“BLOGOSFERA” EM 2004 (XXIII)

23 Dezembro, 2004 at 8:28 am

A 6 de Outubro, dá-se o “Caso Marcelo“, com a suspensão dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, devido a alegadas pressões sofridas, também na sequência de críticas do Ministro dos Assuntos Parlamentares ao formato da sua intervenção televisiva, “sem contraditório”.

A blogosfera – como sempre – reagiu de imediato (conforme destacado em artigo de Cristina Bernardo Silva no “Expresso” online – ver em “entrada estendida”):

Causa Nossa“Factos: a) Um Ministro condena duramente o comentário político dominical de MRS na TVI; b) O visado reserva-se o direito de responder no próximo programa; c) Depois de uma conversa com o proprietário da estação, por inicitiva deste, MSR anuncia a imediata cessação do seu programa; d) MRS não dá explicações para esta súbita decisão, dizendo somente que durante mais de quatro anos sempre pôde conceber e executar “livremente” o seu programa, deixando entender que essa liberdade teria deixado de existir. As perguntas são óbvias: (i) O que é que Paes do Amaral disse a MRS, para forçar este a abandonar o programa, que claramente fazia com inexcedível gozo? (ii) O que é que levou Paes do Amaral a provocar o fim de um programa que evidentemente trazia enormes vantagens à estação? (iii) O que é que o Governo teve a ver com isso?”

Tugir“Deduz-se, do nevoeiro ainda envolto nesta rescisão de serviços, que há dedo do Governo e que um canal de televisão cedeu ao poder político.”

Bloguitica (“entrada” nº 1988, a 06.10.04) – “Em poucas linhas, Marcelo Rebelo de Sousa sai da TVI fazendo estragos demolidores. Em primeiro lugar, o comentador dominical da TVI deixa bem claro que Paes do Amaral vergou perante as pressões de Pedro Santana Lopes. O presidente da Media Capital solicitou uma conversa com Marcelo Rebelo de Sousa que não foi certamente para discutir fait-divers. Em segundo lugar, Marcelo Rebelo de Sousa deixa bem claro que sempre comentou livremente na TVI. Infere-se das suas palavras que agora não o poderá continuar a fazer, precisamente devido à interferência de Paes do Amaral e de… Santana Lopes!”

Barnabé“O que se passou hoje – o afastamento de Marcelo da TVI – foi o caso mais grave de censura em Portugal desde os tempos revolucionários. […] Um ministro atacou agressivamente um comentador e exigiu que a Alta-autoridade agisse sobre esse comentador. O patrão da Media Capital chamou esse comentador para uma conversa. Esse comentador demitiu-se e já nem sequer faz o seu próximo comentário, onde em princípio responderia ao ataque do ministro.”

Blogue de Esquerda“Respondendo às perguntas dos jornalistas, há pouco mais de 10 minutos, Santana Lopes não evitou os mais eloquentes sinais de embaraço, quando confrontado com o affaire Marcelo. Ou seja, o que começou por ser um simples tiro no pé, ameaça transformar-se agora numa ameaçadora gangrena política, de consequências imprevisíveis. Pior: em vez de encarar com frontalidade o problema, esclarecendo o que fosse passível de explicação (se é que existe explicação para um cada vez mais evidente caso de pressão política censória), o primeiro-ministro limitou-se, na sua conferência de imprensa, a ensaiar desajeitadíssimas manobras de fuga à responsabilidade que lhe cabe, inteira, nesta barafunda.”

Abrupto (“Rigorosos e especiosos” – 07.10.04) – “Em qualquer democracia o que ele fez são pressões. São pressões para Marcelo, são pressões para a Media Capital, são pressões para a AACS, são pressões para toda a gente…”

Blasfémias“Ver ou não ver, gostar ou não gostar dos comentários de Marcelo Rebelo de Sousa é completamente indiferente. O Governo PSD/PP utilizou a pressão política e económica para silenciar alguém que é incómodo ao poder. É grave e muito preocupante.”

Mar Salgado“O jogo mudou. Marcelo beneficia de efeitos conhecidos de há meio-século em Psicologia Social no campo da mudança de atitudes: o da “credibilidade da fonte ” e o da “confiança da fonte”. […] Se a isto acrescentarmos o poder da simplificação da mensagem televisiva e a ausência de anti-corpos críticos na massa de indivíduos que julgavam receber um banho de cultura semanal do Prof. Marcelo, compreende-se o pânico do Governo. É humano.”

“Marcelo na blogosfera

Tal como nos jornais, nas rádios e nas televisões, a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI tem sido amplamente debatida na blogosfera nacional, em especial através dos blogues mais atentos às áreas da política e/ou da comunicação social.

