"O Sétimo Selo" (I)
7 Novembro, 2007 at 1:34 pm 4 comentários
A obra literária de José Rodrigues dos Santos apresenta uma característica transversal a todos os seus livros: desde os ensaios “Crónicas de Guerra” (2 volumes, “Da Crimeia a Dachau” e “De Saigão a Bagdade”), passando pelos romances, como “A Filha do Capitão” (tendo por temática a I Guerra Mundial), “O Codex 632” (elaborando sobre as origens de Cristóvão Colombo) ou “A Fórmula de Deus” (recorrendo a complexos conceitos de Física e Cosmologia, mesclando ciência com uma dimensão espiritual), a componente “didáctico-pedagógica” não deixa nunca de estar presente. Com todas estas obras, sempre aprendemos algo.
Necessariamente, assim teria de acontecer também com “O Sétimo Selo”, que – lamento, pela consideração e respeito que me merece o autor – me vejo compelido a qualificar como um romance falhado, que poderia – com vantagem para todos, leitores e autor (não obstante o inevitável prejuízo da vertente comercial) – ter resultado em novo ensaio em potencial, cujo conteúdo e mensagem só teria a ganhar em credibilidade caso fosse essa a forma adoptada.
Mais do que em qualquer dos seus anteriores romances, ressalta em “O Sétimo Selo” a escrita “ao correr da pena”, de um jacto, procurando explorar o “filão Dan Brown” (revelando-se inevitável a associação do prólogo com o início de “A Conspiração”), com o eterno herói Tomás de Noronha (perito em criptanálise e línguas antigas – ficamos sem perceber exactamente qual o fundamento do seu recrutamento para esta missão, tão frágil se revela o argumento da charada do “número da besta”, o mítico 666) envolvido em novas e rocambolescas aventuras, vivendo uma espécie de romance (?) – aqui, perfeitamente “colado com cuspo” – com uma sempre remodelada (e algo inverosímil) co-protagonista.
Não obstante as cerca de 500 páginas deste livro, a sensação que perdura é a de um apressado corropio, desde Coimbra à Austrália, passando pela Antárctida, Viena e Sibéria.
Pretendendo embrulhar a vital mensagem do aquecimento global e dos efeitos da exploração e consumo de petróleo como força motriz do desenvolvimento económico da nossa civilização numa obra de cariz romanesco, acabam por ressaltar, tendo de ser sublinhadas, as suas inconsistências ou incongruências, de que são mais cabais exemplos a (em minha opinião) infeliz forma como é introduzida na trama a questão geriátrica (com o protagonista, a assumir a perfídia de, traiçoeiramente, internar a mãe num lar de idosos), para além da também falida pressuposta relação romântica do protagonista.
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1. Memória Virtual | “Rio das Flores” (I) | 19 Novembro, 2007 às 2:26 pm
[…] que aqui apresentarei a propósito de “Rio das Flores”, do forçoso cotejo deste livro com o mais recente romance de José Rodrigues dos Santos, é mister assinalar que se trata de obras cuja escrita se situa em patamares bastante diferentes, […]
2.
Ricardo | 20 Janeiro, 2008 às 7:22 pm
Subscrevo.
3.
Antonio Fernandes | 9 Março, 2009 às 10:48 pm
subscrevo a 1º. opinião sobre O SETIMO SELO. Quem conhecer as obras de Dan Brown sente-se defraudado pela colagem, com as imagens do Indiana Jones na salada.
Depois deste não sei se conseguirei ler outro livro de José Rodrigues que, pelas suas possibilidades profissionais poderia ter contado as cinco historias de forma perfeitamente separadas.
Fosse a policial , a do romance fácil, a do problema da terceira idade,a do aquecimento global e ainda a historia do misterioso numero da Besta, como já foi dito.
Temos por habito dizer mal sem que isso pouco afecte os autores mas a ideia é sugerir-lhes que, e se o fazem que o façam bem.
José Rodrigues dos Santos infelizmente não é o único a construir este tipo de lego.
Actualmente ha muitos ´La fontaines’ ligados á literatura portuguesa só que desta vez são alguns dos interpretes das fábulas (sem ofensa)que escrevem.
4.
bruno | 16 Maio, 2009 às 5:54 pm
alguem me arranja o powerpoint do livro?