"FAIT-DIVERS"
12 Abril, 2007 at 8:58 am 5 comentários
Parece estranho que – num país em que há tantas questões (realmente importantes) a debater, tantas medidas de modernização a adoptar e a concretizar – tantos se ocupem e concentrem as suas energias com um fait-divers.
Dito isto – não tendo, até agora, querido alinhar em “julgamentos sumários”, mesmo sem ouvir o “acusado” – a ideia que ressalta da entrevista de ontem de José Sócrates (nunca a vida académica de uma pessoa terá sido tão escrutinada em Portugal!…) é a de que uma parte do seu percurso académico (em concreto, o último dos seus 6 anos de estudos superiores – a nível de Bacharelato; Curso de Estudos Superiores Especializados – CESE, o qual pode conferir diploma equivalente a licenciatura; e conclusão de licenciatura – precisamente o da conclusão desse grau de ensino) registou algumas atribulações – não obstante, não sendo possível demonstrar que José Sócrates tenha sido de alguma forma favorecido nessa fase final do seu curso, parece-me pouco curial estar a questionar uma eventual situação de favorecimento.
Para além disso, parece claro que o Primeiro-Ministro usou (ou – pelo menos, por omissão – deixou usar), em determinada fase do seu percurso político, nomeadamente enquanto Deputado, uma qualificação de que só posteriormente viria a dispor, a de licenciado em Engenharia (sendo que não disporá da qualificação de Engenheiro, dado não estar inscrito na respectiva Ordem – a justificação do “uso social” da designação de Engenheiro não deixa de ser questionável…).
Terá cometido um erro? Parece inequívoco que sim.
Poderá / deverá tal erro afectar o seu desempenho político, nomeadamente o seu actual cargo de Primeiro-Ministro? Em minha opinião – e concluindo como iniciei -, o País necessita de convergência das energias dos portugueses para superar as suas dificuldades, limitações e problemas e não de continuar a “distrair-se” com fait-divers.
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1.
cap | 14 Abril, 2007 às 4:02 pm
Leonel, desculpa não poder concordar contigo: o sinal mais preocupante do declínio dos valores humanos e sociais reside precisamente na relativização, na desculpabilização da ausência e da menorização desses mesmos valores.
O que está em causa aqui, não é um problema menor (há outros bem mais graves ou importantes no país? concordo que sim), a eufemística falta à verdade, se aconteceu; a usurpação do que não se é ou não se tem, numa figura pública (não necessária ou exclusivamente política) é grave. Muito grave.
Num país “a sério”, onde a honra antece os interesses, tudo isto teria redundado numa demissão ou, na mais suave das alternativas, num cabal esclarecimento da situação, com aquela coisa a que hoje em dia se chama direito ao contraditório. Sentes-te esclarecido? Convencido? Sem sombra de dúvida? Eu, infelizmente, ainda não.
2. Blog Operatório :: Ceci n’est pas un fait-divers :: April :: 2007 | 14 Abril, 2007 às 4:06 pm
[…] Comentário deixado aqui. Entrada duplicada. […]
3.
Leonel Vicente | 16 Abril, 2007 às 9:25 am
Sem querer (nem poder…) perder muito tempo com esta questão, procurarei responder sinteticamente (com base no que, até agora, foi “demonstrado”):
1. Sinto-me esclarecido, convencido e sem sombra de dúvida que José Sócrates usou (e/ou deixou que outros usassem) um título (Engenheiro) de que não é titular.
2. Sinto-me esclarecido, convencido e sem sombra de dúvida que José Sócrates “emendou” uma declaração que apresentara na Assembleia da República, em que constava a indicação “Engenharia”, apondo-lhe a indicação “Bach.”.
3. A primeira situação, justificou-a como decorrendo de uma “prática social”. Cabe a cada um de nós “aceitar” ou não essa prática. Por mim, considero-a algo abusiva. Todavia, também não fica bem que quem tenha “telhados de vidro” venha publicamente “lançar pedras” contra o carácter de outrém.
4. A segunda situação, procurou justificá-la como uma precisão, no sentido de maior rigor. Também só aceita esta justificação quem quiser. Por mim, obviamente, houve uma primeira declaração que não era correcta / rigorosa. Até agora, é este o maior “pecado” (conhecido) de José Sócrates. Foi pior a “emenda que o soneto”?
5. Sobre as consequências políticas a extrair desta situação…
Uma eventual demissão “ficaria bem”, como sinal de desapego do poder e como “lavagem de honra”.
Finalizo com algumas interrogações:
Mas, por outro lado, não seria entendida (uma vez mais) como uma “desistência” ou “abandono do barco”?
Pode / deve Portugal permitir-se “dar-se ao luxo” de esbanjar recursos para fazer novas (com toda a probabilidade, inúteis) eleições, ganhando com isso mais um período de vários meses de instabilidade política e de “paralização” do país.
Valerá a pena um trade-off desta natureza?
Com o sistemático desacreditar da classe política, não se estarão a criar condições para uma situação de ingovernabilidade geral?
4.
cap | 16 Abril, 2007 às 6:44 pm
Lembras-te do célebre slogan (acho que foi sobre o Nixon…): “Você comprava um carro em segunda mão a este indivíduo?”
Talvez o problema mais greve deste país seja mesmo o da falta de “mulheres de César” em todos os quadrantes políticos. Não é a opinião publica (nem a publicada) quem mais tem contribuído para este desacreditar nos aparelhos partidários que se vão revezando no poder. E, como são eles próprios quem decide as regras do jogo, não veremos alterações no actual sistema de escolha dos nossos “representantes”, o que poderia alterar este estado de coisas.
Falas de ingovernabilidade? Durante a maior parte destes últimos sessenta anos a Itália viveu-a e… venceu-a. Não são eles quem está mal, somos nós.
Quanto à questão da eventual demissão, ambos sabemos que haveria sempre críticos, fosse qual fosse a decisão.
Abraço e desculpa-me o pequeno roubo de tempo a que te sujeitei.
5.
asus Eee | 29 Setembro, 2011 às 11:09 pm
You are truly right on this one