Archive for 11 Dezembro, 2008
Blogosfera em 2008 (XI)
A 13 de Abril, o Correio da Manhã tratava do tema blogues de campanha: «Bloggo, logo existo… mas só em campanha» – «A blogosfera é, principalmente, um fenómeno de Marketing para os políticos à beira das urnas. Não a usam para interagir com o eleitorado. Depois das eleições há blogues ao abandono. A maioria das páginas na web sobre política é escrita por políticos que já não estão no activo ou por apartidários.»
‘Conseguimos” – escreveu Sócrates, no seu blogue, ao vencer as legislativas. Mas será que a blogosfera lhe prestou atenção ao partilhar este momento? Especialistas como José Pacheco Pereira defendem que “os blogues artificiais” não resultam. Mas a blogosfera já foi trampolim para muitos autores serem chamados a comentar política na imprensa. Que universo é este?
Na política há dois tipos de produtores de blogues: “Os políticos em campanha que acham fino fazerem um blogue, desde a Hillary Clinton [candidata às presidenciais dos EUA] ao Luís Filipe Menezes [líder do PSD]. São blogues ocasionais. Depois há os outros políticos e vou dar o exemplo do José Medeiros Ferreira [http://bichos-carpinteiros.blogspot.com], que era deputado [do PS], não falava, mas que fazia blogues – as análises políticas que fazia eram como blogueiro.” A descrição do professor universitário, especialista em Ciência Política, José Adelino Maltez é facilmente perceptível ao navegar-se por blogues dos principais lideres partidários ou ex-candidatos eleitorais.
José Sócrates criou o seu blogue (em http://josesocrates.blogs.sapo.pt) por altura do fórum do PS ‘Novas Fronteiras’, no final de Janeiro de 2005. Deu–lhe cunho político e agenda de campanha. Dia 23 desse mês, podia ler-se, talvez, o comentário mais pessoal do actual primeiro-ministro: “Hoje deve ser o último domingo mais ou menos descansado até ao dia das eleições. É preciso aproveitar o momento, mas também gastar algum tempo a preparar a entrevista de mais logo, ao Jornal da Noite da SIC.” Desde 22 de Fevereiro de 2005, o blogue não foi actualizado mais. A última mensagem dizia: “Conseguimos. Conseguimos.”
Nessas mesmas legislativas, o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, criou um blogue de campanha; tal como fez Morais Sarmento, do PSD, na corrida pela distrital de Castelo Branco. Nas presidenciais, Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa eram dois dos bloguers do momento. Mais tarde, nas eleições intercalares para a Câmara de Lisboa, Santana Lopes abriu um blogue descrevendo a alma de muitos políticos: “a blogosfera pode ser muito importante para quem não tem acesso a outros meios de comunicação. Graças a Deus, eu tenho. Hoje, penso sobretudo nos que querem comunicar com os outros e, não tendo outros meios, também não sabem, não podem, ter acesso a estas novas auto-estradas. Somos, mesmo, privilegiados” – escreveu, dia 10 de Julho de 2007, o ex-primeiro-ministro e ex-autarca da capital. Volvidos cinco dias, depois de ter ido votar, Santana desabafou: “Lisboa merece sentido de responsabilidade e sentido de grandeza. Entretanto, são 18h00 e intensificam-se os telefonemas dos jornalistas. Não me apetece atender, nem que seja o director do Sol!…”
Em Agosto de 2007, Luís Filipe Menezes corria pela liderança do PSD quando foi acusado de estar a plagiar a Wikipédia no seu blogue. Menezes desvalorizou o incidente e afirmou que era um assessor seu quem alimentava o blogue. Pouco depois foi extinto, sem que o hoje líder social-democrata tivesse escrito na primeira pessoa.
