Archive for 20 Novembro, 2007
"Rio das Flores" (II)
Num prometedor arranque, Miguel Sousa Tavares proporciona-nos páginas de elevado padrão, como as que nos introduzem o protagonista – Diogo Ascêncio Cortes Ribera Flores, nascido em 1900, filho de Manuel Custódio e neto de uma sevilhana – que começamos por encontrar em Sevilha, na sua iniciação à vida adulta, como intróito à Feira tauromáquica (“Partira com o pai para Sevilha com quinze anos e três meses de idade e regressara, treze dias depois, feito um homem“).
É com brilhantismo que nos é descrito o duelo na arena da Real Maestranza, naquele 30 de Setembro de 1915, entre duas figuras maiores do toureio a pé, José Gómez Ortega (conhecido por Joselito “El Gallo” ou “Gallito”) e Juan Belmonte, cujas admiráveis actuações conseguimos visualizar tal a imagética da escrita, consagrando os respectivos “domínio natural” e temple.
Tal como a força da imagem que decorre de trecho de um diálogo entre Diogo e o seu irmão mais novo Pedro – cujo pensamento político se situa nos antípodas, alinhado com o Estado Novo e a União Nacional, com passagem pela Guerra Civil de Espanha, ao lado dos Nacionalistas / Falangistas, combatendo os Republicanos -, quando confidencia: “Tenho medo de uma coisa que tu não temes: que, depois de conhecer a liberdade, de ter viajado e vivido em países livres, não me volte a habituar a viver de outra maneira. Tenho medo que a liberdade se torne um vício, enquanto que agora é apenas uma saudade“.
Ou, ainda, a descrição da viagem inaugural – a 1 de Abril de 1936 – do imponente Hindenburg, o dirigível que, a partir da Alemanha, conduz o protagonista à descoberta do fascínio do Brasil, com chegada à cidade maravilhosa do Rio de Janeiro – e, paralelamente, a uma viragem de 180º na sua vida.
E, também, noutro plano, a história de Luís Carlos Prestes, e suas iniciativas na luta contra o regime de Getúlio Vargas no Brasil.