Archive for Fevereiro, 2005
MAIORIA ABSOLUTA OU RELATIVA?
Paulo Portas já o referiu de forma expressa e, necessariamente, José Sócrates também estará disso consciente: a obtenção ou não de uma maioria absoluta pelo Partido Socialista dependerá essencialmente – não tanto do alinhamento dos votos do próprio PS e do PSD – do maior ou menor crescimento do CDS.
De facto, colocando praticamente todas as sondagens o PS no limiar da maioria absoluta (com votações estimadas rondando entre os 43 % e os 46 %), há um conjunto relativamente reduzido de círculos eleitorais em que se “joga” essa maioria absoluta e, curiosamente, passando pela votação do CDS e pelo facto de este conseguir ou não crescimentos que lhe permitam assegurar lugares de deputados, que seriam, na generalidade, conquistados ao PS.
Tal poderá acontecer particularmente nos seguintes círculos eleitorais:
– Braga – a possível eleição de um 2º deputado do CDS poderá ser feita à custa do 10º candidato socialista;
– Coimbra – a eventual eleição de Luís Nobre Guedes deverá afastar o 6º candidato socialista;
– Faro – onde Narana Coissoró deverá disputar o lugar de deputado com o 5º candidato socialista;
– Lisboa – onde o CDS deverá lutar por um 5º eleito;
– Porto – onde o CDS procura eleger o seu 4º candidato;
– Santarém – em que o CDS poderá eleger Nuno Fernandes Thomaz, em detrimento do 6º candidato socialista.
A não ser que haja surpresas significativas no dia 20 de Fevereiro, o PS deverá eleger entre 112 a 119 deputados; terá portanto a maioria absoluta dependente de 4 deputados; para além de Lisboa e Porto, os círculos de Coimbra, Faro e Santarém poderão ser decisivos.
Virá a campanha “pela positiva” que Paulo Portas diariamente vai “proclamando” a ter resultados?
[2048]
ACORDO DE PAZ ISRAEL – PALESTINA
Mahmud Abbas (presidente da Autoridade Nacional Palestiniana) e Ariel Sharon (primeiro-ministro de Israel) firmaram hoje em Charm El-Cheikh (Egipto) um acordo de cessar-fogo, que deverá constituir um primeiro mas decisivo passo para o alcance da paz na região.
Podemos ter esperança?
[2047]
ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (II)
“Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas!
Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair… Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!”
[2046]
ELEIÇÕES ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – 1995
Ausente do governo desde 1985, foram necessários 10 anos de “travessia do deserto” na oposição, para que, nas eleições de 1 de Outubro de 1995, o PS voltasse a assumir o papel de maior partido nacional, conquistando uma “nova maioria” (relativa…), com a sua mais expressiva votação de sempre, superando o fundador Mário Soares.
O PS registaria (algo inesperadamente) um crescimento “estrondoso” (praticamente mais um milhão de votos), de 29 % para cerca de 44 %, que se pensava poderia ser suficiente para lhe proporcionar a ambicionada maioria absoluta, o que contudo não se verificou, aumentando o seu número de deputados, de 72 para 112 (a 4 do objectivo), no que foi então interpretado como a vontade dos portugueses de evitar “abusos de poder” associados à governação da anterior maioria.
O PPD/PSD, “órfão” de Cavaco Silva, sob a (efémera) liderança de Fernando Nogueira (que, na sequência dos resultados eleitorais, logo apresentaria a sua demissão), caía de 50,6 % para 34 %, reduzindo a sua representação parlamentar, de 135 para apenas 88 deputados.
Beneficiando da queda do PPD/PSD, o “novo” CDS-PP, liderado por Manuel Monteiro (tendo Paulo Portas como “inspirador”, com uma política assumidamente de direita) conseguia, invertendo a tendência dos últimos anos, voltar a “recolocar-se no mapa”, somando 9 % dos votos (contra os 4,4 % das duas anteriores eleições legislativas), crescendo de 5 para 15 deputados.
A coligação PCP-PEV continuava a sua luta na tentativa de resistência ao declínio, baixando ligeiramente, de 8,8 % para 8,6 %, o que se traduzia numa diminuição de eleitos, de 17 para 15 deputados.
O “voto útil” no PS retirara aos pequenos partidos de esquerda qualquer possibilidade de representação parlamentar. Na sequência de repetidos insucessos (desde as eleições de 1980), a histórica UDP e o mais recente PSR acabariam por compreender a necessidade de unir esforços, o que viria a levar à formação do Bloco de Esquerda.
[2045]
ALMADA NEGREIROS – "MANIFESTO ANTI-DANTAS" (I)
“Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d’Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!”
[2044]
ELEIÇÕES ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – 1995
Depois de alguns episódios aparentemente anódinos, mas que deixariam marcas profundas, como a ideia de retirar o feriado de Carnaval e, mais sério, o “bloqueio da Ponte 25 de Abril”, surgira então o tabu de Cavaco, que, “cansado” do partido e do governo, se preparava para um retiro prévio à candidatura presidencial.
Cavaco decidira não se recandidatar à liderança do PSD; depois de uma luta “fratricida” entre Fernando Nogueira e Durão Barroso, seria o primeiro a “carregar o pesado fardo” de ir a votos, num contexto adverso.
