TOMAR – INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO ARQUITECTÓNICO (IX)
13 Abril, 2006 at 8:45 am Deixe um comentário
Igreja de São João Baptista / Igreja Matriz de Tomar
“Planta longitudinal, composta por corpo da igreja rectangular e cabeceira tripla com ábside e absidíolos rectangulares, escalonados e comunicantes, Secretaria (antiga Sacristia), Baptistério, Sacristia e anexos (Sala de Reuniões e vestiário dos padres) rectangulares e pátio interior em L. Massa de volumes articulados, horizontal, com torre sineira verticalista; coberturas diferenciadas de telhado a 2 e 1 água sobre a igreja e coruchéu piramidal sobre a torre sineira.
Fachada principal: orientada, com 3 corpos escalonados, sem divisores; pano central com 2 registos, tendo no 1º portal inscrito em alfiz, flanqueado por pilastras prismáticas com nichos, rematadas por pináculos vegetalistas, unidos superiormente por friso com cimalha flordelizada; as arquivoltas são em arco contracurvado com decoração vegetalista, abrigando tímpano com grilhagem de cantaria e baldaquino rendilhado, sobre arco deprimido da porta; nas enjuntas emblemática de D. Manuel; no 2º registo óculo; remate em empena recta encimada por platibanda rendilhada com flores-de-liz ladeada por pináculos e tendo ao centro nicho com estátua de vulto vestida de armadura rematado por pináculo. Panos laterais cegos. À esq. torre de 2 registos: o 1º de secção quadrangular, vazado por frestas profundas em arco pleno e pequenas janelas rectangulares e quadrangulares, a alturas diferenciadas, tendo sob a cornija de remate 3 tabelas rectangulares contendo emblemática manuelina dispostas em “roquete”; o 2º registo é um corpo octogonal com um relógio a O. e rodeado por ventanas em arco quebrado; remate em cornija com gárgulas cantonais sobre cachorrada encimada por varandim.
Fachada S.: pano da nave lateral tendo no 1º registo portal em arco quebrado de 3 arquivoltas sobre colunelos, os interiores com capitéis vegetalistas, e no 2º 3 frestas emolduradas em arco pleno; remate em cornija; corpo da Secretaria com portal em arco quebrado na face O., a S. 2 vãos altos de moldura quadrangular, 4 janelas de avental com molduras recortadas encimadas por cornijas borromínicas e 1 portal de moldura semelhante às janelas, de acesso a pátio interior onde é visível o absidíolo com fresta e o pano da ábside com contraforte oblíquo e grande fresta em arco quebrado; na face E. 2 janelas de avental; remate em beiral; 2º registo: pano da nave central rasgado por 3 janelas em arco pleno.
Fachada E.: corpo da Sala de Reuniões e ábside, alinhados, com 2 janelas quadradas e 1 óculo, gradeados; remate em empena angular.
Fachada N.: irregular, com pano da nave lateral a que se adossam 2 corpos salientes unidos por portão de ferro e delimitados por cunhais de cantaria: o da esq. com janelas rectangulares gradeadas, rematado em cornija, e o da dir. com porta rectangular aberta no cunhal dir. e janela de moldura recortada em arco rebaixado; remate em cornija sobre consola à dir.; pano da nave, reentrante, com portal de arco trilobado, enquadrado por alfiz e flanqueado por colunelos torsos encimados por nichos, com decoração vegetalista, zoomórfica e heráldica de D. Manuel e de D. Maria; superiormente, à dir., fresta em arco pleno, semi-oculta pelo corpo lateral; no 2º registo pano da nave central com 3 frestas em arco pleno; remate em cornija.
INTERIOR: 3 naves de 5 tramos, com nave central de 2 registos (arcada e clerestório); os arcos formeiros são levemente apontados apoiados nos extremos em meias-colunas e em pilares cruciformes, com 4 colunas embebidas, sendo as transversais de menor secção, com capitéis zoomórficos e fitomórficos, sendo o 1º do lado do Evangelho esculpido no intercolúnio com torsal e na base com cordões, nastros, folhas, esferas, conchas e máscaras; defronte pia de água-benta oitavada decorada com a esfera armilar, o sol e a lua; no último pilar do Evangelho púlpito poligonal com escada de caracol, decorado com heráldica manuelina sob entrançados vegetalistas; a O. guarda-vento sobre o qual se apoia coro em madeira iluminado por óculo, com órgão e porta em arco abatido a que se acede por escada que também conduz à torre.
Parede N.: Baptistério aberto por arco rebaixado de vão largo, gradeado, iluminado por 2 frestas e contendo pia baptismal de linhas simples e um tríptico da Vida de Cristo, e tendo no pavimento lápide sepulcral brasonada e epigrafada de Henrique Correia da Silva e sua mulher Joana de Sousa; porta em arco pleno para corredor e escada da torre; porta da Sacristia de moldura recortada sob cornija em arco rebaixado; porta lateral de arco rebaixado; porta de moldura recortada do vestiário dos padres; capela do Santíssimo Sacramento emoldurada em arco pleno perifericamente com 4 nichos de baldaquinos de concha com pequenas imagens e outro superior ladeado de volutas e fogaréus; o interior é forrado de talha branca e dourada, com Sacrário e Cristo Crucificado, ladeada por 2 portas e 2 janelas de verga recta e coberta por abóbada de berço pintada com 4 medalhões hagiográficos entre grinaldas de flores.
