“EQUADOR PASSA EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE"
29 Agosto, 2005 at 8:40 am 1 comentário
O livro “Equador” foi o tema da primeira entrada deste blogue; foi tal o entusiasmo com que li o romance que, logo aquando da sua publicação, senti um irreprimível impulso a escrever sobre ele, a divulgá-lo, recomendando-o a todos como uma obra imperdível. Miguel Sousa Tavares tem todos os motivos para sentir orgulho do seu trabalho e pretender preservá-lo.
A companhia de teatro “Fatias de Cá” (criada em Tomar em 1979), grupo de grande humildade, onde “todos fazem de tudo”, utilizando de uma forma interactiva o património construído (de que é exemplo o Convento de Cristo) e paisagístico, tem já uma longa história de labor em prol da descentralização de acções culturais, tendo levado à cena, entre muitos outros espectáculos, obras como T de Lempicka, O Nome da Rosa, Rapariga com brinco de pérola, Diálogo das Compensadas, Tempestade, Sonho de uma noite de Verão e A Flauta Mágica, de autores que vão de Karl Valentim a Choderlos de Laclos, passando por Dario Fo, Frati, Gil Vicente, Yourcenar, Shakespeare, Lorca, Mozart.
Desde há meses que o grupo desenvolvia o projecto de levar à cena o romance “Equador”, teatralização da obra de Miguel Sousa Tavares, o que, necessariamente, seria do conhecimento do autor.
Um mês antes da estreia, o autor não permitiu a adaptação teatral do seu romance.
Dado o investimento já realizado, nomeadamente em adereços e guarda-roupa de época, decidiu o grupo criar uma nova história, passada no mesmo local e época – e, obviamente, com uma temática comum à do livro – a que deu o título “EQUADOR passa em S. Tomé e Príncipe”, em cena de 19 de Agosto a 4 de Setembro, às Sextas, Sábados e Domingos, às 19h18, no Parque Ambiental de Constância.
Sendo admirador do trabalho de ambas as partes, não poderia deixar de expressar o meu sincero lamento por esta situação.
É pena que Miguel Sousa Tavares não tenha permitido a adaptação teatral da sua obra; é minha firme convicção que todos teríamos a ganhar com isso: autor, leitores, companhia de teatro e espectadores.
Não terá agido correctamente o “Fatias de Cá”; a adaptação “forçada” a que recorreu não deixará de ser apercebida como uma forma de oportunismo, eventualmente com consequências a nível jurídico, dada a possível alegação de plágio.
Mas tal como considero que o “Fatias de Cá” não tomou a decisão correcta, não posso também concordar com aqueles que, ignorando o percurso da companhia e o seu notável papel ao nível da promoção do desenvolvimento cultural de uma região, pretendam, mesmo que involuntariamente, arrastar o seu nome para a “lama”.
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1. Joaquim Margarido | 13 Setembro, 2005 às 4:51 pm
Caro amigo: não lhe escondo, desde já, que sou amigo do Fatias de Cá e dos seus membros. E que, sendo-o, procuro a equidistância suficiente para em situações lamentáveis como está em redor do “Equador”, conseguir ver para além de emocionalidades que só retiram clareza. Por isso, além de tudo o que refere, e bem, sabia que há uma autorização tácita, por escrito, por parte do Miguel Sousa Tavares, para que a companhia avançasse com o projecto, apenas com a ressalva de ele próprio, Miguel, não ter tempo ou disponibilidade para acompanhar a evolução da teatralização da obra? Creio que isto altera um pouco os dados da questão. Sei que isto poderá dar um processo em tribunal, mas ao contrário, uma vez que o encenador, o Carlos Carvalheiro, ao ter referido na imprensa a existência da carta, foi de imediato apodado de “perigoso aldrabão” por parte do Miguel, sentindo-se, portanto, lesado? Ou de como o velho ditado segundo o qual o feitiço se vira contra o feiticeiro parece ser verdadeiro.
Um abraço.
Joaquim Margarido