A maioria dos artigos publicados nos últimos dias tem incidido, por um lado, nas alegadas pressões exercidas pelo Governo ou por grupos económicos no sentido condicionar os comentários dominicais do professor e nas implicações daí decorrentes para a limitação da liberdade de expressão; e, por outro lado, na possibilidade de tudo não passar de uma «jogada» de Marcelo Rebelo de Sousa, com vista a uma candidatura a Belém.

Na opinião do escritor e jornalista Francisco José Viegas, autor do blogue «Aviz», «é evidente que está em causa a liberdade de expressão, ao contrário do que escreveram (nos jornais) e disseram (na rádio) hoje [8 de Novembro] os especialistas em ‘politiquinha’ e que justificam tudo com a hipótese de se tratar de mais uma traquinice do Marcelo».

«Estou-me bem nas tintas para saber se MRS [Marcelo Rebelo de Sousa] quer ser candidato a Presidente da República ou a provedor da Santa Casa. E não acho significativo que MRS escolha o silêncio para castigar ou penalizar o Governo. Isso interessa os especialistas em ‘politiquinha’- e até pode interessar o próprio Marcelo. Agora, o que eu acho significativo é que todas as coisas que se passaram estavam já inscritas nas palavras do ministro [dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva]», acrescenta Francisco José Viegas.

O governante afirmou na semana passada sentir-se «revoltado com as mentiras e falsidades» proferidas todos os domingos «por um comentador que tem um problema com o primeiro-ministro», Pedro Santana Lopes.

No «Abrupto», José Pacheco Pereira escreve que alguns blogues «querem-nos convencer que não se pode falar de pressões do Governo sobre a TVI , sem a implausível comprovação pela TVI ou pelo Governo. Bem podem esperar sentados. Nós, os comuns mortais, não precisamos de mais nada: ‘precipitamo-nos a tirar conclusões’, ‘com má fé’, porque quando um ministro próximo do primeiro-ministro (…) diz o que disse, não é preciso mais nada».

E acrescenta: «Em qualquer democracia, o que ele fez são pressões. São pressões para Marcelo, são pressões para a Media Capital, são pressões para a AACS [Alta Autoridade para a Comunicação Social], são pressões para toda a gente, menos para os especiosos.» Pacheco Pereira alerta ainda para o facto de Rui Gomes da Silva fazer «parte dos que mandam».

«Não são só palavras, têm por trás a possibilidade de dar e de negar, de aprovar ou recusar, de fazer ou de desfazer, de empregar ou desempregar. É por isso que são pressões e não são inócuas», conclui.

O jurista Vital Moreira, através do blogue «Causa Nossa», salienta que é preciso distinguir «pluralismo de opiniões, favorecido pelo contraditório, não necessariamente simultâneo, mas pelo menos com audiência equivalente» da «pressão pública e/ou privada sobre um meio de comunicação social e/ou sobre um comentador ou jornalista para que modere ou altere as suas opiniões». O constitucionalista lamenta que «a primeira destas questões não tivesse sido discutida mais cedo e de outro modo».

Vital Moreira deixa ainda no ar algumas questões, tais como: «Por que é que Marcelo R. de Sousa continua sem esclarecer pessoal e publicamente as razões da sua saída da TVI?» e, «se houve menção pública de pressões de ‘accionistas da TVI’, por que é que se insiste em referir somente as prováveis (embora desmentidas) pressões do Governo sobre a estação de televisão, ilibando as invocadas (e não desmentidas) pressões do próprio grupo económico proprietário da estação?».

No blogue «Barnabé», Daniel Oliveira analisa com ironia a corrida a Belém no PSD, escrevendo: «Com Marcelo em guerra e Cavaco ao lado dele, Santana Lopes não tem nenhum candidato à presidência que não lhe queira a pele. Santana, que antes queria afastar os dois, consegue-o finalmente, mas quando ele próprio já está fora da corrida. E pensar que eles eram tantos. Agora, nem um.»

No «Bloguítica», Paulo Gorjão refere que ficou «claramente demonstrado que o rei vai nu e que o primeiro-ministro é um democrata com pés de barro». Ou seja, acrescenta, ficou «claramente demonstrado que Santana Lopes utiliza a comunicação social, mas não tolera que os seus adversários o façam. Um democrata ‘à la carte’».”

(texto de Cristina Bernardo Silva no “Expresso” online)

[1930]

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FERNANDO PESSOA – CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (IV) UM "APLAUSO" AO GOVERNO…


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