Archive for 27 Setembro, 2012
«O Orçamento que não queremos querer»
Baixar a despesa do Estado tem de ser mais do que cortar salários à Função Pública e pensões. Se a troika nos baixasse os juros, como aqui se tem defendido, seria mais fácil. Mas mesmo assim, é preciso reduzir a despesa primária. Por muito moralizador e importante que seja eliminar meia dúzia de fundações do Estado, isso pesa pouco na conta final.
“Cortar despesa” é desmamar muitas clientelas políticas. Reformar a administração local a sério é muito mais do que fundir freguesias, é desempregar muitos políticos. Baixar os custos do Estado é fechar institutos que não servem para nada senão para pagar os salários de quem lá anda.
Reestruturar empresas públicas a sério é muito mais que antecipar as reformas a duas mil pessoas e aumentar brutalmente as tarifas. Mesmo assim, esta é a parte fácil de exigir.
A parte difícil é outra. É perceber que “cortar despesa” além das reduções temporárias de salários significa fazer reduções brutais como provavelmente só o Ministério da Saúde fez este ano. E com esse custo social. Nem despedir todos os políticos parasitas bastaria. “Cortar despesa” é reduzir serviços nos hospitais, nas escolas, nos tribunais, sítios onde já há falta de meios. “Cortar despesa” é tirar dinheiro a muita gente, médicos, professores, militares ou polícias. “Cortar despesa” é fechar partes de empresas públicas e organismos do Estado. “Cortar despesa” é abrir um programa de rescisões entre os funcionários públicos, o que nunca foi feito – e que numa economia em recessão é dramático.
(Pedro Santos Guerreiro, Jornal de Negócios)