilíbrio na sua estrutura nas últimas sete dezenas de páginas.
“Anjos e Demónios”, não sendo uma obra com o impacto de “O Código da Vinci” – e, precisamente porque a estamos a ler posteriormente, o que nos leva a notar mais facilmente as suas fragilidades – deverá reconhecer-se que terá constituído uma excelente base (quase operando como um “guião” de um filme) para a construção mais elaborada que resultou no famoso romance da “época passada”, não deixando de nos possibilitar algumas horas de interessante entretenimento.
Podemos aliás ser inclusivamente levados a “censurar o aproveitamento” que Dan Brown dela fez (como que se de um esboço se tratasse) para, de forma mais elaborada e trabalhada, construir o que viria a ser o seu êxito maior… Ou, noutra perspectiva, valorizar esse metódico e minucioso trabalho de construção!