Archive for 2 Agosto, 2003
DANTE (?)
São sensações estranhas estas…
Nunca vividas antes, pelo menos com esta intensidade.
Lisboa teve ontem o dia mais quente de sempre (desde que há registos, desde há 130 anos), a atingir os 42º C.
Não é, de todo, uma coisa normal. Não é, de todo, normal, atingir os 47º C (na Amareleja).
Hoje, o dia teve o aspecto mais estranho que alguma vez me lembro, com o céu de várias cores (não se tratava de um arco-íris…), mas em tons ora cinzentos, ora alaranjados.
Não é uma brincadeira.
Agora, aqui onde escrevo, no interior, por trás das serras, vêem-se nuvens de fumo e o céu continua, a esta hora, com uma cor alaranjada.
Não estamos muito longe da visão de Dante.
É triste. É grave. É preocupante. É pena.
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“O DOSSIER DA VIDA”
A propósito de “Diário de Notícias”, em (mais uma) brilhante entrevista de Anabela Mota Ribeiro, hoje publicada no “DNa”, o Ministro do Trabalho e da Segurança Social, António Bagão Félix diz nomeadamente, entre outras ideias de grande beleza, que a vida do homem deve ter por objectivo responder ao “porquê?” e ao “para quê?”, mais do que ao “como?” e, mais adiante: “A felicidade não se faz querendo ter mais, faz-se querendo ter menos. Faz-se pela renúncia, não pelo excesso. Somos muito mais felizes quando temos de escolher.”
Não resisto a transcrever um extracto da entrevista, em que Bagão Félix fala do “dossier da sua vida”:
“A quem é que tem vontade de mostrar isto? À sua neta, que tem meses?
– Tenho muita vontade. Também para lhe ensinar geografia, política… Tenho aqui o ranking das cidades, distâncias percorridas. Já dei o equivalente, pelo ar, a 22 voltas à Terra pelo Equador, ou fiz 2,3 viagens à lua.”
O mais extraordinário é que tenha tempo para esta contabilidade.
– É aquilo que lhe disse: quanto mais se trabalha mais tempo livre se tem. Que a pessoa não está num estado entediante.
Sabe estar sem fazer nada?
– Não. É preciso um esforço brutal para não fazer nada.
Deixe-me voltar ao momento em que de repente se sente invadido pela presença de Deus. Pode acontecer quando está entretido a fazer um destes gráficos?
– Sim, absolutamente. Vou-lhe contar uma coisa. Tenho duas semaninhas de férias, vou para o Alentejo; uma das coisas que estou a antever como mais “gozoso”?: actualizar isto, que já não actualizo há um ano e meio. Tenho aqui os nomes dos 123 aeroportos onde estive; roteiro de regiões, províncias, estados, territórios, ilhas e ilhéus; onde é que andei de comboio, de embarcação, de carro, de autocarro, de helicóptero, de trenó, de camelo.
A partir daí pode reconstituir-se a sua vida toda.
– Toda. Tenho tudo escrito.
Não tem segredos?
– Não, não gosto de ter. Gosto de partilhar conhecimento. Gosto de redistribuir tudo.”
Um retrato humano de um político, que “cultiva o espírito, a inteligência, a cultura, o saber”. Que interessante seria se decidisse ter um “blogue”…
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TEXTOS PRÉ-BLOGUES / “DN JOVEM”
Há 15 anos, não existia Internet (!?).
Não havia portanto “blogues”.
Mas havia (ainda há…) o “DN Jovem” (no qual se revelou, por exemplo, Pedro Mexia).
E eu era jovem…
E assim, publiquei no Diário de Notícias, o meu primeiro artigo “a sério”: intitulava-se “Assimetrias”.
É esse texto “histórico” que hoje recupero, para uma “nova audiência”, num novo “veículo comunicacional”.
É geralmente reconhecido que a histórica dicotomia litoral-interior é uma realidade profundamente implantada na estrutura socioeconómica. Basta, para o confirmar, consultar qualquer estatística, por mais elementar que seja.
Todos sabemos, por exemplo, que houve uma deslocação da população do interior, por um lado, para o estrangeiro, através do fenómeno da emigração, e por outro, para o litoral, em particular para as áreas urbanas de Lisboa e Porto, cidades que centralizam a autoridade política e o poder económico.
Essa assimetria manifesta-se em muitos e variados campos; um deles, enquadrável no tema proposto, é o do futebol, enquanto desporto de multidões, acarretando grandes movimentações a nível financeiro.
Desta forma, temos, na época de 1988-89, na disputa do Campeonato Nacional da I Divisão de futebol, 16 clubes sediados no litoral (80 %), face a dois do interior (G. D. Chaves e CAF – Ac. Viseu), o que corresponde a 10 %, além dos insulares Marítimo e Nacional, ambos da Madeira.
Se alargarmos o campo de estudo até ao Campeonato Nacional da III Divisão, os números não oscilam muito: o litoral é sede de 134 dos 182 clubes concorrentes às três divisões (73,6 %), cabendo ao interior 41 clubes, apenas 22,5 %, sendo os restantes sete repartidos pelas Regiões Autónomas dos Açores (três representantes militando na III Divisão) e da Madeira.
É sintomático o facto de os distritos de Beja e da Guarda, além de Viana do Castelo, este do litoral, não terem qualquer representante na I e II Divisões, o que é mais estranho ainda no caso de Santarém, que chegou a ter, há pouco mais de dez anos, representação na I Divisão, por via do U. Tomar.
Outro aspecto se destaca nesta análise: a macrocefalia do futebol português, centralizado por completo, no que se refere a campeões da I Divisão, em apenas duas cidades, 44 títulos (81,5 %) para três clubes de Lisboa e dez (18,5 %) para um do Porto.
Todos estes números devem suscitar uma reflexão e o desejo de que os desequilíbrios de ordem económica e social sejam atenuados, de forma a permitir também uma expressão desportiva mais uniforme e condizente com padrões europeus, ao nível das Comunidades em que nos pretendemos integrar de forma plena.
15 anos depois, malheureusement, as coisas não se alteraram muito… mantêm-se os dois clubes da Madeira e os 16 representantes do litoral; porém, considerando que a competição foi reduzida a 18 clubes, deixou de haver (já desde há 3 anos), qualquer representante do interior do país!
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1901 – LIGAÇÃO TRANSATLÂNTICA
“O físico italiano Marconi efectua a primeira ligação transatlântica, via rádio, Estados Unidos – Europa. Receberá o prémio Nobel em 1909.”
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