Archive for 27 Julho, 2007
CAIS DA EUROPA / DISCURSOS DO OUTRO MUNDO
Cais da Europa é o nome de um blogue lançado pela revista Visão, para acompanhamento da Presidência do Conselho da União Europeia: “Os dias e as noites da presidência portuguesa da União Europeia. Válido até 31 de Dezembro de 2007.”
O Público tem um novo “blogue convidado”, o Discursos do Outro Mundo, a propósito do Second Life.
MPB.pt (VI) – CAETANO VELOSO (1 de Agosto de 2006)
“Eu gostava das notícias que chegavam da Suécia por causa da liberdade sexual e da experiência da social-democracia, que eu achava superior àquele negócio do comunismo da União Soviética. Meus amigos comunistas ficavam contra, porque diziam que aquilo era uma contrafacção burguesa para impedir o avanço da revolução. Eu sempre fui desconfiado desse pessoal. […]
Porque é uma língua muito pouco conhecida, cuja literatura é muito pouco conhecida fora do âmbito da própria língua portuguesa. Cuja vida cultural é pouco conhecida fora desse âmbito. Por isso é um gueto. É fechada. A vida da língua portuguesa é fechada ao mundo de língua portuguesa. Não é como o inglês ou o espanhol. Não é tão fechada quanto o esloveno, porque o esloveno é falado por um grupo pequeníssimo de pessoas, apenas na Eslovénia. O português é falado em Portugal, um país pequeno mas que fez grandes viagens. Ao fazê-las, levou a língua daqui, dessa ponta da Península Ibérica para várias partes do mundo. Uma delas é o imenso Brasil. […]
Eu não costumo ouvir os meus discos. Nem antigos, nem novos. Eu não gosto muito de me ouvir, não. Eu gosto de cantar, mas não gosto de me ouvir. Sempre acho que não saiu bem, que as gravações não são boas. Eu podia ter feito discos muito melhores. Podia ter feito, realmente, discos bons. […]
Eu me reconheço muito mais nas minhas fotos de antigamente do que nas de hoje. Nas de hoje eu passo o olho rápido. Não gosto nem de ver. Eu gostava quando eu era jovem. Ainda gosto. Acho bonito, sexy, atraente, interessante. Tudo. […]
Tenho a impressão de que todo o mundo – acho que Sartre dizia isso – quando pensa em si mesmo, como alguém, é um jovem adulto. Entendeu? Ninguém pensa em si mesmo como um bebé, que foi, ou como um velhinho, que vai ficando. Ninguém. Não é a pessoa.”
MPB.pt, Carlos Vaz Marques, Edições Tinta-da-china, Dezembro 2006