“Os blogues políticos artificiais não resultam – garante José Pacheco Pereira –, salvo em excepções como o ‘Pulo do Lobo’ [em http://pulo-do-lobo.blogspot.com] ou ‘Super Mário’ [http://mario-super.blogspot.com], que apoiavam Cavaco Silva e Mário Soares nas presidenciais. Tiveram sucesso porque eram escritos por pessoas que tinham experiência.” Para o comentador político e autor do ‘Abrupto’ (em http:// abrupto.blogspot.com) os blogues usados por políticos em campanhas eleitorais “não têm controvérsia, nem debate.” Além do mais, não estão inseridos num meio onde se deve falar de tudo sem pruridos. “O meu blogue tem entre 3000 e 5000 leitores por dia. O que é um número muito elevado” – afirma Pacheco Pereira. “As pessoas que lá vão são especiais, têm um papel importante na multiplicação da palavra e interessam-se pelo debate público.”
Para Adelino Maltez, que desde há muito tem o ‘Sobre o tempo que passa’ [http://tempoquepassa.blogspot.com], os blogues ocasionais não têm grande expressão eleitoral. “É um fenómeno de Marketing que não tem consequências na chamada blogosfera – que é um universo de dar e receber, e eles não entram neste circuito.” A popularidade também aqui se mede. Os mais conceituados bloguers são os mais citados. “O Pacheco Pereira, por exemplo, que sempre se manteve activo. Na área do PS, o Medeiros Ferreira; o Daniel Oliveira, na parte do Bloco de Esquerda; aquele grupo da revista Atlântico; aquela zona dos liberais, Carlos Abreu Amorim, etc; da ala esquerda do PS, Pedro Adão e Silva; há uma intervenção esporádica do grupo do Paulo Pedroso; mas há, sobretudo, apolíticos.”
“Foi convidado para comentar assuntos em jornais/rádios?” O investigador e professor na Universidade da Beira Interior, João Canavilhas, perguntou e 64 por cento dos bloguers de política respondeu que sim. Mais: 74,8 por cento afirmou sentir que tem intervenção cívica na sua comunidade.
Poucos dos que alimentam blogues se queixam de censura mas, segundo João Canavilhas, em 2004 parecia haver mais combates directos entre a esquerda política e a direita do que hoje. “Actualmente não é tão habitual, mas ainda acontece. Nesses dias o número de visitas e de comentários sobe em flecha.” Conclusões que reflectem o arrefecimento precoce nas discussões que a blogosfera fomenta, já que os primeiros blogues portugueses devem ter surgido no final dos anos 90.
Ainda hoje, indica o estudo ‘Bloguers e Blogosfera.pt’, do OberCom, que apenas um quinto dos portugueses sabe o que é um blogue. Este conhecimento ainda só é tido por metade dos utilizadores habituais da internet. Destes, um quarto afirma navegar na blogosfera – a maioria procura informar-se sobre temas específicos ou esclarecer a actualidade noticiosa. Nesta análise, os temas de ‘política’ correspondem à primeira escolha de 3,7 por cento dos utilizadores; já o ‘entretenimento’ atrai 40,8 por cento e 21,7 por cento dos internautas caça a vida pessoal dos VIP.
Na área mais institucional, enquanto que apenas meia dúzia dos 230 deputados à Assembleia da República está motivada para o sistema de blogues criado (em http://blogs.parlamento.pt), o eurodeputado Joel Hasse Ferreira criou o seu próprio blogue e até está no Myspace. “Claro que [me] aproximam, especialmente do eleitorado mais jovem ou com mais interesse pelas questões tecnológicas. A informação é disponibilizada, praticamente em tempo real, com intervenções colocadas após os debates no Parlamento ou noutras instituições e associações onde sou convidado a intervir”, conta o deputado do Partido Socialista Europeu.
