Entrevista a António Guterres
1 Outubro, 2011 at 6:25 pm Deixe um comentário
«Porque é que não sente motivação para regressar à política? Foi uma má experiência?
Eu acho que na vida há diversos tempos, sabe… quando se escreve um livro, escrevem-se vários capítulos, e não se volta a escrever o primeiro capítulo, ou o segundo, e acho que, na nossa vida, nós temos várias coisas que são importantes. Eu comecei a minha actividade, e comecei-me a interessar pela política, por sentir que as acções como estudante, que desenvolvi, em bairros de lata de Lisboa, não, só por si, não eram resposta; que a resposta era uma resposta de natureza política…
Foi deputado muito cedo…
…mas depois também percebi… por causa da Revolução… mas depois também percebi que a política tem as suas limitações, e, de alguma forma, estou hoje a regressar à origem; mas penso que há uma linha, há um fio condutor nisso e acho que o que eu estou a fazer hoje é exactamente o que eu queria fazer nesta fase da minha vida. E acho que faz sentido, e acho que aquilo que aprendi na política é extremamente útil no contributo que hoje procuro dar, para que a minha organização seja tão eficaz quanto possível, para resolver os problemas das pessoas que… com que nos empenhamos.
Repare: embora nós tenhamos que manter uma estrita neutralidade, uma estrita imparcialidade – faz parte das nossas regras –, não podemos ter uma actividade política, a verdade é que ter uma experiência política ajuda muito. Até há bem pouco tempo, nós tínhamos elementos do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, nas nossas instalações na Síria, entrevistando iraquianos, para reinstalação, para poderem ir viver para os Estados Unidos, refugiados iraquianos.
Ora bem, a complexidade destas relações, como pode compreender – isto no tempo da Administração Bush –, exige uma experiência de natureza política; e, por isso, o facto de eu ter feito política como fiz na minha vida, nacional e internacional, acho que hoje me ajuda a, numa perspectiva de estrita imparcialidade, a resolver alguns problemas, e a criar condições, sobretudo, para que as pessoas com que nos empenhamos, aqueles que são os mais vulneráveis, dos mais vulneráveis, possam ter uma solução para o seu drama.
Por tudo isso que acaba de dizer, rejeita em absoluto uma candidatura presidencial?…
Eu não tenho, como já disse várias vezes, qualquer intenção de regressar à vida política portuguesa, acho que é um capítulo que fiz e que, hoje, está encerrado… Hoje estou noutro, e, neste momento, estou totalmente empenhado naquilo que estou a fazer…
Também já disse que acredita que o Secretário-geral da ONU vai ser reeleito… O que é que se imagina a fazer depois deste segundo mandato?
Não faço a mínima ideia, nem estou sequer preocupado… Bem, estando… também vai começar a ser tempo de pensar na reforma… mas, neste momento, não estou nada preocupado com isso; ainda tenho uma série de anos pela frente, e o que me preocupa é fazer o melhor possível o que estou a fazer.
Quando a gente começa a fazer grandes planos para o futuro, começa a atrapalhar aquilo que faz neste momento; e, neste momento, acho que aquilo que estou a fazer justifica que me dedique inteiramente a isso.»
(Entrevista de Sandra Sousa a António Guterres – Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados -, transmitida pela RTP, a 30.09.2011).
Para memória futura, aqui fica um excerto…
A forma, mais que sucinta (13 segundos!…), como respondeu à pergunta-chave não pode deixar de ser considerada reveladora.
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