"E DEUS PEGOU-ME PELA CINTURA" (IV) – PRÉ-PUBLICAÇÃO
22 Fevereiro, 2007 at 8:33 am Deixe um comentário
– Crê que a dona da casa teria autorizado essa busca? – Obviamente.
– Sabe que o histórico do Internet Explorer, tenho-o ali comigo (o inspector aponta para o canto da divisão), refere onze sites visitados durante o período em que o senhor Guilherme Moutinho confessa ter estado na casa de Rute Monteiro?
– Não creio que tenham sido tantos…
– O material tem sempre razão, palavra de inspector. Continuemos. Mexeu nas estantes? – Não.
– Mexeu em algum livro, ou levou mesmo consigo algum livro? – Não.
– Mas, olhe senhor Moutinho, há impressões digitais nas estantes, em dois livros e numa espécie de arquivo que estava na segunda prateleira do lado direito… que não coincidem nem com as da dona da casa, nem com as dos assaltantes.
Guilherme alarmou-se, repentinamente. – Assaltantes?
– Sim, senhor Guilherme Moutinho. A casa de Rute Monteiro foi assaltada no passado dia 19 de Outubro. Temos tido um Outono muito movimentado. Repito, portanto, não mexeu nas estantes ou em livros, em nada?
A imagem de um livro e dos sublinhados veio-lhe então à cabeça.
– De facto, lembro-me agora, esta minha memória…, lembro-me agora de ter mexido num ou noutro livro. – Porquê?
– Não sei. Tentei ver o que é que a Rute andava a ler.
– Não a conhecia, portanto, muito bem?
Guilherme achou a questão tão idiota quanto perspicaz. E sentiu-se estranhamente afectado.
– Não nos víamos há 30 anos. Foi um reencontro fulminante.
Guilherme sentiu um verdadeiro aperto na garganta, um arrepio que o consumiu de alto a baixo, mas a frieza logo reatou a gravidade e a impassibilidade do rosto. Felizmente, o questionário aproximava-se do final.
“E Deus Pegou-me Pela Cintura” – Luís Carmelo
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