À beira das urnas, os blogues ocasionais não trarão votos. Mas a comunidade internauta consegue encontrar nos blogues uma identidade forte que sensibilize para as questões políticas da actualidade. Entretanto, os norte-americanos já usam o ‘twitter’, que são mensagens ao estilo SMS de telemóvel enviadas para blogues. É o acompanhamento na hora dos candidatos, aliada hoje às eleições nos EUA. […]
Bruno Contreiras Mateus – Correio da Manhã
E, a 15, uma tomada de posição original, com os blogues portugueses do Second Life a anunciar uma “greve”, reclamando contra as novas politicas que regiam a utilização das marcas da empresa Linden Lab, proprietária da marca “Second Life”.
No dia 22, Daniela Major dava início ao Camâra dos Lordes, «um blogue onde espero que se fale de tudo com tudo e por tudo. Actualidade, política, desporto, teatro, cinema».
Já próximo do final do mês, era lançado “O futuro é agora”, blogue de apoio à candidatura de Pedro Passos Coelho à presidência do PSD (com uma duração efémera, tendo sido suspenso logo a 1 de Junho). Ainda a propósito desta campanha interna partidária, dava que falar o “falso blogue” em nome de Manuela Ferreira Leite, a candidata que viria a vencer essas eleições.
E, a encerrar o mês de Abril, o que terá sido o primeiro caso de resposta a comentários de leitores num artigo publicado num blogue, dada pelo autor com recurso a um vídeo (ou, nas palavras do próprio, “video-resposta a comentários” ou “video-comentário”).
Manoel de Oliveira – 100 anos
(foto via)
O cineasta português Manoel de Oliveira – ainda em actividade – completa hoje o seu centenário! PARABÉNS!
Uma vida repleta, em retrospectiva aqui.
– Lista de filmes realizados por Manoel de Oliveira:
- Longas metragens
“Aniki-Bóbó” (1942); “O Acto da Primavera” (1962); “O Passado e o Presente” (1971); “Benilde ou a Virgem Mãe” (1974); “Amor de Perdição” (1978); “Francisca” (1981); “Visita ou Memórias e Confissões” (1982); “Le Soulier de Satin” (1985); “Mon Cas/O Meu Caso” (1986); “Os Canibais” (1988); “Non ou Vã Glória de Mandar” (1990); “A Divina Comédia” (1991); “O Dia do Desespero” (1992); “Vale Abraão” (1993); “A Caixa” (1994); “O Convento” (1995); “Party” (1996); “Viagem ao Princípio do Mundo” (1997); “Inquietude” (1998); “A Carta” (1999); “Palavra e Utopia” (2000); “Porto da Minha Infância” (2001); “Vou Para Casa” (2001); “O Princípio da Incerteza” (2002); “Um Filme Falado” (2003); “O quinto império – ontem como hoje” (2004); “Espelho mágico” (2005); “Belle Toujours” (2007); “Cristóvão Colombo – O Enigma” (2007); “Singularidades de uma rapariga loura” (em rodagem).
- Curtas metragens
“Douro, Faina Fluvial” (1931); “Estátuas de Lisboa” (1932); “Hulha Branca – Empresa Hidro-Eléctrica do Rio Ave” (1932); “Em Portugal Já se Fazem Automóveis” (1938); “Miramar, Praia das Rosas” (1938); “Famalicão” (1940); “O Pintor e a Cidade” (1956); “O Pão” (1959); “A Caça” (1963); “Villa Verdinho – Uma Aldeia Transmontana” (1964); “As Pinturas do Meu Irmão Júlio” (1965); “Lisboa Cultural” (1983); “Nice – À Propos de Jean Vigo” (1983); “Simpósio Internacional de Escultura em Pedra – Porto (1985); “A Propósito da Bandeira Nacional” (1987); “En une Poignée de Mains Amies” (1996); “A vida e a morte: “Romance de Vila do Conde”, “O poeta doido, o vitral e Santa Morta” (1999, remontagem); “Momento, uma canção de Pedro Abrunhosa” (2002); “Do visível ao invisível” (2005); “O improvável não é impossível” (2006); “Rencontre unique” (2007, curta metragem do filme colectivo “Chacun son cinéma”).