Parede S.: porta lateral em arco rebaixado; porta em arco recto da Secretaria e sala de reuniões; capela de Nossa Senhora de Fátima de enquadramento semelhante à que lhe fica defronte, pouco profunda, com retábulo de talha branca e dourada emoldurando tela das Almas. Cobertura em tecto de madeira, de 3 abas na nave central e uma nas laterais. A E. 3 arcos quebrados com capitéis vegetalistas e antropomórficos, antecedem a capela-mor e os absidíolos, todos cobertos por abóbadas de nervuras com bocetes heráldicos, apoiadas em mísulas; sobre o arco triunfal pequeno óculo; revestimento parietal da capela-mor com azulejos enxaquetados em azul, branco e amarelo e superiormente com painéis e molduras de talha branca e dourada; na parede de fundo retábulo de talha branca e dourada, a envolver altar com embrechados; nas paredes laterais 2 grandes frestas em arco quebrado, no pavimento carneiro de Martim Correia da Silva, capitão-mor de Ceuta e Mazagão. No absidíolo N. altar com retábulo de talha e branca e dourada com imagem do Sagrado Coração de Jesus, revestimento parietal de azulejos de padrão de camélias, à esq. lápide epigrafada alusiva ao instituidor; à dir. pia de água-benta em concha e passagem para a capela-mor em arco redondo com sanefa de talha branca e dourada a cortar superiormente o vão; no absidíolo S. retábulo de talha branca e dourada com imagem de Nossa Senhora do Carmo e revestimento parietal de azulejos de ponta de diamante; à dir. fresta rectangular e porta de acesso à Secretaria e pátio; à entrada campa brasonada de D. Maria Justa da Cunha e Vasconcelos.
Cronologia: 1178 – 1ª referência documental à “Rua de São Joannes”, atestando a existência de um templo com a mesma invocação do actual; 1430 – a primitiva igreja de São João, gótica, remonta tradicionalmente ao Infante D. Henrique (sendo ainda hoje conhecida como a “antiga capela do Infante”) e fechava o lado E. da pç., na largura das boticas, entre a R. de São João e a Corredoura; por várias vezes surgem referências documentais a reuniões dos homens-bons do Concelho sob o seu alpendre, devendo a igreja ser mais estreita, de uma só nave, segundo vestígios patentes na caixa-murária sob o reboco; séc.16, início – reconstrução da igreja, com reaproveitamento dos portais góticos, colocados na fachada S.; 1510 – no livro de Forais Novos da Extremadura é referido que estavam a terminar as obras de ampliação da Igreja de São João Baptista; 1511 – conclusão da torre sineira, tendo nesse ano começado a ser pagos os ordenados ao vigário; conhecimento de Lopo Diz, almoxarife de Tomar, em como recebeu de Lourenço Godinho uns “ferros dobradeiros pera hóstias” que o rei mandou dar à igreja de São João Baptista; 1512 – data da edícula sepulcral de D. Jorge de Almeida; 1513 – O púlpito é lavrado; 1520 – D. Manuel fez da igreja capela real e elevou-a a Colegiada; 1523 – o relógio, oriundo da Porta do Sol do castelo dos Templários, é colocado na torre sineira, por ordem de D. João III; 1530 – por alvará régio todos os bens da capela de Santa Maria do Castelo passam para a Igreja de São João Baptista; séc.17, inícios – colocação dos altares laterais em cantaria; revestimento da cabeceira com azulejos; séc.18, 1º quartel – demolição do topo facetado da ábside e prolongamento desta em forma rectangular; colocação do retábulo da capela-mor tendo os azulejos sido levantados no local onde foi assente a talha (permanecendo aí alguns vestígios daqueles); séc.18, 2ª metade – construção da capela da Irmandade do Santíssimo pelo desembargador Bernardim Gonçalves de Moura, cavaleiro da Ordem de Cristo; colocação do retábulo nesta capela e na capela colateral do lado da Epístola; 1875 – executam-se obras na igreja, abrindo-se 2 janelas a ladear o pórtico, posteriormente tapadas por se considerarem inestéticas; 1880 – colocação do órgão construído por Gray & Davidson, que substituiu o do séc. 18; 1933/1934 – o pórtico está muito degradado e são necessários vidros nas janelas; 1959 – estado de degradação da torre; 1962 – as cantarias de pedra do portal estão partidas; 1970 – a torre continua degradada, com rebocos caídos, assim como a fachada principal; 1975 – é necessário executar novas cantarias no pórtico; 1977 – os rendilhados do pórtico continuam deteriorados e a esboroarem-se.”
(via página da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais)
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