Archive for 31 Dezembro, 2004
2005
Espera por nós…
Votos de um óptimo ano de 2005 a todos!
Até lá!
MENSAGEM (V)
Vasco da Gama realizou a extraordinária façanha, o grande objectivo dos Descobrimentos: a conquista da Índia por via marítima (“Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra / Suspendem de repente o ódio da sua guerra / E pasmam”).
Este empreendimento teria naturalmente custos significativos, causando grandes sofrimentos, com muitas vidas perdidas:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”;
mas valeu a pena?:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu”.
O desastre de Alcácer Quibir, o mistério que envolve o desaparecimento de D. Sebastião deverá ser o impulso para o renascimento de Portugal:
“Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império”.
Seguiu-se a perda da independência (“Senhor, a noite veio e a alma é vil”), mas é preciso acreditar que é possível renascer:
“Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda”.
(“Republicação”)
[1951]
"BLOGOSFERA" EM 2004 (XXXI)
A 17 de Dezembro, Paulo Querido anuncia o primeiro caso de pedido de informação por parte de um tribunal relativamente a um conteúdo do weblog.com.pt.
Também em Dezembro, e no espaço de poucos dias, o jornal “Público” edita dois artigos, baseando-se em “entradas de blogues”, sem contudo referir as fontes. A 26 de Dezembro, Joaquim Furtado aborda a questão, em “A Coluna do Provedor do Leitor: Copyright na Net“, concluindo:
“O jornal cometeu, em conclusão, dois erros, reconheceu-os nas suas páginas como era, aliás, seu dever, deixando claro quais deveriam ter sido os procedimentos correctos. O processo de reflexão interna produzido pelos responsáveis do jornal e exposto nesta coluna, responde à transparência reclamada pelo leitor.”
A fechar esta resenha sobre a “blogosfera” em 2004, que melhor final do que esta sensacional “entrada” (“Exposição de Coelhos Suicidas“) de João Pedro da Costa, nas Ruínas Circulares (há por lá muitas outras “entradas” a admirar!…):
“Sejam bem vindos à exposição dos Coelhos Suicídas na Galeria de Arte AS RUÍNAS CIRCULARES. O meu nome é João Pedro da Costa e irei ser o vosso guia durante a visita. Peço o favor de desligarem os telemóveis e de guardarem eventuais perguntas ou comentários para a caixa que estará à vossa disposição no final da visita. Lembro igualmente que, nesta galeria, podem fumar à vontade, que não faltam por aí cinzeiros. (Se tenho lumes? Claro. Ora, com licença. De nada).
Para os que não sabem, a presente exposição reúne os trabalhos enviados pelos leitores de um certo blog, tendo por mote a obra clássica de Andy Riley, THE BOOK OF THE BUNNY SUICIDES, cujo primeiro volume já se encontra editado em Portugal pelas Publicações Europa-América.”
E, já quase em “post-scriptum”, as palavras de Pacheco Pereira no “Veritas Filia Temporis” em 29.12.04 (originalmente publicadas na revista “Sábado”): “Os blogues portugueses foram a mais importante alteração positiva do sistema comunicacional nacional. Têm, todos sabemos, coisas péssimas: leviandade, cobardia anónima, agressividade balofa, arrogância moral, manipulação, militantismo sectário. Mas são miasmas que vêm da nossa atmosfera pequena e asfixiante, cheia de ressentimentos e escassez de bens e lugares, para a blogosfera. Mas, da blogosfera para fora, saiu qualidade, debate, controvérsia, imaginação e notícias.”
[1950]