UMBERTO ECO – O PÊNDULO DE FOUCAULT (XII)
“Ora bem, o que respondem os acusados quando são postos perante estas afirmações?
Geoffroy de Charney, o que depois morrerá na fogueira com Molay, diz que sim, que lhe aconteceu, renegou Cristo, mas com a boca, não com o coração, e não se lembra se cuspiu ou não no crucifixo porque naquela noite fizeram as coisas à pressa.
Quanto ao beijo no traseiro, também lhe aconteceu, e ouviu o preceptor do Auvergne dizer que no fundo era melhor ter uniões com os irmãos que comprometer-se com uma mulher, mas ele contudo nunca cometeu pecados carnais com outros cavaleiros.
Portanto, sim, mas era quase uma brincadeira, ninguém ligava muito a isso, os outros faziam-no, eu não, concordava só por educação.
Jacques de Molay, o grão-mestre, não o último do grupo, diz que quando lhe deram o crucifixo para lhe cuspir em cima, ele fingiu e cuspiu para o chão.
Admite que as cerimónias de iniciação eram desse género, mas – imagine-se – ele não sabia dizê-lo com exactidão porque durante a sua carreira tinha iniciado pouquíssimos irmãos.
Outro diz que beijou o mestre, mas não no cu, só na boca, mas que o mestre o tinha beijado a ele no cu.
Alguns confessam mais do que o necessário, não só renegavam Cristo como também afirmavam que era um criminoso, negavam a virgindade de Maria, no crucifixo até tinham urinado, não só no dia da sua iniciação, mas também durante a semana santa, não acreditavam nos sacramentos, não se limitavam a adorar o Baphomet, adoravam até o diabo sob a forma de gato.”
P. S. Obrigado ao Nuno, um “companheiro” desde o primeiro dia.
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