Era o final de um ciclo, em que os números, estatísticas e índices haviam sido privilegiados, nem sempre com contrapartida nas preocupações sociais dos portugueses, com os dois últimos anos de governação a serem já bastante penosos.
O PS, mais uma vez, fora obrigado a mudar de liderança; depois da surpreendente candidatura de Jorge Sampaio à Câmara Municipal de Lisboa, servindo como “trampolim” para a candidatura à Presidência da República, António Guterres passara a ser o novo responsável máximo do partido, lançando a célebre iniciativa dos “Estados gerais”.
Era, finalmente, chegada a hora da “nova maioria”…
E, num inequívoco sinal de maturidade política – depois de 20 anos de governos “transitórios” e maiorias personalizadas numa figura “providencial” como a de Cavaco Silva –, uma consciente opção pela alternância democrática, sem receio de que tal pudesse colocar em causa a estabilidade política no país, “temperada” pela simbólica recusa da outorga de uma maioria absoluta.
António Guterres (o político da “razão e coração”, com algumas “paixões”) iniciaria então a sua política de moderação, diálogo e busca de consensos, que, nesse contexto, não lhe permitiriam contudo prosseguir as reformas estruturais de que o país carecia.
[2043]
"BLOG DIÁRIO DA CAMPANHA (SIC)"
Integrado numa página especial de acompanhamento das eleições legislativas do próximo dia 20 de Fevereiro, a SIC lançou também o seu “blogue” de acompanhamento da campanha eleitoral: “Diário da Campanha“.
P. S. Ao invés, a lamentar o final do XupaCabras e do Ma-Schamba.
[2042]
REVISTA DA SEMANA
Visão (3 Fevereiro)
“Papa melhora lentamente – Aos poucos, o Vaticano vai respirando de alívio, com as notícias da lenta recuperação de João Paulo II que, no domingo, até poderá dirigir-se via rádio aos fiéis concentrados na Praça de São Pedro.
Abrantes fala de Bibi – O ex-provedor adjunto da Casa Pia afirmou em tribunal que Carlos Silvino, principal arguido do processo de pedofilia e seu antigo subordinado, «à primeira vez mentia e à segunda falava verdade».
Mais restrições para os fumadores – O Governo já aprovou um conjunto de medidas mais restritivas para os fumadores, como a proibição de fumar em locais de trabalho fechados, mas que prevê a criação de restaurantes para fumadores. De fora da legislação ficam as discotecas.
Pedro Strecht pede demissão – O especialista em crianças e adolescentes deixa a Comissão de Apoio Psicológico para a Intervenção em Crise da Casa Pia de Lisboa. A decisão prende-se com o anúncio feito pela juíza Ana Peres de repetir os exames médicos às alegadas vítimas do processo de pedofilia.”
[2041]
10 ANOS A PEDALAR
Um casal iniciará no próximo Sábado em Vitoria – Gasteiz (Espanha / País Basco) uma volta ao mundo em bicicleta (tandem de 2 lugares), com uma extensão prevista de 120 000 km, percorrendo 80 países, ao longo de 10 anos!
O itinerário prevê passagem em locais como: Madrid, Lisboa (de onde voarão para Ushuaia, na Argentina, a cidade mais a sul do mundo), Terra Nova, Santiago do Chile, ilha de Páscoa, N. Zelândia, Austrália, Indonésia, Malásia, Tailândia, Cambodja, Vietname, Filipinas, Taiwan, China, Japão, Coreia, Mongólia, Tibete, Myanmar, Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão, Irão, Turquia, Itália, Egipto e Marrocos.
Esta aventura de Eneko Etxebarrieta e Miyuki Okabe pode ser acompanhada em www.acercandoelmundo.com
[2040]
ALMADA NEGREIROS (II)
Regressado a Portugal, iniciou uma colaboração com António Ferro, que o convidou para desenhar para a “Ilustração Portuguesa”; em 1923, desenharia a capa do livro de Ferro (“A Arte de Bem Morrer”).
Continuaria a escrever peças (“Pierrot e Arlequim”, 1924), romances (“Nome de Guerra”, em 1925) e ensaios (“Questão dos Painéis”, 1926).
Partiria depois para Espanha, onde viveu de 1927 a 1932, casando em 1934 com a pintora Sarah Afonso.
Começou depois a trabalhar para o Estado, com um selo comemorativo da 1ª Exposição Colonial, um cartaz para o álbum “Portugal 1934”. Desenvolve também os estudos para os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, concluídos em 1938.
Em 1942, depois da exposição “Almada – Trinta Anos de Desenho”, ganha o “Prémio Columbano”. Nos anos de 1943 a 1948, ocupou-se com os frescos das Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos, ganhando, em 1946, o Prémio Domingos Sequeira.
Em 1951, realizou também os vitrais da Igreja do Santo Condestável em Lisboa e os da Capela de S. Gabriel, em Vendas Novas. Em 1954, pinta o “Retrato de Fernando Pessoa”.
No final da década de 50, participaria na decoração de obras de arquitectura, nomeadamente painéis para o Edifício das Águas livres, decoração das fachadas dos edifícios da Cidade Universitária.
Realizaria os seus últimos trabalhos em 1969, com o painel “Começar”, do átrio da Fundação Calouste Gulbenkian. Almada Negreiros deixou-nos a 15 de Junho de 1970 (tal como Fernando Pessoa, no Hospital de São Luís dos Franceses).
[2039]



